Capítulo 47

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O casamento de Liz foi algo simples. Ao menos na visão de Carolyn que esperava preparar uma festa que pudesse ser comparada ao que foi o casamento de Nancy, mas obviamente a Liz não teria uma tão luxuosa. Apesar de ter mudado muito, externamente, internamente ela ainda tinha muito daquela menina de antes de ir para Paris, e não se importava tanto com coisas chamativas. Além e que ela e o namorado pareciam estar sempre com o dinheiro contado e faziam economia para absolutamente tudo.

Carolyn nunca imaginou que a filha fosse tão ligada naqueles assuntos financeiros. No apartamento dela, pequeno, mas onde tudo era muito organizado, haviam muitas planilhas grudadas com imã na geladeira, onde o casal controlava cada centavo do que entrava ou do que saía. Ninguém nunca costumou se preocupar muito com aquilo enquanto morava com ela. Exceto por Derek, que desde que o pai morreu sempre procurou encontrar formas de fazer com que o dinheiro que a mãe ganhava no trabalho de enfermeira, pudesse suprir as necessidades deles sem que eles precisassem mexer no dinheiro que Christopher havia deixado do seguro de vida e que Carolyn costumava economizar no banco para a faculdade dos filhos. Depois que eles alugaram o local em que tinham a loja, o jovem se interessou bastante por encontrar formas de assumir o papel que antes era do pai, mesmo que a mãe nunca tenha pedido por isso. Mas agora Carolyn via que Liz também tinha ganhado aquela responsabilidade durante o período em que ela morou sozinha, e não deixou de se sentir um pouco culpada, imaginando que se um dia ela precisou economizar, provavelmente foi porque a mãe deixou faltar; mas a verdade é que Liz deixou de aceitar a ajuda financeira da mãe porque gostava de se sentir independente sobrevivendo com o dinheiro que ganhava como modelo, mais tarde como estagiaria do hospital em que trabalhou e fez seu treinamento antes de se tornar uma pediatra. Em Nova York não seria diferente.

Não só pelo tempo fora, mas também por já ser assim antes de viajar, Lizzie era a filha mais distante de Carolyn. Ela nunca soube entender porque, mas sempre foi daquele jeito e depois que ela voltou para a América, aquilo parecia ter ficado mais forte. Depois de já ter ouvido todas as histórias que a filha tinha pra contar, e não ter mais o que perguntar, sempre que elas ficavam sozinhas em algum lugar, não tinham assuntos para continuar conversando. Então Carolyn fazia o que sabia de melhor, e o que mais deixava Liz irritada: começava a falar de seus outros filhos, os que existiam, os primogênitos, que pra ela sempre foram intocáveis. Nancy e Derek.

Ela já sabia tudo o que tinha que saber sobre Nancy e Derek, mas aquele era um período delicado. Nancy estava grávida, casada com um homem milionário, morando em uma mansão, sendo médica atendente em um dos melhores hospitais da Costa Leste e aquilo fazia dela o exemplo máximo a ser seguido naquela família. Liz era só a jovem, desempregada, que havia voltado da Europa, tinha o casamento marcado e um apartamento pequeno, cujas despesas ela dividia com o namorado: um fotografo altruísta que colocava a arte acima de qualquer ambição. Era óbvio que com todo aquele cenário, ela ouviria da mãe que deveria seguir o exemplo de Nancy, porque a Nancy isso e a Nancy aquilo. Apenas revirava os olhos e aguentava em silêncio, como sempre fez. Em caminho oposto a Amelia, que provavelmente detestava a família por aquele mesmo motivo, ela nunca explodia, pois sabia a importância da família e achava que aquilo era maior que qualquer coisa. Havia herdado aquela resiliência de Christopher.

Apesar de não conseguirem pagar por nada tão grande, e não aceitarem o presente caro que Nancy gostaria de dar em uma troca indireta de ser madrinha do primeiro filho do casal, a festa, Liz e Jeremy conseguiram fazer algo bonito e bem planejado para o casamento. Ele estava trabalhando em um estúdio de fotografia em Manhattan e ela havia conseguido um emprego em uma clínica no Brooklyn. Teve um pouco de dificuldades em validar o diploma na América com toda a burocracia que exigia aquele tipo de coisa vinda de um governo que cada vez mais queria dificultar a vida de possíveis imigrantes. Então não teve como começar a trabalhar no Mount Sinai. A clínica não era tão pequena, era um apanhado de médicos de muitas especialidades, então ela achava que aquele tipo de trabalho, medicina cooperativa, tinha mais a ver com ela do que a rotina de um hospital e cirurgia. Ela gostava de conhecer os pacientes e lidar com cada caso de uma vez. Fazia consultas particulares e ganhava um bom dinheiro com aquilo, além das porcentagens nas consultas pelos planos de saúde.

SummeryWhere stories live. Discover now