A manhã se iniciou úmida e abafada naquele dia, como quando o ar segue visível frente aos olhos, e o tilintar da água acumulada nas calhas pela madrugada trazida pelo sereno frio, faz seu toque sobre as folhas do jardim tornarem o som perceptível aos olhos, o que é bem estranho de imaginar. As janelas altas e afastadas do chão mostram um reflexo do que existe lá dentro tão perfeitamente quanto o que existe lá fora. Algum som agudo e estridente de um vocal vem de dentro do quarto, e toques rápidos de guitarra subindo uma escala qualquer. A voz feminina soando um som oco de um radio velho, a música Crazy On You soava tão bela quanto em sua época.Na cama encostada no canto direito em relação a porta, descansava um garoto, embora não fosse chamado assim a anos. Ele mantinha sua cabeça balançando no ritmo à medida que a música terminava e ele parava de se mover. Seu peito se enxia de ar devagar e ele se virava para o olhar o teto, enquanto suas mãos ficavam frente aos olhos, mãos finas e com dedos compridos. O quarto era preenchido com pôsteres nas paredes, de bandas que faziam parte de sua vida como Kiss, Metallica e sua favorita, Black Sabbath. Havia uma pequena mesa com livros amontoados no canto, uma luz batendo uma energia forte sobre o meio da mesa, com dois livros abertos. O quarto era preenchido de fumaça e cheiro forte de cigarros. O chão era bem limpo porém, o tapete sobre ele parecia brilhar.
O garoto se sentou na cama, diante de suas costas, a luz vinda da janela lá fora e ele se recordava profundamente da noite anterior, o calor úmido e sua profunda insistência em seguir por tantos caminhos difíceis, ele sabia do que pensava, com certeza. As costas nuas, seus ossos ficavam arcados para fora de sua estrutura, um garoto muito magro e à medida que descia por suas costas era possível ver hematomas e a marca da coluna. O garoto se tocou no ombro direito e foi sentindo seu braço enquanto descia com gentileza usando sua mão.
- Ah... - Disse baixo enquanto virava sua cabeça no sentido anti-horário e ouvia o estalar - É hoje...
Ele puxou no canto inferior da cama uma camisa regata clara e vestiu. Ao se levantar, sentiu uma certa dor no quadril e caiu novamente, colocando a mão e apertando a área dolorida. A porta abriu e a luz do corredor veio em seu rosto, e foi possível ver com clareza seus aspectos. Seus cabelos eram longos e lisos, com uma cor vermelha escura e as pontas tinham uma cor preta natural. O rosto era fino e as maçãs do rosto marcadas e evidentes. A pele muito pálida e o corpo muito mais magro do que era possível ver com a luz fraca da janela. Os olhos eram brancos e em volta, pintados de preto com desenhos subindo as sobrancelhas acima.
- Luke... - Disse uma voz bem aguda - Você está ouvindo uma música tão calma?
Ele olhou para a pequena a sua frente, sua irmã mais nova, Alice, de dez anos de idade. Ele não parecia incomodado com ela, não de verdade. Os olhos de Luke não viam com clareza a imagem a sua frente, e ele desligou o radio que ficava ao lado do pé de sua cama, sentindo uma leve dor ao esticar os braços.
- Não é tão calma assim, minha irmã... - Diz ele bem baixo- A música fala em si sobre o tempo que passa tão depressa, e não podemos mais voltar a ter paixão. Pela vida? Ou seja lá o que for, essa é a minha interpretação.
A menina ainda parada na porta olhava para ele com uma expressão um tanto estranha.
- Não tenho ideia do que está falando, Luke... - Disse rindo.
- Bem... - Disse ele logo em cima- Esse é um ponto interessante.
Luke pegou no canto superior da cama, seu colar. Os detalhes eram estranhos, o pingente era como cristo de braços abertos e as correntes seguravam suas mãos dando a volta no pescoço de Luke, com entalhes parecidos com espinhos banhados em um prata escuro.
- Alice... - Disse ele com um sorriso rápido - A mãe já não te disse para não entrar no meu quarto pela manhã?
A menina entrou mais adentro e pulou na cama de Luke, e olhou para ele com um sorriso bobo. Luke olhou para ela também e percebeu que o rosto dela estava pálido, assim como as pontas do cabelo estavam pintadas de loiro escuro, tendo em conta que os cabelos dela eram pretos.
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E Se Pudéssemos Escolher a Felicidade?
RomanceA história de Luke. Um garoto que se vê obrigado a partir de casa, pois sua família não pode pagar pelos seus estudos e nem mais sustenta-lo. Ele é aceito por um programa social que escolhe jovens com potencial para ir morar na casa de alguma famíli...