3. Cerco

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Esse capítulo será metade sob o ponto de vista de Wei Ying e metade sob o de Jiang Cheng. Espero que vocês gostem 🤗

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Então, durante 3 meses, Sandu ShengShou elaborou um cerco à Colina Sepultura. A princípio, sua intenção era capturar o famigerado Yiling Laozu para mantê-lo em cativeiro no Pier Lotus até ser tomada alguma decisão, afinal, por causa dele não só o próprio Jiang Cheng estava órfão, como também seu sobrinho que sequer tinha completado 1 ano de vida. Ao mesmo tempo, Wei WuXian era a única família que ainda restava aos dois, ódio e amor juntos direcionados a uma só pessoa, não poderia trazer nada de bom.

Finalmente, passado um trimeste após o “incidente” na Cidade Sem Noite, lá estavam as seitas, lideradas por YumengJiang, das mais famosas apenas ela e LanlingJin participavam do evento, além de várias outras menores que buscavam vingança ou algum reconhecimento pela participação. QingheNie e GusuLan haviam se excluído do acerto de contas por ordem de seus líderes, mas não significava que os conselhos de ambas não estivesse apoiando a causa. ZeWun-Jun sequer havia contado a seu irmão sobre o assunto, ele iria sem nem pestanejar, não havia dúvidas, mas seu corpo estava repleto de feridas abertas e uma febre que custava a passar, longe de estar em condições para uma batalha, muito menos aquela.

-Vão embora, fujam enquanto dá tempo! - rugiu Wei WuXian para os remanescentes do clã Wen quando percebeu a quantidade de pessoas que se aproximava da Colina. Ele não se lembrava de quase nada que havia acontecido na batalha da Cidade Sem Noite. Flashes de memória às vezes surgiam, mas não dava para discernir o quanto era real, fazia apenas alguns dias desde que havia acordado e agora pressentia um grande número de pessoas subindo a Colina, com certeza era um cerco contra ele, o barulho em sua cabeça estava particularmente ensurdecedor naquele dia - Eles estão aqui por mim, vão, sobrevivam!

-Não. - disse o Segundo Tio - Vamos ficar aqui com você.

-Aprecio suas intenções, mas vocês vão morrer! Não têm poder nenhum. 

-Tudo bem. Você já fez muito por nós e não está na melhor das condições. Estamos vivos há tempo demais, graças a você. - disse o Terceiro Tio - Vamos ficar e lutar. - ele levantou uma grande pá com orgulho como se aquilo fosse uma arma espiritual poderosa.

-Oh céus... Vocês enlouqueceram... - ele levantou da cama de pedra e cambaleou para fora da caverna, ChenQing estava em sua mão direita, enquanto ele tentava pensar sob todos os sussurros e vozes em sua cabeça viu a Vovó correndo em sua direção com A-Yuan nos braços, ele prontamente pegou o menino no colo e correu com ele brevemente pela floresta ali perto, procurou entre as árvores, alguma que fosse ôca o bastante para cabê-lo e o colocou lá - A-Yuan, seja um bom menino e fique aqui sem fazer barulho, está bem? Eles não precisam matar você também.

-Matar...? - o menino repetiu preocupado.

-Ah, criança! Você ouviu o resto das coisas que eu disse? Fique aqui, quieto. Está bem? Com alguma sorte eu posso vir te buscar depois. A coisa vai ficar feia aqui fora. 

-Xian-gege promete? - perguntou com seus grandes olhos negros repletos de medo, ele pressentia o que estava por vir.

-Vou fazer o possível. - o menino dentro do buraco estendeu os bracinhos para ele com os olhos cheios de lágrimas, WuXian o abraçou brevemente, mas apertado como se ambos soubessem que aquele era o último abraço - Se eu não vier, alguém virá. Está bem? - ele assentiu e o mais velho cobriu a abertura do buraco com um galho quebrado. Imediatamente levou a negra flauta aos lábios e invocou tudo o que restou de seu exército de cadáveres ferozes. Ao voltar à caverna, lá estava a comitiva que o aguardava, de frente para seu pequeno grupo de amigos armados com enxadas, pedras e pás. Estava claro quem venceria aquela guerra.

