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(TALAY ON)

Foram exatos 38 minutos do local do acidente até o hospital. Enquanto a ambulância levava Perth, Talay chamou Poy e os dois foram juntos, para saberem como estava o amigo. No caminho do hospital, Poy ligou para a mãe de Perth e informou sobre o acidente – a ligação se encerrou assim que ele anunciou para qual hospital o estudante estava sendo transferido.

Uma culpa cada vez maior começou a surgir dentro do peito de Talay. Ele havia brincado com os sentimentos de Perth por tanto tempo, uma pessoa que acreditava ter uma dívida com ele. O estudante de medicina havia salvado o mais novo no dia em que eles se conhecerem e, agora, ele havia pagado o salvamento de volta, só que os dois podiam nunca mais interagir depois disso.

Como as coisas podiam ter ficado ainda mais confusas? Ele tinha saído de casa para resolver aquela situação, mas acabou se deparando com complicações inesperadas. Talay odiava com todas as suas forças as pegadinhas que o destino vinha fazendo com a sua vida.

Ele e Poy passaram a viagem de ia ao hospital em completo silêncio. Nenhum dos dois queria dar vida ao medo que crescia dentro deles. Mas a quantidade de sangue que estava ao redor do corpo de Perth era um sinal de que o acidente tinha sido muito grave. Ele estava desacordado e, por breves segundos, Talay realmente pensou que a respiração do outro tinha parado. Segundo os paramédicos, estava muito fraca, mas ainda existindo. E enquanto ele respirava, existia também esperança.

Os dois saíram do táxi às pressas, correndo para a recepção em busca de qualquer informação sobre Perth.

— Apenas os pais ou familiares podem solicitar informações sobre o estado de saúde de pacientes — informou a atendente da recepção, com cara de quem preferia estar fazendo qualquer outra coisa no mundo do que lidando com atendimento.

— Mas ele é nosso amigo — Poy rebateu, as lágrimas descendo pelo seu rosto.

— Que pena! — mas o seu tom de voz dizia que ela não estava nem um pouco solidária. — Liguem para os pais dele e poderemos repassar informações. Enquanto isso, por favor, liberem a vaga para que eu possa atender ao próximo da fila.

Não havia o que fazer! Talay puxou Poy pelo braço e os dois se jogaram em duas cadeiras vagas da recepção. A única solução era esperar que a mãe de Perth chegasse ao centro médico, para que eles finalmente pudessem saber informações sobre Perth.

Poy encostou a sua cabeça no ombro esquerdo de Talay, tremendo enquanto chorava. Talay também estava chorando, as lágrimas desciam silenciosamente pelo seu rosto, enquanto ele se amaldiçoava por existir. Era culpa dele o mais novo estar passando por aquela situação e não havia nada que pudessem lhe dizer que o fizesse pensar ao contrário.

Os dois amigos não souberam por quanto tempo ficaram naquele estado, mas Talay voltou a sentir o seu coração bater quando uma mulher entrou na recepção e Poy avisou que se tratava da mãe de Perth. Ele queria se jogar nos pés dela e pedir desculpas por tudo o que havia feito o filho dela passar, mas aquele não era o momento para cenas como aquela. Tudo o que Talay queria era ouvir um dos médicos dizerem que Perth ficaria bem.

Poy liderou o caminho até a Sra. Nakhun. Os dois já se conheciam e não havia necessidade de apresentações naquele momento. Talay observou os dois se abraçarem com certa intimidade, enquanto a Sra. Nakhun se permitia desabafar, os soluços altos soando como desabafos de uma alma ferida. Os dois se entendiam mais do que tudo naquele momento – e Talay não pode deixar de se sentir um estranho presenciando uma cena tão íntima como aquela.

Quando os dois finalizaram o abraço, uma das enfermeiras já estava chegando ao corredor, pedindo para falar a sós com a responsável pelo paciente. Ela assentiu e deixou Poy para trás. A forma como o hospital, de um modo geral, estava tratando-os era péssima.

(des)encontrosOnde histórias criam vida. Descubra agora