Amnésia [Destiel]

Prólogo

A neve caía no chão deixando a pista escorregadia.

Dean dirigia devagar porque os pneus do Impala não foram trocados a tempo do inverno chegar. Ele já tinha visto que a temporada de nevasca daquele ano seria intensa, mas não imaginava que chegaria tão cedo. Um clássico de rock de época começava a tocar no rádio, fazendo-o bater os dedos no volante no ritmo da música enquanto a sua voz saía baixa para seguir as letras intensas do cantor em meio à guitarra e bateria.

A noite estava escura e o Winchester não conseguia ver mais nenhum carro na estrada, mas entendia, afinal, quem seria louco o suficiente para sair de casa em um clima como aquele? Apenas por imaginar que em breve chegaria na sua incrivelmente e aconchegante casa com comida para uma semana inteira o fazia quase ter um orgasmo.

O ronco do motor do carro soava à medida que ele colocava o pé no acelerador. Dean freou bruscamente ao ver alguma coisa no meio da estrada. Estava de noite e, por causa da tempestade congelante, ele não conseguia ver direito o que era. Com certeza se tratava de algum filhote de cervo que fora atropelado por causa da visão estupidamente ruim.

O Winchester parou o Impala e desligou o rádio que começava a tocar outra música do The Beatles. A coisa estava exatamente no meio do caminho e, mesmo não sendo um fã dos animais, Dean não passaria por cima dele. O único jeito era sair e tirá-lo da sua frente para acabar a viagem.

Quando o Winchester abriu a porta, sentiu o vento congelante e forte quase o levar ao chão. Se fosse algum cervo, ele não tinha dúvidas que estaria congelado e morto. Quando deu o primeiro passo, sua bota afundou na neve, deixando-o preso. Levantou o pé outra vez, começando a andar na direção do animal.

A sua visão era quase nula, estava pensando seriamente em voltar para o carro e esperar até que a tempestade diminuísse, mas já estava quase no meio do caminho e não valeria a pena retornar. O seu cabelo estava totalmente branco e o frio penetrava em sua pele, fazendo-o tremer. Ele apenas torcia para não pegar um resfriado, seria um saco.

Dean levou as mãos em concha até a boca e soprou ar quente entre os seus dedos que começavam a ficar congelados. Após dar mais alguns passos, arregalou os olhos abrindo a boca em surpresa e espanto pelo que estava vendo. Era uma pessoa, uma pessoa no meio de toda aquela neve. Com certeza aquilo não se passava de um cadáver, nenhum ser humano duraria muito tempo naquela condição. Ele levou a mão até ao bolso para pegar o celular e avisar a polícia do corpo, mas não o sentiu — estava dentro do Impala.

— Droga! — xingou em voz alta pressionando a mandíbula.

Era mais fácil retirar o defunto do meio do caminho, ligar para a polícia e ir embora. Dean respirou fundo e deu mais alguns passos difíceis até ao corpo, aproximando-se cada vez mais e se abaixando com curiosidade. O que viu fez o seu coração se apertar. O homem era jovem, talvez nos seus trinta e alguma coisa. O desconhecido usava um terno chique, o que fez o Winchester pensar em como uma pessoa que usava essas roupas parou em um lugar como aquele.