Quem... é esse?

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  "Se você sabe explicar o que sente, não ama, pois o amor foge de todas as explicações possíveis."
- Carlos Drummond de Andrade

  23:40 da noite. O velho grisalho mantinha seus olhos fixos na vista da grande janela da varanda, que permanecia coberta pelas gotas da grossa chuva que despencava sobre a cidade. Preso em devaneios, lembra-se da ligação que havia feito há poucos dias:

" Eu peço desculpas pelo imprevisto, Watari. Mas essa faculdade aqui em Londres será melhor para o desempenho profissional da Viollet. Preciso da sua ajuda, ao menos pela próxima semana. 7 dias, é o que te peço"

    Não iria decepciona-lo. A amizade de longo prazo entre Watari e Adam era algo no qual o mesmo orgulhava-se. Além do mais, Viollet Scott era como uma filha para ele.
    Sabia da essência doce e amável da garota desde a primeira vez que a vira. Achava uma pena a personalidade da mesma ter sido tão abafada por conta da criação rígida e distante da mãe, de quem Watari nunca gostou muito.

    Ouve passos leves e arrastados, vindos do quarto, em sua direção. Virando-se de costas, da de cara com os olhos negros e profundos de seu jovem afilhado:

- Ela ainda vai vir, Watari? - Diz em um tom de voz suave, extremamente agradável aos ouvidos.

- Vai sim. Estou à espera. - Responde enquanto acompanha o rapaz sentando-se na poltrona ao seu lado e vidrando os olhos no laptop.

    A profissão trabalhosa e cansativa possibilitou a Watari fazer o que realmente amava: acolher crianças que precisavam de auxílio. Havia, assim, fundado inúmeros orfanatos, onde, em um deles, conhecera o garoto que pôde chamar de filho.
 
    Pelo visto, a alma doce e acolhedora daquele indivíduo estava presente lá dentro desde os primórdios.

- Lawliet. Peço que seja receptivo com a Viollet. Ela é uma garota doce, mas um pouco retraída. - Pede o mais velho, sentando-se ao lado do afilhado - Imagino que vocês se dariam bem, se tentasse fazer amizade.

- Watari... - Responde, sem desvencilhar os olhos da tela do computador - Essas não são minhas prioridades no momento. Mas irei deixá-la a vontade, na medida do possível.

- Algum caso novo? - Pergunta o senhor, ignorando a resposta anterior.

- Ainda não. Mas creio que logo vá aparecer. O mundo está cheio de pessoas revoltadas como o Sr. Jones.

- Você fez um ótimo trabalho. Recebi notícias de que ele foi condenado à prisão perpétua ontem, pelos crimes que cometeu. L conseguiu mais uma vez.

- A justiça sempre vence no final, Watari. Fizemos um ótimo trabalho. - Sorri o mais novo, finalmente o encarando.

   Fechando o laptop e retirando-se da sala, Lawliet anda em direção ao quarto em passos lentos e despreocupados. Estava certamente orgulhoso de si mesmo por ter mais um caso solucionado com sucesso.
    Enquanto isso, Watari continua à espera de Viollet, que infelizmente, não iria poder saber nem um terço da conversa que acabara de ter com seu afilhado. O anonimato de L, o maior detetive do mundo, precisava ser mantido e guardado como um tesouro.

                                          ¥

     Apertando o botão do andar indicado, Viollet prensa os dedos contra o tecido da calça que a esquentava na noite gélida e chuvosa. A tensão também era grande com todo o imprevisto.
Não queria ser um incômodo para Watari, que tanto a fazia bem.
   A espera era ansiosa, e o coração pulsava
acelerado conforme os andares iam se aproximando do destino.
    A chegada fora rápida. Quando virou-se para a porta recentemente aberta, pôde ver o hall de entrada do apartamento. Uma área grande e espaçosa, assim como o lobby do hotel. Os calafrios tomaram conta do corpo de Viollet por inteiro. Se pudesse, evitaria de todas as maneiras ter de tocar aquela campainha. Mas não havia escolha. O dedo, trêmulo, encosta suavemente no botão, protelando apertar.