-Aí está você. - Jiang Cheng tomou à frente, Zidian faiscava em seu dedo, pronto para se projetar.

-Olá, Sandu ShengShou. - respondeu com desdém - A que devo o prazer- 

Antes mesmo que terminasse a frase um rápido ataque de tosse o fez cuspir um bocado de sangue.

-Ora, ora... Nem começamos ainda a lutar e você já está assim? Parece que já temos um vencedor.

-Não seja tão pretencioso... – logo sua horda os cercou, os cultivadores gritavam palavras de ódio, mas com as vozes em sua cabeça, WuXian mal conseguia ouvir o último Jiang que estava a sua frente, muito menos os homens atrás dele. Mais uma vez naquele dia ele levou ChenQing aos lábios, se sentia fraco enquanto tocava a melodia, seu corpo todo estava entorpecido e as coisas que aconteciam ao seu redor, pareciam muito distantes dele. A música foi interrompida algumas vezes quando ele precisava cuspir mais algum bocado de sangue, imediatamente as palavras de Lan Zhan vieram à sua mente “O cultivo demoníaco não é ortodoxo, ele prejudica o corpo e a mente”, bem, não é como se WuXian tivesse escolhido aquele caminho dentre muitos outros, era somente o que ele podia fazer. No meio do caos, com homens gritando e sangue jorrando para todos os lados, de repente, o barulho cessou, o patriarca estava cercado por seus próprios subordinados, não importava o quanto ele soprasse ChenQuing, ou a melodia que fosse tocada, eles continuavam se aproximando dele, seus sete qiqiaos sangravam, se ele ainda tivesse o núcleo dourado, com certeza estaria passando por um desvio de qi naquele momento.

Tudo aconteceu no queimar de um incenso, para quem estava de fora, era impossível entender, os cadáveres ferozes rugiam e se amontoavam sobre seu criador, nos primeiros segundos era possível ouvir gritos de dor, mas logo depois eles cessaram e apenas o cheiro terrível de sangue tomou o lugar. Quando a horda de mortos-vivos se dissipou, não havia mais Wei WuXian dentre eles. Todos os cultivadores e o que ainda restava do clã Wen ficaram atônitos por um breve instante antes de voltarem a lutar entre si e contra os cadáveres. Menos Jiang Cheng, ele não conseguia tirar os olhos do local onde seu shixiong estivera segundos atrás, alguns retalhos de tecido preto estavam espalhados pelo chão. Sentimentos que ele não conhecia o tomaram, não era ódio, não era frustração, não era medo, rancor, tristeza, nem raiva, era algo como um misto disso tudo e ao mesmo tempo, nada... Ele estava vazio.

-Wei WuXian está morto! 

-Nós vencemos!

-Ele provou do próprio veneno!

-Sandu ShengShou, você realmente conseguiu sua vingança!

-Meus parabéns!

-É, meus parabéns!

O Jiang foi acordado de seus devaneios por frases como essas, mas ele não se sentia vitorioso. Ao longe, numa parte da caverna, via alguns cultivadores, ele nem sabia dizer a qual seita pertenciam, jogando os corpos dos Wen numa pequena lagoa de sangue. Estava tudo acabado. O lugar foi totalmente revistado, buscavam partes do Amuleto do Tigre Estíngio ou qualquer outro projeto ou anotações que lhes desse poder, cada um procurando coisas que lhe apetecessem os olhos. 

-Toma, seu troféu, líder da Seita. – disse um de seus discípulos entregando a ele a flauta negra com franja carmesim. Aquele instrumento, que Wei WuXian havia tirado sabe-se lá de onde durante aqueles três meses desaparecido, aquele instrumento que “matou mais de 3 mil” na Campanha Queda do Sol, que concluiu sua vingança contra Wen Cao e Wen ZhuLiu, mas que matou Jin ZiXuan e fez Jiang YanLi morrer. O instrumento que somente o Yiling Laozu poderia tocar, agora era um suvenir de guerra. 

E a sensação de ter ChenQing em mãos sem Wei WuXian para reivindica-la, era avassaladoramente solitária. 

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Eu imagino que tenha sido mais ou menos isso que aconteceu kkkk
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Uma Existência Sem Cor [concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora