Capítulo 22

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22 de outubro de 2015

         Eu caminhava de um lado para o outro enquanto esperava que todos se acomodassem no sofá e resmungassem por terem sido acordados. As luzes foram acesas e Rosângela ficou próxima à porta, as mãos repuxando a barra de sua camisola e os olhos presos na maçaneta, como se fosse fugir a qualquer instante, quando eu desse sinais de fumaça. Mal sabia ela que eu já era um incêndio vivo. Apesar de toda a inquietação, estava conseguindo manter o controle, por hora.

    — Florence, não podia esperar até, tipo, umas oito horas? — Alice reclamou, coçando os olhos.

   — Qual a urgência? — Lucas sentou no braço do sofá, ainda com os olhos fechados. 

   — Flor! — chamou Ben, mas eu não podia me distrair respondendo nenhuma pergunta, muito menos a que ele estava prestes a fazer. Assim, encarei Rosângela, que estava com a mão na porta, a um triz de abrir e se mandar.

   — Conte a verdade — exigi, não havia mais nada em minha voz além do tom sério e acusador. Não permitiria que aquela sonsa desse um passo antes de me dar todas as informações que merecia.

Ícaro, sentado ao chão, antes debruçado sobre a mesinha tirando um cochilo, levantou sobressaltado e trocou algum tipo de mensagem através do olhar para Rosângela, que balançou a cabeça em negação, com força. Ele era mais um cúmplice daquele curioso caso.

    — Não fique calada logo agora! — Nati o pé no chão, a chinela fez um barulho alto e os outros despertaram por fim. — Conte a verdade — falei devagar, fazendo ela abrir a porta.

Fui em sua direção, sendo assistida por rostos assustados e que chegavam à conclusão de que, se eu estava louca, aquela era uma prova. Segurei o pulso de Rosângela, ela gritou em protesto e me empurrou, me fazendo cair no chão. Ben veio me ajudar a levantar perguntando o que estava acontecendo, mas não lhe dei ouvidos. Ela estava fugindo.

Levantei, sentindo uma dor incômoda no bumbum, desviei dos belos e amarelo olhos assustados de Ben e desci as escadas de uma vez, quase tropeçando, o que evitei ao buscar apoio no corrimão. Os passos dos outros me seguiram. Rosângela estava atrás do balcão, vasculhando a gaveta atrás das chaves. Agradeci mentalmente a Deus pelo portão da cafeteria estar trancado.

Isabel foi até ela, a afastou dali com uma cotovelada e encontrou as chaves, enfiando dentro do próprio sutiã. Por um segundo, tudo ficou em silêncio. Fiquei estática, a adrenalina pulsando nas minhas veias e tive que controlar o desejo de obrigar Rosângela a me contar tudo, e com obrigar quis dizer apelar para a violência.

    — O que está acontecendo? — Foi a vez de Ben gritar, ele se colocou entre mim e Rosângela e esperou que uma de nós dissesse algo, o que não aconteceu. A explicação veio de quem eu menos esperava.

   — O que está acontecendo — começou Geórgia, que ainda estava na casa e descia as escadas sem pressa, instalando um suspense no ambiente. Quando ela chegou até nós havia algo diferente. Havia uma chama acesa em seus olhos claros, a mesma chama que queimava minha pele e fazia uma fúria crescer. — Fomos enganados, e esses dois — Apontou para Ícaro e Rosângela. — sabem de tudo.

Otávio e eu nos entreolhamos, sem encontrar nenhuma explicação.

   — O quê? — Deixei a pergunta sair.

   — Ouvi você e Otávio conversando ontem — Ela explicou, olhando para Rosângela de cima a baixo. — Fale a verdade, bruxa velha! Fale a verdade sobre o hotel! 

Isabel cruzou os braços em frente aos seios, para evitar que alguém pegasse as chaves, mas não parecia surpresa. Alice sentou na cadeira mais próxima e enterrou o rosto nas mãos. Lucas ergueu as sobrancelhas e Ben pousou as mãos nos ombros da irmã, a boca entreaberta e uma sobrancelha erguida, mas ainda cético.

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