*Ding dong*

O som soa suave - chique -. As pernas trêmulas da garota aceleram o ritmo ao ouvir, por trás da grande porta de madeira, os passos de quem viria recebê-la.

- Viollet! Como cresceu! Que bom que chegou em segurança! - O velho de rosto simpático fala em meio a um sorriso.

- Boa noite, Watari! Desculpe a demora. - Responde, deixando um sorriso escapar ao ver a doce figura do mais velho, que já não via há um tempo. - Precisei vir andando do ponto de ônibus até aqui.

- Então você deve estar exausta! Entre, já está tudo pronto para você aqui! - Diz Watari, abrindo espaço para que a garota entrasse no apartamento.

  Viollet ainda se perguntava o porquê de Watari estar em um hotel, e não em sua casa. Porém, questionamentos desse tipo poderiam ficar para outra hora. Com passos tímidos, a garota adentra no local.

  Móveis simples, com paredes amareladas e um tapete chique no centro. Dois sofás grandes e uma mesa com vários doces espalhados pela mesma.

    O tempo de observar o apartamento fora curto para a garota, que jurava que só haveria Watari ali. Numa fração de segundos, teve seu corpo completamente congelado, no momento em que seus olhos o fitaram. Encarou o sujeito que estava sentado na poltrona daquele mesmo cômodo.

    Não se sabia o motivo daquela reação. Apenas um susto, talvez? Os olhos de Viollet fixaram-se nas pupilas negras do rapaz à sua frente.

"Quem... é esse?"

Pensa, ao acompanhar os leves e tranquilos passos daquela figura que possuía uma postura um tanto quanto curvada.

    - Prazer. Você dever ser a Viollet. -  Diz, olhando diretamente para os olhos azuis da garota. Com uma voz tão suave que tornava-se agradável aos ouvidos, como de costume.

     Em um reflexo, a menina já pôde reparar as características mais marcantes do jovem que a cumprimentava:

    A pele extremamente pálida, quase sem vida, tornava-se bonita em contraste com os negros e bagunçados cabelos. Sua blusa de manga longa e calça jeans, ambas folgadas, pareciam destacar-se também. Porém, o que mais a chamou atenção foram as olheiras, quase que tatuadas a baixo dos penetrantes e acinzentados olhos daquele rapaz. Tudo era diferente... era exótico.
      Viollet julgou que ele não fazia seu tipo. Durante toda sua vida preferiu os mais robustos e arrumadinhos. Entretanto, sentiu- se completamente atraída fisicamente por aquela "criatura".
     Talvez o olhar... Não se sabe...A única certeza é que pôde sentir seu coração despencar em batidas pesadas, quando fitou os olhos dele.

- Viollet, permita que eu os apresente. - Diz Watari, percebendo claramente o quão desnorteada estava a garota - Esse é Ryuzaki, meu afilhado.

- Prazer, Ryuzaki. - Cumprimenta, engolindo seco e evitando fitar os olhos do rapaz por muito tempo para que não ocorresse um desmaio.

- Prazer. - Responde de forma curta e certeira, como um tiro.

    Permaneceu calada, pensando, entre mais de mil palavras quais seriam as mais apropriadas para serem ditas ali. Quando se deu conta, o rapaz já havia voltado à poltrona em que se encontrava inicialmente. Sentando-se de forma peculiar, com os joelhos encostando no abdômen, Ryuzaki olha fixamente para o *laptop* em cima da mesa.

    Em movimentos rápidos, Viollet vira-se, pegando suas malas. A dificuldade para situar-se era explícita. Estava desnorteada. Porém, ignorou as mãos geladas e foi em direção ao quarto que Watari a havia indicado.

    Dando de costas e indo fechar sua porta, a garota desvia seus olhos, evitando ter contato visual com silhueta do rapaz. Com muito remorso por não ter tido coragem de olhá-lo mais uma vez, encarando o chão, Viollet completa sua "missão" e se vê sozinha em seu quarto de hotel.
     Deitando-se na cama extremamente arrumada pelos próprios camareiros do local, finalmente relaxa os músculos e suspira profundamente:

  "O que acabou de acontecer aqui?"

Continua...

Love Line { Concluída } Onde histórias criam vida. Descubra agora