(des)encontros

#29

(PERTH ON)

Antes de sair, Perth queria dar uma última olhada em Yoon. O mais velho estava dormindo e ele não tinha intenção de acordá-lo, mas estava muito grato pelos últimos dias que os dois tinham passado. Era bom estar com alguém sem aquela sensação de que estava se metendo na história de uma outra pessoa – e ele evitou pensar em Talay naquele momento, porque sabia que seu coração ainda doeria.

A conversa que havia tido com Yoon lhe ajudou a entender como se comportar com os seus pais. Era hora de enfrentar alguns demônios que ele tinha enterrado e parar de fugir de problemas que não lhe cabiam. O que os seus pais fariam com aquela informação não era de sua conta. Ele não podia controlar a reação dos outros, mas estava cansado de segurar o mundo em suas costas.

Perth caminhou até a cama e deu um beijo na testa de Yoon. O mais velho sorriu, mas não abriu os olhos – o que deixou o mais novo feliz. Ele não saberia o que dizer a Yoon caso o outro acordasse. O rapaz fechou a porta com cuidado: lidaria com aquele problema depois.

Há muito tempo, Perth vinha transformando Yoon e Talay nos principais problemas de sua vida, assim não precisaria encarar o que realmente estava lhe incomodando. Ele foi refletindo sobre isso durante todo o caminho de casa. Ele riu ao pensar naquela palavra. Seria mesmo a casa dos seus pais o lugar que podia chamar de casa? Ele se sentia confortável lá como havia se sentido durante os últimos dias na casa de Yoon? Talvez o segredo que guardava de sua mãe tinha suprimido aquela sensação de conforto que antes o lugar lhe proporcionava.

Era hora do almoço quando Perth entrou em sua casa. Já havia algumas semanas que ele não pisava os pés ali e sentiu-se como o estranho invadindo a residência de outras pessoas.

— Filho, você por aqui! — Era a voz de sua mãe, o que pegou o rapaz de surpresa.

Ele olhou para sua mãe por um momento, tentando entender o que estava sentindo ao vê-la novamente. Era um misto de sentimentos, uma vontade de correr para abraçá-la e um sentimento de que não era digno de sentir-se protegido em seus braços.

— Precisamos conversar, mãe — Perth disse, olhando sério para ela, o coração batendo acelerado em seu peito.

— O que aconteceu, meu filho? Você está bem?

A mulher se aproximou e abraçou o filho, que não retribui o gesto. Ele queria poder se sentir confortável com aquilo, mas simplesmente não conseguia. O garoto se afastou, e a atitude deixou sua mãe desconfiada.

— O que aconteceu, meu filho? — a mulher repetiu.

— Eu tenho algo para lhe contar, mas não sei como fazer isso.

— Certo... — o tom dela era preocupado, mas a mulher tentou esconder do rapaz. — Vamos nos sentar aqui na sala e você começa do começo. Você sabe que, seja lá o que for, eu vou tentar entender, ok?

— Eu espero que você não me odeie...

— Eu jamais odiaria você, Perth.

E com essas palavras de sua mãe, que mais pareciam uma promessa, Perth despejou toda a verdade que havia descoberto nas últimas semanas. Sua mãe ouvia a história impassível, apenas tentando entender o que estava acontecendo. A verdade era algo que ela não imaginava.

Mas Perth tinha mais para contar. Ele não queria falar apenas sobre o seu pai, pensou que era o momento de falar sobre ele mesmo. E quando pensou que já tinha despejado tudo o que pesava seu coração, outras verdades escaparam de sua boca.

— Eu sou gay, mãe.

A mulher ouviu aquele desabafo com um pouco de choque. Não é que ela nunca tivesse pensado sobre o assunto, mas nunca havia considerado verdadeiramente aquilo. Contudo, no meio de tantas coisas que havia ouvido, aquela parecia ser a menos chocante de todas as revelações.