(YOON ON)
Foi com satisfação que vi a expressão de surpresa no olhar do mauricinho. Ele nunca esperava que fosse me encontrar outra vez, ainda mais em uma situação como aquela. Tenho certeza que ele já tinha percebido a ausência de seus documentos e cartões e deveria estar desesperado em busca de sua carteira. Não seria surpresa se ele já tivesse ido até a lanchonete buscá-la nos achados e perdidos.
Eu não confiava em lojas e restaurantes para guardar as coisas dos clientes, desde que uma vez alguém pegou uma mochila que eu tinha esquecido no cinema. Alguém foi a sessão de Achados & Perdidos do cinema e disse que a minha mochila pertencia a ela. Eu soube disso depois, quando eu mesmo fui lá e soube que a mochila encontrada já havia sido "devolvida ao dono". Mas como poderia se o dono era eu?
Enfim, eu tinha visto no dia anterior que ele era estudante da faculdade de Medicina, então tinha decidido que logo pela manhã iria procurar por ele e devolver sua carteira. Apenas no final da manhã, consegui descobri onde ele estava e corri para o corredor de salas de Anatomia, para aguardar ele sair e fazer a devolução.
Eu estendi a carteira para o rapaz e fiquei esperando ele pegar, talvez me dizer algum desaforo e ir embora. Mas, ao contrário do que eu imaginava, ele estava completamente parado, sem dizer uma única palavra. O que estava se passando pela cabeça dela? Era algo que eu não podia sequer imaginar, não conhecia pessoas ricas para saber sobre o que elas pensavam.
- Você vai pegar sua carteira ou não? – disse, indo até ele e enfiando a carteira na mão dele.
- Onde você achou ela? – ele me perguntou.
- No chão, pouco depois de você ir embora.
- E por que não a deixou nos achados e perdidos?
- Não confio.
- Nem do local onde trabalha? – ele insinuou.
- De lugar nenhum. – respondi, de maneira definitiva.
Dei as costas e já estava me preparando para ir embora, quando fui surpreendido mais uma vez naquela manhã. Ele correu atrás de mim, segurou meu braço e me fez parar.
(TALAY ON)
- Obrigado! – eu disse.
Não gostava daquele menino, arrogante e cheio de conceitos formados sobre todo mundo, mas também não podia ser mal agradecido. Eu podia reclamar por ele ter aberto a minha carteira ou outras coisas, mas sentia em meu íntimo que o certo era fazer um agradecimento e deixar o ranço que eu tinha dele para trás. Afinal, não era como se eu fosse continuar vendo-o em minha vida.
Percebi que ele era do Instituto de Engenharia, que ficava em outra localidade do campus. Eu praticamente nunca precisava ir até lá, então não era como se nós frequentássemos os mesmos lugares.
- Tudo bem. Era o certo a se fazer. – ele me respondeu, dessa vez usando menos hostilidade em sua voz.
- Nunca pensei que você fosse esse tipo de pessoa.
- Não é só porque sou pobre que eu vou ser ladrão. – ele se ofendeu.
- Não foi isso que eu quis dizer. – respondi, tentando manter toda a calma que conseguia. – O que quero dizer é que nunca pensei que você fosse ter todo esse cuidado com uma coisa que não é sua. Mesmo não confiando em achados e perdidos, poderia ter colocado a minha carteira lá, nós sequer nos gostamos. Por isso, de verdade, sou muito grato.
Ele me olhou como se estivesse tendo problemas para entender o que eu estava dizendo. Talvez estivesse em dúvidas de que eu seria capaz mesmo de dizer palavras bondosas como aquelas. Ontem eu não estava em um bom dia e acabei descontando parte do que sentia nele.

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(des)encontros
FanfictionTalay é um jovem tailandês que está completamente fechado para o amor, desde que teve seu coração partido. Ele acaba de entrar na faculdade de medicina e vai morar em um prédio próximo da universidade. Lá ele conhece o extrovertido Yoon, estudante d...