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Jeon Jungkook

Se aceitar: Aceitar uma pessoa significa respeitar a liberdade dela ser quem é e poder viver da forma que mais agrada a ela, mesmo que você não concorde. Significa respeita e quer que o outro seja feliz sendo ele mesmo, com consciência de que ele não precisa mudar apenas para que você goste dele.

É assim que eu me sinto nesse momento.

Desde pequeno eu admirava minha mãe. O jeito que ela se vestia, os seus cabelos longos e as maquiagens que ela usava. Eu amava assistir ela se produzindo para sair com o meu pai. Ela me deixava com a babá e saía com o meu pai. Usava vestidos lindos, rendados, com desenhos, com brilho, com bordados ou simples. Ela ficava deslumbrante em qualquer vestido ou roupa.

Quando conheci Jimin na escola, admirava discretamente as garotas, elas podiam usar saias e blusas com laços. As vezes chorava no banheiro ou no meu quarto, olhava no espelho e me odiava. Odiava tudo que via em mim, meu cabelo, minhas pernas, minhas mãos, minha cintura e meu rosto. Sentia odio de mim mesmo e com alguns comentários que ouvia, esses sentimentos ficaram mais intensos dentro de mim.

Com o passar dos dias, não ficava mais no quarto de minha mãe para ver ela se arrumando. Tinha perdido a graça. Toda vez que via ela, me sentia triste e com inveja. Eu era uma criança, eu sei, mas... eu gostava de saias e vestidos. Eu amava "coisas de meninas".

Passei a ter sentimentos contrários. Eu odiava meu corpo pois era por isso que sofri vários assédios na escola e na rua, mas eu amava admirar os corpos das meninas, pois queria ser igual a elas.

Acreditei nos insultos que recebia dos alfas. Acreditei nas falas das garotas, que diziam que eu era um ômega errado demais e muito nojento.

Por muito tempo acreditei fielmente nestes insultos e falas. Levei a minha vida acreditando em tudo que terceiros falavam, fiz muitas coisas de errado com o meu corpo, negligenciei meus cios e fui um pau mandado de alfas escrotos.

Ao ser vendido para um alfa, tive a certeza que nada que eu desejava, eu realizaria. Queria me formar em uma faculdade de moda, queria desenhar roupas de todos os gostos e estilos, queria formar uma família com um alfa que me amasse e também que me marcasse. Mas ao ser chamado de puta, cadela, vagabunda ou qualquer adjetivo pejorativo, sua mente se cansa de imaginar um final feliz.

Eu tinha imaginado um casamento onde eu pudesse usar um vestido. Imaginei que teria filhotes lindos. Imaginei que teria uma casa para chamar de lar. Imaginei que teria alguém para chamar de amor. Minha imaginação era tão fértil que acabou me sabotando. Ao mesmo tempo que imaginava um final feliz para mim, minha mente o transformava em pesadelo. Billy gostava de me ver dançar e também adorava me ver fazendo coisas inapropriadas com os seus amigos mais próximos. Passei a não conseguir dormir quando ele chegava em casa. Passei a desejar a morte. Passei a chorar todos os dias. Passei a fazer dietas ridículas. Passei a falar para o espelho, que me odiava. Por muito tempo foi assim. Por muito tempo abracei a morte como uma amiga próxima e quase que ela me leva, pelo simples fato de eu me odiar.

Eu chorava tanto no dia que encontrei Taehyung. Eu fiquei surpreso quando ele disse que não iria fazer nada comigo e que queria somente conversar. Se ele soubesse que, naquele mesmo dia, eu tinha um vidro de um remédio qualquer dentro da minha bolsa e que eu o iria toma-ló depois de nossa conversa, ele surtaria. Sim. Eu tinha planejado tudo. Não aguentava mais. Eu somente queria sumir. Oras... quem iria sentir a minha falta? Billy iria se lamentar por perder sua puta de ouro, mas logo encontraria outra. Mary iria chorar, mas isso passaria. Meu pai, aquele que me vendeu. Minha mãe, que morreu. Não tinha nada a perder, não tinha literalmente nada.

Por muito tempo guardo todos esses sentimentos dentro de mim. Mas ao encontrar Jimin novamente, tudo ficou confuso. Ele realmente tinha me procurado? Ele realmente gostava de mim? Minha cabeça dizia que era uma mentira e inventava coisas para me afastar dele, mas meu coração, ele batia tão rápido dentro da minha caixa torácica, que eu podia sentir ele pulsando na minha garganta. As minhas crises são decorrentes de tudo o que eu tinha passado. Era o reflexo de todo o medo que senti durante anos e assim meu corpo encontrou uma forma de liberar um pouco do que eu sentia.

Double Dose ProblemOnde histórias criam vida. Descubra agora