(des)encontros

#22

(PERTH ON)

As coisas não estavam tão boas para Perth nos últimos dias. Em meio a toda confusão que estava acontecendo em sua casa, ele ainda tinha encontrado espaço para se envolver em um sentimento confuso. Por que não tinha tomado coragem e se declarado para Talay antes que ele conhecesse Yoon? Ou seria besteira pensar que ele teria alguma chance desde o começo?

Por outro lado, ele sentia que Talay tinha correspondido o seu beijo, mesmo que apenas por alguns segundos, antes de se deixar dominar pela racionalidade. Mas, como dizem, o mundo é dos que tomam iniciativas. Os tímidos precisam de alguém que se declare para eles ou então vão passar o resto dos seus dias sozinhos. E Perth estava aprendendo aquilo sob duras penas.

Ele rolava de um lado para o outro no colchão, sem conseguir pregar os olhos. O dia seguinte seria domingo, e ele poderia dormir até mais tarde, mas queria mesmo era fechar os olhos e fingir que o mundo não existia ou que ele não existia naquele mundo. Se não fosse Poy, Perth sentiu que seria capaz de desistir de tudo. Mas o amigo estava ao seu lado, lhe permitia ficar ali quanto tempo ele precisasse e o aconselhava quando os piores pensamentos passavam pela sua cabeça.

A amizade entre Perth e Poy a cada dia se tornava mais intensa, uma verdadeira irmandade. O estudante de comunicação sempre tinha desejado que sua relação com seus irmãos fosse assim, mas a verdade era completamente diferente. Ultimamente, ele tinha se sentido um alienígena em sua casa. E sua mãe, a pessoa que ele mais amava no mundo, parecia não entender o peso do segredo que ele guardava apenas para proteger a continuação de uma família que nem ele mesmo sabia se valia a pena.

O que ele estava fazendo com a vida dele? Era preciso se mexer ou seria esse sofrimento eterno.

Perth não soube dizer em que momento ele pegou no sono, mas acordou com uma voz estranha na sala. Demorou um tempo para ele entender que era Cooper quem estava falando. Ou melhor, ele e Poy estavam discutindo sobre alguma coisa.

- Eu não quero mais me envolver com alguém que me quer como um segredo sujo. – a voz de Poy soava muito decidida.

De fato, Perth tinha a impressão de que ele não fora a única pessoa que tivera insônia àquela madrugada. Em um dos momentos em que levantou para ir ao banheiro, quando voltava para a cama, ele tinha a impressão de ter ouvido um choro baixo de Poy, como se quisesse esconder do amigo que suas próprias preocupações o estavam deixando acordado.

- Você sabe que não é isso, mas ainda não estou pronto para dizer a todos sobre o nosso relacionamento. – Cooper se defendeu.

Perth tentou não ouvir a confusão que acontecia na sala, mas os dois falavam em vozes muito altas.

- Olha, P'Cooper, eu não vou lhe obrigar a me assumir para os seus amigos, mas você também não pode me obrigar a aceitar esse tipo de posição. E já que não chegamos a nenhum consenso, acho que devemos terminar a nossa história por aqui.

Depois disso, Perth enfiou um fone no ouvido e colocou a música em volume alto. Ele não queria estar escutando a conversa dos outros daquela maneira, principalmente do seu melhor amigo. Poy iria lhe contar o que se sentisse confortável para dizer.

A conversa entre Cooper e Poy durou ainda mais alguns minutos e logo depois Poy entrou no quarto, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto, enquanto ele soluçava alto. Percebendo que o amigo estava acordado, o estudante de medicina se jogou nos braços dele e se deixou sucumbir pelo choro. Sem saber exatamente o que fazer, Perth simplesmente acariciava os cabelos do amigo e sussurrava um "calma, vai ficar tudo bem", esperando sinceramente que tudo ficasse bem mesmo.