#17

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(PERTH ON)

A tarde não tinha sido nada como ele esperava. Ao invés de conseguir, finalmente, se declarar para Talay, Perth tinha apenas assistido um filme e ficado quieto após a chegada de Poppy. Deveria ser mais fácil falar para as pessoas sobre os seus sentimentos, mas era algo que ainda o deixava muito travado.

Ele achou que poderia conversar com Talay na volta para casa, mas tinha se esquecido que Poppy morava no mesmo prédio que os dois. Ele ainda não sabia quando voltaria para a sua casa, porque as brigas com o pai tinham atingido um nível grande de estresse. Ele queria paz. Na verdade, mas do que querer, ele precisava de paz. Não tinha se saído muito bem no último exame porque a cabeça não conseguia se concentrar nos estudos, sempre lembrando das brigas diárias que agora ocorriam.

Quando Poy lhe convidou para ficar uns tempos com ele, Perth não teve dúvidas de que seria a melhor saída. Sua mãe tinha depositado sua mesada na conta, assim ele não precisaria ir em casa buscar o dinheiro. Ela parecia também acreditar que essa seria a melhor solução para apaziguar os ânimos e, quem sabe, salvar o seu casamento. Será que ela estava mesmo disposta a qualquer coisa para ficar casada, mesmo que isso significasse permitir-se ser tratada daquela maneira? Que loucura!

Mesmo agora, olhando para o teto enquanto tentava dormir, Perth não conseguia descansar a sua mente. Ele estava pensando nos problemas com o seu pai e em como o encontro da tarde tinha dado completamente errado. Por que nada de bom poderia acontecer na vida para ele? Seria muito pedir por um pouco de felicidade?

- O que acha de fazer uma meditação? – a voz de Poy soou rouco no escuro.

- Como sabia que eu ainda estava acordado?

- Amigo, seus pensamentos estão soando alto até mesmo para mim. O encontro com o P'Talay não deu certo?

Como ele sabia que esse era um dos assuntos que estava gritando em sua cabeça? A amizade dele com Poy chegava a assustá-lo algumas vezes. Os dois pareciam gêmeos separados no tempo e no espaço, mas conectados por laços ainda mais fortes e inexplicáveis. Muitos, certamente, desejavam possuir uma amizade como eles tinham.

- Não foi nada como planejado. Talvez eu devesse desistir.

O outro não respondeu. Se o seu encontro com Talay não tinha dado certo, muito menos a ideia de Poy em levar Cooper para ler para crianças com câncer tinha sido a melhor escolha.

- Me conta novamente o que deu errado no seu encontro, além, é claro, da péssima escolha do local.

Poy suspirou no escuro e se remexeu na cama de maneira desconfortável. Eles eram uma dupla completamente desengonçada quando se tratava de coisas do amor. E isso tinha um revés ainda pior: um não podia confiar no outro em seu o conselheiro e guru na conquista de quem queriam.

Para Perth, porém, Poy tinha uma vantagem. Cooper tinha sido o primeiro a demonstrar interesse naquela relação, vindo visitá-lo sempre que Talay não estava em casa, usando a desculpa de que precisava de companhia para esperar a chegada do amigo. Após muitas batidas na porta de supetão, Poy concordou em compartilhar com Cooper o seu ID no LINE, assim ele poderia avisá-lo quando estivesse indo em sua casa.

- Ele não pareceu muito satisfeito quando eu disse onde íamos, mas não disse nada em oposição. O problema todo foi quando começamos a ler para as crianças e ele ficou emocionado. Não sei se ficou com vergonha por se emocionar ou se alguma outra coisa aconteceu, mas ele disse que iria no banheiro e, minutos depois, eu recebi uma mensagem dele, dizendo que precisou correr para casa.

Perth segurou uma vontade de rir, porque era uma situação praticamente tragicômica. Mas ele não faria isso com o amigo.

- Eu lhe disse que obras de caridade não são locais para encontro.

(des)encontrosOnde histórias criam vida. Descubra agora