Rosas e espinhos

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"Qualquer um pode amar uma rosa, mas é preciso um grande coração para incluir os espinhos."
- Clarice Lispector

    Pessoas costumam possuir seus próprios demônios. Aqueles que sussurram em nossos ouvidos como almas perdidas no vazio.
Lembranças do passado, medos em relação ao futuro, e até mesmo frustrações com o presente.
   Na maioria das vezes, nos sentimos como fardos. Simples pedaços de carne, incapazes de realizar grandes feitos.

    Tentamos fazer amigos para nos divertir;
    estudamos para arrumar um emprego;
    comemos para ter prazer...
   
    E tentamos amar.

    Almejamos esse sentimento desde os primórdios. Ter as estruturas balançadas e derrubadas por uma brisa suave e deleitosa, é algo que todos mereciam sentir pelo menos uma vez na vida. Como o sopro das manhãs cálidas de verão, onde o vento carrega consigo um frescor abrasador e radiante.

    Contudo, o amor torna-se complicado a partir do momento em que percebemos que, além de nós, todos possuem demônios. Medos, traumas e motivações que nem sempre vamos conseguir compreender. Lembranças de uma vida completamente distinta. Fantasmas de um mundo desconhecido, os quais só podem ser enxergados pelos que os possuem.
     Porém, com o amor, nos sentimos dispostos a compartilhar das nossas maiores inseguranças. Descobrimos sobre a parte mais vulnerável do outro e acabamos nos expondo. Acabamos delegando nossas estruturas desgastadas pela vida à alguém, sem a certeza do que acontecerá a seguir.
    Juramos estar lá, independente do que seja; e juramos confiar, pois o coração já tomou tal decisão.

   E é aí que amar torna-se tão simples. Quando o mesmo constrói barreiras, fortes o suficiente, para combater todos os demônios e assolar todas as almas, transformando seus sussurros fúnebres nas mais belas canções.

  E era assim que o casal se sentia. Viollet estava pronta para compartilhar das dores que guardara por tanto tempo.
   Já Lawliet, estava disposto a ouvir e entender cada detalhe daquilo, jurando estar lá até o último suspiro.
   Mantinha seus profundos olhos concentrados na garota, que contava sua história:

    - ... E aí, meu pai decidiu me mudar de faculdade, e terei de voltar para Londres. Voltarei a morar com minha mãe. - Encerra com os olhos úmidos, sem acreditar que havia contato tudo aquilo. