As luzes o incomodaram. É estranho abrir os olhos, mas fazemos isso todos os dias quando acordamos. Para Perth, a sensação foi a mesma de todas as manhãs, mas seu corpo dolorido lhe dizia que nada era igual.
E não era.
Pouco depois uma enfermeira, seguida de um médico, seguido de sua mãe, seguida de mais uma enfermeira. Uma legião de perguntas que deixavam Perth desorientado. Ele não sabia o que responder ou para quem olhar, mas identificou que sua mãe estava chorando. Essa cena voltava à sua mente com muita frequência.
Mas tinha acontecido já há algum tempo.
Quando Poy lhe disse que Talay vinha visitá-lo na manhã seguinte, Perth não soube o que pensar. Se fosse há algum tempo, ele estaria com o coração disparado, a ansiedade despertada e um pensamento fixo: como não se perder nas palavras quando estivesse conversando com a pessoa que amava. Acontece que Perth não tinha mais certeza se amava Talay.
Ele ainda lembrava da primeira vez que tinha conhecido o garoto. O sorriso, o olhar fixo, a coragem de salvá-lo em um dia em que se sentia perdido e necessitado. Talay tinha se transformado em seu herói. A pessoa que ele procurava quando estava perdido, quem desejava impressionar e por quem acreditava que precisava melhorar.
Perth sempre achou que seria Talay quem o ajudaria a resolver o grande problema de sua vida até então, talvez até Poy. Mas o conselho definitivo, de quem ele sentiu a segurança para seguir, foi dado por Yoon.
Quando soube que Talay estava envolvido com outra pessoa, Perth odiou Yoon, sem nem mesmo se preocupar em conhecê-lo. O pico do seu ódio foi o beijo roubado no elevador, em frente a Talay. Ele se sentiu duplamente humilhado. Mas aquilo foi o pontapé para algo muito maior, uma conexão que ele não conseguia explicar.
Estaria ele apaixonado por Yoon? Era difícil dizer. Talvez fosse apenas gratidão por tudo o que tinha acontecido até então. Afinal, não fosse o estudante de engenharia, ele ainda estaria com o peso do segredo que carregava nas costas, um peso que estava matando-o aos poucos, muito mais efetivo do que o carro que o atropelara.
Há algumas semanas, Perth teria ficado contente em morrer em um acidente, com a consciência limpa de que não tinha atentado contra a própria vida e a graça de poder se livrar finalmente daquele segredo. Mas contar a verdade para a sua mãe lhe livrou de qualquer pensamento naquele sentido. Era como se ele conseguisse respirar novamente, e o sentimento era libertador.
— Oi...
A voz fraca de Talay assustou Perth. Era estranho vê-lo daquela maneira e não precisou de muito para o estudante de comunicação entender que o outro se sentia culpado pela sua situação.
— Olá, P'Talay, pode entrar. Eu fico muito contente que tenha vindo me visitar. — Ele realmente estava feliz.
— Eu queria agradecer.
Perth olhou novamente para Talay e não gostou da cena que vislumbrava. Ele não queria que a pessoa que um dia possuíra o seu coração se sentisse daquela maneira.
— Você não tem o que agradecer, P'.
— Você me salvou. — O mais velho disse.
— Você fez o mesmo por mim, P'. A diferença é que conseguiu me salvar e sair ileso. — Era só uma tentativa de piada, mas a reação de Talay demonstrava que ele não tinha sido bem-sucedido.
— A gente precisa parar de se encontrar em situações como essa...
— Será que sempre vamos continuar nos encontrando assim?

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(des)encontros
FanficTalay é um jovem tailandês que está completamente fechado para o amor, desde que teve seu coração partido. Ele acaba de entrar na faculdade de medicina e vai morar em um prédio próximo da universidade. Lá ele conhece o extrovertido Yoon, estudante d...