Capítulo 40

589 14 9
                                    

Era sábado. O dia em que Carolyn costumava sair logo após o café da manhã para fazer as compras de supermercado para a semana. Como a família era grande e a matriarca sempre gostava de produtos frescos, principalmente as frutas e legumes, todos os fins de semana ela ia até o mercado fazer as compras. Antes aquele era um dia animado, quando as crianças ainda eram crianças e costumavam insistir bastante para que ela as levassem para o que para elas eram um passeio. Mas agora tinha que lidar apenas com o silêncio antes de sair de casa sem ter mais de quem se despedir. As crianças, não eram mais crianças, e não mais insistiam para acompanhá-la na esperança de que ela lhes comprasse um agrado, porque agora não ficavam mais em casa sequer para vê-la saindo. Estavam todos em seus respectivos trabalhos, ganhando dinheiro para comprar seus próprios agrados, ou dormindo no quarto depois de uma noite de trabalho no hospital ou de uma noite de festejo com os amigos. Aquele último, claro, era o caso de Amelia, que havia saído pela tarde no dia anterior e chegado em casa exatamente às 03:00 da manhã. Carolyn sabia porque estava acordada olhando pela janela de minuto em minuto, preocupada sem saber onde a caçula estava. Não queria demonstrar aquilo para os filhos mais velhos, não queria preocupá-los ou atrapalhar seus preciosos, e tão raros, momentos de descanso, para pedir ajuda para procurar por Amelia. Não tinha nada a fazer além de esperar que a caçula chegasse.

Desde o incidente em Maine, todos eles pareciam de certa forma revoltados com ela pela vergonha que Amelia os fez passar. Até mesmo Liz havia comentado em uma de suas ligações que o comportamento de Amelia era inadmissível diante de toda a família. Eles se comportavam e a olhavam como se ela fosse culpada por toda crise da adolescente, como se não fosse ela a maior envergonhada com o que aconteceu aquele dia.

A família de Christopher costumava ser perfeita. Ele era perfeito. Enquanto era vivo, os filhos dele eram perfeitos também, mas ela não havia conseguido manter aquele padrão. Não com Amelia.

Antes de sair de casa para fazer as compras do supermercado, Carolyn subiu para conferir que Nancy continuava dormindo no quarto dela. Havia chegado em casa exatamente quando Derek saía apressado com Kathleen sem tomar café da manhã. Ela parecia exausta, sonolenta, o que sempre deixava a mãe aflita e preocupada ao imaginar que ela havia atravessado a cidade dirigindo para chegar até ali. Apenas deu um abraço rápido no irmão e recusou o convite que a mãe lhe fez, para comer as panquecas que ela havia preparado na cozinha, enquanto caminhava até o corredor que levava as escadas para subir. Agora dormia exatamente com a mesma roupa que havia chegado do trabalho, os pés ainda cobertos pela meia-calça branca pra fora do cobertor e os braços cruzados abaixo da cabeça servindo de apoio. A matriarca fechou a porta da primogênita devagar para não fazer barulho, em seguida caminhou até o quarto da caçula, que também estava jogada na cama também com a mesma roupa do dia anterior; mas essa ao mesmo se preocupou em tirar os sapatos. Depois de fazer uma negativa com a cabeça, ela saiu, deixando as duas em casa.

Amelia acordou dali há algumas horas, depois de sentir uma pontada forte na cabeça lembrando sobre a noite anterior. Havia sido divertido lá com os amigos, mas, como sempre, não era tão divertido no dia seguinte. Puxou uma almofada para cobrir o rosto, querendo voltar a dormir, mas uma vez que sua mente já tinha consciência de que havia um mundo lá fora, ela voltava a ter todas as suas sensações e aquela sede infernal era uma delas.

A garota sentou na cama, esfregando os olhos, e contraiu os lábios antes de sair do ambiente confortável e quente para sentir uma corrente passando em seu corpo por conta do piso gelado. Levantou e caminhou, quase se arrastando, até a porta e, quando abriu, foi surpreendida por encontrar com Nancy no corredor. Ela também pareceu surpresa. Passava pelo corredor trazendo um sanduiche em um prato pequeno e segurando uma caneca com leite quente na outra mão. Amelia tentou sair e fazer de conta que não tinha visto a irmã, mas Nancy se apressou em deixar o que tinha em mãos em um móvel para se aproximar dela, fazendo-a entrar novamente no quarto.

SummeryWhere stories live. Discover now