Capítulo 56

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Com já era reflexo de sua memória muscular, Addison virou na cama e estendeu o braço para sentir Derek ao seu lado sem lembrar que aquela noite eles não tinham dormido juntos. Haviam se despedido em Nova York depois do turno de trabalho, no aeroporto, antes que ela pegasse o voo fretado que Bizzy havia marcado para que ela chegasse em Connecticut a tempo para o jantar. Ainda tinham muitos detalhes para acertar sobre o casamento, então Derek também deveria ir, se não tivesse surgido uma paciente com um tumor gigante para ser operado ainda aquela noite. A ruiva havia insistido que ele não aceitasse o caso, que fosse com ela pra Connecticut, que a não a deixasse sozinha naquele jantar, mas a proximidade com o casamento estava deixando o rapaz tão ansioso e nervoso, que tudo o que o cérebro conseguia era pensar daquela forma egoísta, sabendo que a única coisa que poderia relaxá-lo um pouco era algumas horas em uma sala de cirurgias. Addison também usaria aquela desculpa, se pudesse, mas no caso dela, não podia.

Quando abriu os olhos, tudo ainda continuava escuro no quarto, mas logo sua visão se acostumou e, ao tornar mais nítida, ela pode perceber que a luz que conseguia atravessar pela cortina de cor neutra dava ao ambiente uma sensação um pouco familiar. A sensação de que tinha voltado para dali há 15 anos, quando acordava naquele mesmo quarto e ficava naquela mesma posição, ao meio das muitas almofadas, olhando para o lustre de cristal no teto e se perguntando: "Como é que as pessoas limpam isso?".

Quando adolescente aquele era o tipo de pergunta que rondava sua cabeça, o mistério das coisas que aconteciam em sua vida sem que ela percebesse. Acordar na casa dos pais, a casa em que ela passou metade de sua vida, parecia tão vazio que às vezes ela esperava que Constance pudesse esquecer de entrar por aquela porta para lhe dizer o que deveria fazer, só pra não precisar ir pra escola, ou participar de uma das inúmeras aulas que Bizzy a matriculava, na esperança de que, pelo menos uma vez, o dia pudesse ser imprevisível e não um eterno cumprimento de cronograma. Mas aquilo não acontecia nunc e alguém sempre entrava para lhe dizer como começar o dia.

Em Nova York não era assim, ela sempre lembrava como deveria começar o dia, o que deveria fazer, quais seus planos nada monótonos... Mas naquela ocasião ela não estava em Nova York e sim em seu ambiente do passado. Ficou em silêncio por alguns minutos, talvez aguardando que o cronograma se cumprisse, mas ninguém entrou pela porta e ela enfim lembrou que não tinha mais Constance, muito menos alguém para lhe dizer o que fazer. Sentou na cama e deu de cara com o vestido de noiva em um manequim de aparência vintage que deveria ter exatamente suas medidas. Era o vestido que ela tinha escolhido, provado por muitas vezes em Nova York antes de ele ser colocado em um baú grande ao lado dela no voo fretado que a levou a Connecticut na noite passada. Olhando assim, de perto, depois de alguns dias da última prova, ela tinha certeza que tinha algo de diferente. Um toque de Bizzy. Se aproximou um pouco para ver mais de perto e percebeu que a renda florida na cintura era exatamente a que Bizzy havia gostado e não a que ela havia escolhido. Apertou os olhos fazendo uma negativa com a cabeça e caminhou até a janela para conferir o que acontecia lá fora.

As pessoas se movimentavam arrumando as mesas, as cadeiras, o altar, o palco onde a banda contratada tocaria. Um caminhão estava parado no jardim e de lá alguns homens entravam e saíam trazendo muitas flores em buquês, vasos e cestos. Eram guiados por Bizzy, Susan e Gloria, que caminhavam de um lado a outro indicando o que as pessoas deveriam fazer. Haviam cadeiras brancas alinhadas há alguns metros da mesa e um altar que começava a ser montado. Aquilo realmente estava prestes a acontecer e Constance nem estava por perto para segurar suas mãos ou lhe dizer como se comportar.

Depois de escovar os dentes, Addison colocou uma das roupas que havia levado e saiu do quarto sem ser percebida. Como a festa aconteceria lá fora, dentro da casa somente os funcionários habituais circulavam. Archer e Captain não estavam na sala, então ela caminhou até a cozinha sem falar com ninguém, para sair pelos fundos, mas teve que driblar as perguntas das pessoas que trabalhavam lá antes de convencer o motorista a lhe entregar as chaves de um dos carros para que saísse sem ser percebida. Precisava de um tempo longe dali para pensar no passo que estava prestes a dar e como seria dali pra frente. Não lembrava de se sentir tão ansiosa e nervosa daquele jeito desde a última competição de equitação que participou quando tinha uns 12 ou 13 anos de idade. Ainda assim aquilo ainda era fácil perto do que estava prestes a encarar. Dirigiu até o clube, que era o único lugar daquela cidade onde costumava ir para esquecer seus problemas e ficou por lá por alguns minutos, caminhando pelos caminhos arborizados, pensando se Derek, a família dele ou quem sabe seus amigos já tinham chegado na cidade. A ideia de fazer o casamento tão longe de Manhattan parecia cada vez pior à medida que aquela festa se aproximava. Apertou o celular na mão sentindo vontade de ligar pro namorado, mas ainda achava que era muito cedo e tinha medo que ele tivesse ocupado de alguma maneira. Continuou caminhando e viu que há alguns metros as pessoas jogavam polo no campo. Se aproximou para assistir ao jogo e sentou na arquibancada baixa de madeira. Adorava sentar ali com suas amigas para assistir aos jogos de polo quando era adolescente. Lembrou de quando um de seus namoradinhos começou a ensiná-la a jogar acreditando que ela realmente se interessava por aquilo.

SummeryWhere stories live. Discover now