Capítulo 44

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Apesar de a claridade lá fora indicar que aquele dia seria mais ensolarado que o anterior, Carolyn sentia que havia algo de diferente. Enquanto olhava pela janela de seu quarto, como de costume, notou que ninguém passava pela rua, que as folhas secas das árvores começavam a cair indicando o começo de uma nova estação e que o vento varria algumas pelo asfalto. Tudo aquilo deveria emitir um som que ela costumava gostar de ouvir sempre que abria a janela, mas só o que existia era o silêncio, como se tudo não passasse de um filme mudo.

Talvez pudesse existir um mecanismo no corpo humano que anulasse completamente algum sentido quando as pessoas estão escandalizadas com algo, ela começava a pensar. O dia após uma tragédia, pra ela, sempre era marcado pelo silêncio. Mas aquele dia 12 não parecia ser apenas uma impressão sua. O silêncio era real. Como se todos tivessem combinado de fazer aquilo em respeito às vítimas do que aconteceu no dia anterior, ou apenas como se todos realmente não tivessem palavras para manifestar o que acontecera. Seja por medo ou respeito, pelo o que ela podia notar, as pessoas nem mesmo saíram de casa para comprar pão fresco para que suas famílias fizessem a primeira refeição do dia.

A matriarca saiu da janela e desceu para começar a preparar o café da manhã, tendo em mente que aquele seria um dia atípico com todos os filhos em casa durante todo o dia. Passou no quarto de Amelia, para conferir se ela continuava dormindo bem, no de Kathleen, e evitou abrir a porta de Derek, ainda que aquilo fosse quase automático e tivesse que se frear quando já estava com a mão em posição de girar a maçaneta. Ele estava com a namorada em casa e, desde que aquilo se tornou frequente, ela evitava entrar lá sem ser anunciada com medo do que poderia encontrar. Seguiu seu caminho pelo corredor estreito, desceu as escadas e, quando chegou na sala, se surpreendeu em ver que o filho estava sentado no sofá assistindo TV. Não podia imaginar que ele tinha acordado tão cedo, então imediatamente caminhou até ele e parou ao seu lado.

- Bom dia, meu filho. Você caiu da cama? _ perguntou, se abaixando para beijar o rosto dele.

Então pode perceber o semblante cansado e os olhos exaustos, como nunca tinha visto antes. Não prestou atenção no que ele assistia na TV, mas percebeu que Addison estava deitada no sofá com a cabeça sobre a coxa do namorado. Ela estava dormindo, com as pernas encolhidas para caber no sofá, os cabelos cor de cobre espalhados no colo de Derek e a mão dele fazendo um carinho leve em sua cabeça. Carolyn tentava entender enquanto o filho respondia.

- Não. Eu ainda nem dormi.

- Não dormiu? Porque?

- Não consegui _ ele respondeu _ Não consigo. Toda vez que eu fecho os olhos, eu lembro de tudo o que aconteceu ontem.

- Foi realmente muito triste. Mas você foi um herói _ ela comentou acariciando o rosto dele _ Ela também estava lá? _ perguntou apontando para Addison, que dormia tranquilamente.

- Não. Eu não levei ela comigo. Sabia que seria um ambiente muito perigoso. Mas ela ficou no hospital. A senhora pode imaginar que estava uma loucura.

- Imagino _ disse sem tirar os olhos da moça _ E porque você não pediu pra ela ir dormir na cama. Não deve estar acostumada a dormir em um sofá. Ela vai acordar com dores, Derek.

- Mãe...

- Você deveria ter pedido pra ela dormir lá em cima.

- Foi ela quem quis dormir aqui. Está tudo bem.

- Vai dormir você então. Você está com uma cara de zumbi.

O rapaz contraiu os lábios e voltou a olhar pra TV.

- Não consigo dormir.

- Meu filho, isso não é saudável.

Ele não respondeu e Carolyn continuou olhando para o rosto dele.

SummeryWhere stories live. Discover now