Do suplício a reflexão

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"A vida é um campo de urtigas, onde a única rosa é o amor"
- Victor Hugo

    
    Nem sempre somos capazes de entender as motivações dos outros. Os porquês de fazerem certas coisas e de tomarem determinadas atitudes. Estamos apenas no controle de nós mesmos, e é isso que torna a vida tão surpreendente.

    Com as mãos gélidas e as pernas trêmulas, Viollet era incapaz de dar um passo se quer. Pensara em correr dali, porém, não tinha forças. Aquilo não poderia ser verdade!
    Lembrou-se de seu desabafo. Quando perguntou  a Ryuzaki sobre seus segredos. Quando jurou estar ao lado dele para ouvi-los, e expôs seus próprios demônios. Ali, naquela fonte, no momento em que a mesma julgou ser o mais sincero e recíproco que os dois já haviam vivido, Ryuzaki mentiu para ela.
    Ouve o caminhar do rapaz. O mesmo aproximava-se da porta, prestes a sair do cômodo. Viollet, ainda assim, foi incapaz de dar um só passo.

     Ao colocar o primeiro pé do lado de fora, Lawliet tem seus batimentos interrompidos pelo susto. Ali estava ela, pálida e aturdida, dona de um olhar que não possuía a mínima expressão.

   " Ela só pode ter me escutado..." Pensa, percebendo que errou ao imaginar que Viollet fosse esperá-lo na recepção.

    O pânico adentra o corpo de Ryuzaki em questão de segundos, descompensando seus batimentos cardíacos instantaneamente e tornando suas mãos frias.
     O que diria a ela? O que ela pensaria sobre ele? O mesmo poderia achar-se um monstro, mas não suportaria que Viollet o visse como tal. O pior havia acontecido!
   
   - Viollet... achei que fosse ficar na recepção - Diz o rapaz, tentando agir naturalmente.

    A garota permanece calada, o encarando espantada. Seu peito doía e os dedos tremiam conforme se esforçava para dizer alguma coisa.
    Sentiu-se em casa. A voz maliciosa de sua mãe ecoava em seus ouvidos, juntamente com as exatas sensações que costumava sentir diante dela. E aquilo fora a gota d'água.

   - O que você escutou? Eu...- Diz o rapaz, aproximando-se dela

   - Não encosta! -  Reage, liberando a frase em uma voz trêmula.

    Ali, Ryuzaki sentiu a dor de uma facada. Talvez, ainda pior que uma facada. Todos os seus músculos se contorceram, e seu coração pesou. O forte aperto ao ouvir aquelas palavras de Viollet, o fez recuar no mesmo instante.
     Já sabia que ela o havia escutado, e era tarde demais. Ali, fora consumido pelo terror. Pelo medo e remorso de ter, acidentalmente, decepcionado à quem amava.

     A garota fecha seus olhos, apenas sentindo o fogo em seu peito. Dessa vez não era uma temperatura agradável. Não conseguiu esconder sua fragilidade e sensibilidade naquela situação, e isso a tornou incapaz de dizer qualquer coisa. Apenas queria chorar.

  - Eu... decidi que iria te contar no último dia. - Acrescenta o rapaz, num tom de voz baixo, ao notar que ela não falaria nada.

  - É que... - Inicia, ainda trêmula - Eu já não sei mais no que acreditar.

      Após dizer isso, Viollet da meia volta, escondendo os olhos marejados. Saíra do apartamento, em passos rápidos. Queria virar-se para trás, mas não conseguia olhar nos olhos de Ryuzaki. Os olhos cativantes, que tanto a encantavam, e que transmitiam uma confiança surreal, eram os olhos de um mentiroso.
    Naquele momento, o fato dele ser L não importava. Poderia se tratar de um Rei, uma estrela da música, ou qualquer outra figura importante. Ali, ao reproduzir em sua mente as mentiras que Ryuzaki a havia contado, não foi capaz de sentir mais nada. Os pensamentos de Viollet foram invadidos pela fumaça turva da decepção, tornando-a incapaz de enxergar os reais motivos por trás de tudo aquilo.

   Lawliet deu o primeiro passo. Queria ir atrás dela, segurá-la pela mão e impedi-la de sair. Porém, parou.
   E ali, o detetive sentiu a maior agonia que já havia sentido. A dor de ver aquela menina, a qual ele amava mais do que tudo, chorando por sua causa. Pela sua irresponsabilidade. O peito estava frio e as mãos suadas, tomadas pela mistura de sentimentos dolorosos e lúgubres que invadiram seu coração.

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Love Line { Concluída } Onde histórias criam vida. Descubra agora