#16

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(YOON ON)

Eles estavam deitados no escuro, um do lado do outro, olhando para o teto. Para Yoon, era estranho estar naquele clima de proximidade com alguém que ele gostava. Na verdade, Yoon nunca tinha se permitido estar assim vulnerável por outra pessoa, então aquele sentimento era muito novo para ele.

Ele sentiu Talay se mexer desconfortavelmente do outro lado da cama e sabia que o rapaz também achava ainda aquela situação estranha. Talvez, a pergunta que passava pela cabeça deles fosse a mesma: como uma inimizade tinha se transformando em um sentimento como aquele? Estariam eles vivendo um clichê de doramas tailandeses, mesmo que sem intenção?

Após alguns minutos de silêncio, Yoon limpou a garganta, tentando preencher aquele vazio de palavras em alguma coisa. Talay comprou a sua iniciativa.

- Por que você escolheu engenharia? – o estudante de medicina perguntou.

- Eu gosto de construir coisas, lidar com mecânica, equipamentos eletrônicos, entender o funcionamento deles. Para ligar uma televisão, toda uma mecânica é necessária e isso é física. – ele defendia aquela escolha com um tom de voz apaixonado, que demonstrava o quanto ele gostava do curso que estava fazendo.

Desde pequeno, Yoon sempre foi viciado em desmontar aparelhos eletrônicos quebrados e ver a sua dinâmica nos bastidores, entender o seu funcionamento. Quanto mais aprendia sobre física na escola, mais ele ia tentando pôr aquilo em prática, consertando alguns itens de casa. E foi assim que ele decidiu que iria entrar na faculdade de engenharia e se especializar na parte de eletromecânica.

Ele nunca tinha contado aquilo para ninguém, nem mesmo para o seu melhor amigo. E, sem conseguir frear um impulso de fazer Talay conhecer mais sobre ele, acabou relatando toda a história.

- Eu tinha um robô que era meu brinquedo favorito do mundo. Depois de alguns meses mexendo nele, consegui descobrir o que estava errado, eu devia ter uns 14 anos. Ainda tenho ele na casa onde minha mãe e meus irmãos moram.

- E o seu pai? – o tom de voz de Talay era baixo, como se ele não soubesse se estava liberado tocar no assunto.

- O meu pai morreu perto de nossa casa. – ele suspirou, tomando coragem para contar o resto. – Ele era um bom homem, mas não estava com o coração no lugar. Ou pelo menos, eu pensava que ele era um bom homem. Mas descobri que estava tendo um caso com a nossa vizinha e o marido dela descobriu. Aconteceu uma confusão e ele levou um tiro no peito. Eu vi tudo pela janela de casa.

Um silêncio ensurdecedor tomou conta do ambiente. Talay ficou pensando no que dizer, mas lhe faltavam palavras que fossem boas suficientes para aquela ocasião. Ele se aproximou de Yoon, se apoiou na cama com um cotovelo e tocou no ombro de Yoon com o braço que estava livre.

- Enfim, no geral eu simplesmente digo que ele morreu em um acidente ou alguma coisa assim. Desculpa despejar isso em cima de você.

- Você não precisa se desculpar. Obrigado por confiar em mim.

Mesmo no escuro, Yoon deu um pequeno sorriso – sem saber se Talay conseguia ou não ver aquela expressão. Era bom encontrar alguém para ter aquele tipo de conversa. Mas ele também queria saber mais sobre a pessoa que gostava.

- E você? Por que escolheu a medicina?

- Meus pais são médicos e são meus heróis. Eu vejo o quanto eles trabalham e como é importante a profissão deles – e desde criança também queria salvar outras vidas. Por isso eu me cobro muito, porque tenho que mostrar aos meus pais que eu sou capaz disso.

- Você é uma das pessoas mais inteligentes e capazes que eu conheço, Talay.

Ele não pensou muito, simplesmente levou seus lábios aos de Talay e os dois iniciaram um beijo terno, bem lento, sentindo aos poucos o gosto um do outro. Já não havia mais nenhum estranhamento naquele beijo, como se fosse o certo a se fazer.

(des)encontrosOnde histórias criam vida. Descubra agora