Conselhos inestimáveis

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Aproveitei o fim de semana de folga e fui visitar meus pais

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Aproveitei o fim de semana de folga e fui visitar meus pais. A vida andava tão corrida que até as ligações estavam escassas e nesse momento tudo que eu queria era o colinho da minha mãe.

Saí logo após o amanhecer, pois não consegui dormir quase nada essa noite. Juntei em uma mochila apenas algumas peças de roupa e peguei a estrada. Eram pouco mais de dez horas quando desci do carro e abri a grande porteira de madeira. Na placa acima, bem grande, o nome "Fazenda Águas Claras" se destacava. Eu estava em casa.

Entrei novamente no carro e parti na estradinha de terra. Logo eu parava o carro dando três apertadas breves na buzina. Mamãe e papai apareceram pela grande varanda e eu corri para abraça-los. Foi tão bom me sentir acolhida assim que as lágrimas começaram a escorrer sem que eu conseguisse controlar. Parecia que a barreira da represa de emoções que eu construí se partiu em mil pedacinhos.

- Mariana, minha filha. Você está bem? - mamãe perguntou quando me tomou dos braços de papai para os seus próprios. Ela acariciava meus cabelos e eu fechei meus olhos lembrando que era assim que ela fazia quando eu era pequena, toda vez que eu caia e ralava meus joelhos.

- Ah, mamãe. Eu estou bem, isso é só saudade - menti e ela puxou meu rosto para me olhar nos olhos. Sem palavras eu soube que ela me dizia que não engoliu minha mentira, mas que conversaríamos outra hora.

- Pare de chorar Pequena, nós temos o fim de semana inteiro pra matar as saudades.

Pequena... papai me chamava assim desde que me entendo por gente, porque sempre fui franzina e de baixa estatura. Mas vindo dele eu amava, pois apesar de ser um grande pai, não era um homem de demonstrar muitas emoções.

Mamãe me levou para a cozinha e me deparei com a grande mesa lotada de comida. Apesar de tomarem café da manhã muito cedo, eles tinham feito tudo para que eu degustasse ao chegar. Pão de queijo, bolo de fubá, requeijão, queijos feitos aqui e leite fresquinho. O aroma no ar era de café sendo passado na hora. Tudo tinha cheiro e gosto de infância para mim.

Depois daquele grande café da manhã, onde contamos todas as novidades de todo esse tempo sem nos encontrar, eu fui correndo aos estábulos. Sentia uma falta imensa de cavalgar, era libertador.

Haviam dois cavalos novos, mas os outros eu conhecia bem. Por isso fui direto ao meu preferido, um quarto de milha chamado Trovão. Me aproximei devagar enquanto conversava com ele, me chamem de louca, mas ele sempre pareceu me escutar.

- Saudades de mim meu Trovão? - perguntei enquanto corria meus dedos por seu pêlo denso e escuro - Ah, se eu pudesse te levar comigo para onde eu moro agora.

Trovão relinchou em resposta, e eu sorri.

- Senhorinha Mariana, que bom te ver de volta - dizia o empregado mais antigo daqui, o Damião, que me viu pequenininha.

- Bom é estar de volta Damião. Como vai a família? - perguntei ao lhe dar um abraço apertado.

- Bem, graças a Deus. Vai montar o Trovão?

- Vou sim, pode selar para mim? - pedi como quando era criança.

- Com certeza - ele disse animado.

Logo ele já havia preparado o animal e me ajudava a subir. Fomos trotando devagar no início, mas quando dei por mim já estávamos galopando pelo pasto. O vento levava meus cabelos para trás, junto dos meus problemas e angústias. Eu nunca me senti tão livre.

Terminei meu passeio à beira do riacho, o mesmo riacho onde nadava quando mais nova. Onde passei vários dos momentos da minha vida com meu primeiro melhor amigo, o Marcelo. Lembrei de tudo que aconteceu entre nós, de tudo que ele me escondeu. E agora isso com o André. Por que a vida não podia ser mais simples?

Me sentei no chão e abracei minhas pernas dobradas, uma lágrima solitária correu pelo meu rosto e eu reprimi as outras. Não queria que meus pais soubessem que chorei.

Peguei um galho do chão e joguei na água, olhei com atenção ele ser carregado. Fechei os olhos e me deixei relaxar ali, ouvindo o barulho das águas e dos passarinhos.

Já tinha passado pelo menos uma hora quando eu retornei aos estábulos para deixar Trovão descansar. Entrando em casa encontrei mamãe na cozinha terminando o almoço, me juntei a ela. E enquanto eu cortava verduras e tomates para a salada, nós  conversávamos.

- Você não sabe como estamos felizes com sua visita minha filha. Você demorou tanto - ela reclamou.

- Eu sei mamãe. É só que as coisas estavam muito agitadas ultimamente.

- Estou tão orgulhosa. Quando você saiu daqui dizendo que faria tudo sozinha eu fiquei aflita, mas você conseguiu filha - ela disse se virando para me olhar.

- Sim. Algumas vezes se tornou bem difícil, mas eu nunca pensei em desistir. Ser advogada foi o que eu nasci para fazer mamãe, e estar trabalhando na Unions é a realização desse sonho.

- Então, se não é o trabalho, acho que agora você já pode me contar o que está te fazendo ficar triste assim. Não dá para enganar sua mãe, querida. Eu te conheço.

Parei meu trabalho com as verduras e a encarei por instante. Por fim,decidi abrir meu coração.

- Ah mamãe. É que eu conheci um homem, e ele é incrível. Mas além dele ter repulsa por relacionamentos sérios, eu ainda me sinto insegura. Porque ele é tão inteligente e experiente, me ensinou muitas coisas. E eu sou só uma garota boba que não tem nada de interessante. Fico pensando que a qualquer momento ele vai se cansar de mim.

Mamãe ficou em silêncio por alguns minutos, parecia pensar no que eu lhe disse. Mas logo iniciou um diálogo.

- Filhinha, vocês estão juntos? - perguntou.

- Sim mamãe, ou pelo menos estávamos até ontem - respondi ficando mais entristecida.

- E o que aconteceu ontem?

- Eu conheci uma mulher, que me disse que eu não era suficiente para ele. Que logo ele enjoaria de mim e ficaria com ela. Fiquei tão magoada que o mandei embora. Tenho medo mamãe, de prolongar tudo isso e acabar sofrendo mais lá na frente.

- Meu amor, você não tem como saber o que vai acontecer lá na frente. Se quando era pequena você desistisse de andar de bicicleta por medo de cair, não teria aprendido até hoje - ela disse colocando as mãos na cintura.

- Eu sei mamãe. Mas tem essa mulher, ela parece combinar mais com ele do que eu. E ela é linda - confessei.

- Mas se a quisesse, estaria com ela. Não com você. Não seja boba minha filha, se na vida profissional você não fica esperando que os outros decidam as coisas que merece, porque na vida amorosa faz isso? Se você ama esse homem, como posso ver que sim, lute por ele. Numa relação os dois dificilmente são iguais, são duas metades que se completam. Use isso ao seu favor.

- Eu não sei mamãe, mas juro que vou pensar sobre isso.

Mariana - Simples e deliciosoOnde histórias criam vida. Descubra agora