Capítulo 28

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~ Luke e Iris ~

As lembranças de Iris, não estavam todas em seus devidos lugares. Algo distante, perdurava sobre ela, uma triste sombra sofrida, como se a vida, que até hoje tinha sido seu único algoz, se desfizesse diante de seus olhos, como se nada daquilo significasse nada. Foram momentos difíceis para ela, os que ela teve de suportar, dentro de toda a incerteza sobre si mesma, o medo era a única realidade.

Iris não desgrudou os olhos de Luke uma única vez, durante todo o tempo. Pareceram horas, mas foram pouco mais de vinte minutos. As perspectivas que se debatiam em sua cabeça eram, por demais difíceis de se compreender, a dor não parecia grande coisa, a solidão menos ainda. Esses anos todos que ela viveu só, nunca se deu a possibilidade de abrir portas, para a sensação de perda. Os ferimentos de Iris sempre foram marcados fundo dentro dela, mas, nunca a fizeram sentir que cada cicatriz era menor do que a posterior.

A simples noção, e a medida certa de realidade, em relação a perda da vida de Luke, quebrava a realidade de tudo que a Boneca já sentiu, e para Iris, isso era impossível de se imaginar. Ela observava Luke, caído sobre seus ombros, enquanto o carro dirigido por Alfred descia a colina às pressas. Não demorou, e eles se encontraram com a ambulância no pé da subida, e Alfred parou o carro sem demora, buzinando alto. Luke foi tirado do carro muito rápido, e colocado na ambulância para os primeiros socorros. Um dos enfermeiros a questionou sobre parentes e ela disse que iria com eles na ambulância, coisa que naquele momento não foi questionada.

Uma vez dentro da ambulância, Iris segurou a mão de Luke, quando foi orientada em meio a essa simples ação, a não fazê-la, já que isso atrapalharia o atendimento a ele. Esse foi um dos primeiros momentos de epifania de Iris, onde ela começou a confrontar a si mesma, suas ações e todas as consequências.

"Agora, eu entendo bem...", pensou ela, enquanto observava Luke desacordado. "Você disse que estendeu a mão para mim, e todas as vezes, eu não a peguei, eu deixei de confiar em você. E agora, a minha tentativa de suicídio, gerou a sua... você disse que, tudo em minha vida, não tinha sido culpa minha, mas pensando agora... por quê agora? Eu diria, que nesse instante, pensar é a única coisa que eu posso fazer. Luke... se você morrer, dessa vez... somente dessa vez, será culpa minha?".

Os homens dentro da ambulância massageavam Luke no peito, enquanto outros ligavam ele nos aparelhos de medição, e enfim o entubaram para que respirasse melhor. Iris ouvia aquele som ensurdecedor, até que a única linha de som que ela ouviu se tornar predominante foi o agudo sonoro, extenso e interminável da medição de batimentos de Luke. Que diziam somente isso:

- Ele morreu... - Disse o homem - O perdemos?

Iris se manteve em transe, enquanto os médicos aplicavam os primeiros esforços para que o coração de Luke voltasse a bater. Mas Iris ouvia na máquina o som de uma sentença, o triste e agudo som que dizia muito. A parada cardíaca o havia matado.

"Luke...", o primeiro impacto do desfibrilador balançou Luke sobre a maca, "Eu tenho a convicção de que, nada do que vivi foi fácil, ou que as minhas feridas tenham se tornado menos a cada nova pancada. Mas agora, tudo aquilo parece tão pequeno, quando comparado a essa dor tão grande que estou sentindo, enquanto eu olho para você. Nesse dia, eu senti o maior desespero da minha vida. Eu vi seus sinais pararem na máquina, eu ouvi o seu coração dar a última badalada, tudo por mim; e ao presenciar seu corpo inanimado, eu rezei para que você voltasse, porque eu já te amava...".

Os pensamentos de Iris, rodavam em sua mente, em perspectivas tão confusas que ela já não tinha a menor ideia, se estava contemplando o passado, ou o presente. A sentença de Luke, era naquele momento, para Iris, um marco que definiria muitas coisas. Apesar da dor, e de todo o sofrimento, ela sabia muito bem o quê pensar, e a única coisa que ela conseguia concluir, era a sua própria força. Luke havia dito a ela, que era errado pensar ser mais fraco do que de fato é. E Iris teve a sensação, de que aquele evento, a mataria instantaneamente, se ela fosse tão fraca quanto costumava acreditar.

E Se Pudéssemos Escolher a Felicidade?Onde histórias criam vida. Descubra agora