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(TALAY ON)

O fim de semana chegou e me deixou tranquilo. Era bom não ter que ir para a universidade e me dar uma folga dos estudos. Eu já tinha decidido que voltaria a estudar já no domingo, mas precisava também fazer coisas divertidas para acalmar a minha mente.

Para o sábado, eu tinha marcado de ir tomar sorvete com Perth. Achei muito simpático ele ter me convidado para sair em agradecimento a tê-lo salvado àquele dia, mas precisava encontrar uma forma de deixar claro que não queria qualquer tipo de relacionamento. Não queria que ele se machucasse, mas também não queria tomar uma iniciativa nessa direção e descobrir que ele só queria amizade mesmo. Não queria pagar aquele mico.

Passei a manhã limpando o apartamento e organizando minhas coisas. Almocei com Poy em um restaurante que ficava localizado perto de onde morávamos. Embora não fossêmos realmente amigos, nos encontramos no restaurante e acabamos dividindo a mesma mesa.

- Eu soube que você salvou o Perth de ser atropelado essa semana. – ele disse, puxando assunto. – Obrigado por isso.

- Eu fiz o que qualquer pessoa em meu lugar teria feito. Eu vi que ele não tinha visto o carro e corri para chegar a tempo. Fico feliz de ter conseguido. – respondi, me sentindo sem jeito em receber aquele elogio.

- Mas eu agradeço de qualquer forma. – ele disse novamente.

Continuamos a comer em um silêncio estranhamente desconfortante, o que evidenciava a nossa falta de intimidade. Falamos sobre a faculdade e sobre as dificuldades que os moradores do nosso prédio passavam. Foi nesse momento que Poy me colocou a par de uma novidade que eu ainda não sabia.

- A Porpla se candidatou a síndica do nosso prédio. Você não sabia? – ele me perguntou quando viu a expressão de surpresa em meu rosto.

- Não... Achei que ela me diria algo assim, já que sou muito amigo dela e do Poppy.

- Ela anunciou ontem à noite, durante a reunião de condomínio. Inclusive, senti sua falta lá.

- Estava estudando para uma prova esses dias, acabei deixando algumas coisas de minha vida para segundo plano, inclusive a reunião. Vou conversar depois com o Poppy para saber mais detalhes. Ou mesmo com ela, se conseguir encontrá-la em casa.

Depois daquele almoço estranho, me arrumei para o encontro que teria com o Perth. Eu evitava usar a palavra encontro em meus pensamentos, justamente para ficar claro que não havia intenções em transformar aquela saída em uma conversa mais séria.

"Você tem que lembrar do que aconteceu no ano passado", eu me dizia constantemente. Sim, eu estava traumatizado e ainda muito machucado pelo o que tinha vivenciado no meu passado. E escondia isso até mesmo do Poppy. Dizia para ele que o que me deixava querendo estar longe de qualquer relacionamento era o desejo de focar na minha faculdade, mas a verdade não é bem essa. Eu ainda não tinha esquecido tudo o que sofri no ano anterior.

Enquanto pegava o ônibus para ir para a sorveteria, fiquei pensando sobre o que conversaria com Perth. Eu não tinha mesmo uma intimidade com ele e nem sabia exatamente sobre o que ele gostava. Tinha conhecido ele de uma maneira inusitada e nem pensei que ele realmente fosse entrar em contato comigo depois. Entreguei meu telefone mais por preocupação e educação do que por qualquer outra coisa.

Eu cheguei antes dele. Não era incomum. Eu não gostava de deixar as pessoas esperando por mim, por isso sempre me programava para chegar no lugar marcado pelo menos meia hora antes. Uma atendente perguntou se eu gostaria de alguma coisa, e eu pedi uma água. Queria que ela tivesse a certeza de que eu estava ali para consumir e não apenas para ocupar espaço.

(des)encontrosOnde histórias criam vida. Descubra agora