O meu lar

267 37 44
                                    

Meredith PoV

O dia realmente anoitece de forma mais bonita do lado oeste.

Eu havia ouvido meu pai afirmar isso desde criança, mas nunca tinha comprovado essa afirmação. Mas hoje, sentada à janela do meu quarto, na instância onde meu pai mora e onde cresci, vejo que ele tinha razão. Eu nunca dei bola pra isso, mas contemplando o pôr-do-sol daqui, vejo que a paz que tudo isso me traz é imensurável. 

Eu suspiro fundo com uma caneca de capuccino na mão e o olhar ainda perdido no horizonte alaranjado à minha frente, quase uma paisagem pintada por Van Gogh. Desde que tudo acontecera nos últimos dias, hoje foi o único dia em que consegui me sentir um pouco em paz e longe de toda aquela atmosfera de horror que eu nem acredito que vivenciei.

Meu pai sempre soube do que se passou em Nova York, há alguns anos, entre mim, Addison e Will. É claro que eu o poupei dos detalhes mais sórdidos, mas a fofoca corre longe e desde então, ele busca principalmente me preservar das maldades do mundo. Ele viu tudo o que passei e como fiquei depois de tudo e como foi difícil pra mim reerguer depois daquela turbulência. A relação do meu pai com a Addison é conflituosa, sempre foi, e ele já esteve ao ponto de interná-la em uma clínica psiquiátrica, mas eu nunca deixei. A tentativa de nos dar um Hotel Fazenda para administrarmos em conjunto foi justamente uma medida para nos aproximar, resgatar a convivência entre irmãs e aprendermos sobre respeito, cuidado e união. Acho que não deu muito certo, pois Addison e eu até aprendemos a conviver, mas tínhamos brigas constantes que, querendo ou não, chegavam sempre ao ouvido dele.

Dessa vez, eu não tive como não correr para os braços do meu pai novamente. Quando a Bailey me viu naquele estado, ela não titubeou e ligou para ele, contando por cima sobre o ocorrido. Quando cheguei aqui,desolada e me sentindo um lixo, ele não me fez muitas perguntas, mas ontem, eu acabei soltando algumas coisas pra ele. Ele apenas perguntou quem era o cara e, depois de muita insistência, dei o nome do Andrew. E ele entendeu logo que era o filho do amigo dele e ficou estranhamente calado.

Desde então, eu me permiti ter um pouco de paz e não tocar no assunto mais. Passei o dia tranquila, meu celular descarregou e eu sequer tive o trabalho de recarregá-lo. Andei pela instância curtindo as paisagens e a boa comida e pensando sobre a minha vida e sobre os passos futuros que eu daria a partir de agora. A única coisa que eu tinha certeza é que eu iria me desfazer da sociedade com a Addison e o resto eu deixaria o tempo tomar conta.

Eu não tive mais notícias do Andrew desde então. A decepção, a raiva e a tristeza que eu sentia dele havia tomado conta de mim no primeiro momento. Agora, com a cabeça fria, eu só sentia...desolação. Uma dor profunda no peito, uma angústia e uma vontade imensa de chorar toda vez que eu pensava nele ou lembrava das suas palavras, do seu rosto, das juras de amor que trocamos ao longo dos últimos dias, da sensação dos braços dele em volta do meu corpo...tudo parecia envolto em uma nuvem de ilusão e mentira, como se eu estivesse em um filme de gângsteres que vivem às custas da felicidade dos outros e, no caso, eu era o alvo principal.

Antes de me recolher no meu quarto, eu decidi dar uma última volta pelos jardins da instância. Eram lindos, nem grandes demais e nem muito pequenos. Um vento fresco batia no meu rosto e me fez lembrar do dia da Festa da Maçã em que levei Andrew ao meu lugar favorito do Hotel, o descampado, e demos nosso primeiro beijo. Naquele dia, fui dormir em êxtase, como uma adolescente que descobre o amor e que é finalmente notada pelo seu crush. E foi assim que sempre me senti com ele: ele me fazia flutuar, me fazia elaborar planos futuros, desejar um lar...me fazia ter fé na humanidade. E eu tinha planejado tanta coisa para a nossa última noite...ela seria mais especial do que as outras, porque agora, estaríamos mais unidos do que nunca.

Por acasoOnde histórias criam vida. Descubra agora