Epílogo

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Cerca de cinco semanas se passaram, e Luke ficou completamente distante de qualquer contato com Jhonny. O rapaz, só tinha contato com o pai, e mesmo assim, por pouco tempo. O transplante de coração, fora um sucesso, e não houve rejeição. Todavia, a distância que Luke decidiu impor entre ele e o amigo, fora a pedido do médico; segundo ele, Jhonny deveria passar um mês sob cuidados intensivos, para monitoramento tanto das respostas ao corpo, ao novo coração, como também para evitar qualquer tipo de infecção. 

Jhonny tem vivido dias incertos desde que acordara, Luke deixou claro que seria ele, quem falaria toda a verdade ao amigo, e tanto o médico quanto o pai de Jhonny concordavam completamente com essa decisão. Luke, deixou a cidade poucos dias após o enterro de Rey; esses que foram momentos difíceis para ele. Luke foi o responsável por entregar a carta de Rey aos pais adotivos dela. Na manhã seguinte ao transplante de coração, Luke teve uma breve conversa com Júlio, onde o deixou a par de todas as decisões de Rey, além de tentar ao máximo explicar os motivos. Mesmo depois de tudo que Luke contou, o pai de Jhonny não conseguia acreditar que quem devolveu a vida de seu filho, fora mesmo Rey, e ainda por cima, abrindo mão da própria vida. A incerteza, coberta por fortes sentimentos de descrença, vinha unicamente porque Rey era uma mulher jovem, e que, abriu mão de tudo por outra pessoa. 

Naquela manhã mesmo, Iris chegou a Great Yarmouth, e foi quem acompanhou Luke até a casa dos pais adotivos de Rey. Fora uma situação muito triste, para todos. Quando Luke surgiu no portão da casa, a visão que o casal teve dele foi, exatamente um mal presságio. Luke sentou com eles, e lhes contou todo o acontecido. Iris pode ouvir a história também, pois naquele momento, não era mais hora de guardar segredos. Luke e Iris passaram quase a madrugada toda daquele dia, lidando com o velório de Rey, além dos trâmites para o enterro. Iris percebia, mesmo sem dizer, que Luke não havia dado tempo a si mesmo para chorar aquela enorme perda. Mas, quando ele percebeu a preocupação que ela dividia consigo mesma em silêncio, ele sorriu para ela, dizendo que sim, ele estava muito triste, ainda muito abalado; porém, as lágrimas dificilmente viriam, uma vez que ele teve a madrugada toda, após o transplante de coração, para refletir toda a sua vida. 

Os pais de Rey, os adotivos, não puderam lidar com o velório, e menos ainda com o enterro, embora eles tenham comparecido, mas algo neles, havia quebrado, de forma séria e definitiva. Eles eram pessoas que tinham o sonho de ter uma família, e que por impossibilidades, optaram por adotar duas crianças. Primeiro o irmão de Rey havia partido e agora, a filha também. Essa dura perda, misturada com tantos sentimentos guardados sobre os anos em que eles dividiram com ela, era demais. Luke ofereceu toda a sua ajuda, mas o casal, só precisava descansar, e pensar naquilo tudo, aceitar a nova realidade. A mãe de Rey, bem, ela chorou incansavelmente, porém, o pai, ele foi mais duro consigo mesmo, segurando firme suas fraquezas, se mantendo impassível a dor, e sua única tristeza fora não ter sabido de nada a tempo de tentar ao menos ter uma última conversa com ela. Luke deixou com eles a carta de Rey, e ela foi lida pelo casal, em seu íntimo silêncio, nem Luke e Iris, souberam o que dizia na carta.

Após o velório, e o enterro, Luke e Iris partiram da cidade, uma vez que tinham deixado a faculdade de lado. E Luke se sentiu péssimo com isso, mas ele sabia que era o melhor. Todo fim de semana a partir dali, ele voltava a sua cidade, e visitava os pais de Rey, conversava muito com eles, e então ia para o hospital, onde observava distante, a melhora na saúde de Jhonny. 

E exatamente cinco semanas depois, Luke voltou ao hospital, dessa vez, para encarar o amigo, e entregar a ele, a carta de Rey. 

Foi em uma segunda de manhã, quando Jhonny lentamente, com a ajuda do pai, se preparava para deixar o hospital. Após a alta, foi decidido pela justiça que ele deveria ir direto para a prisão da cidade, aguardar julgamento. E Jhonny já não sentia que tinha forças para fugir, ou, tentar lutar contra as consequências daquilo que tinha acontecido. Foram muitos dias, preso a uma cama de hospital, e foram dias o bastante para ele pensar, principalmente sob as condições tão vulneráveis em que ele ficou, sempre com medo de que seu novo coração sofresse uma possível rejeição, ou ele adoecesse enquanto tentava melhorar.

E Se Pudéssemos Escolher a Felicidade?Onde histórias criam vida. Descubra agora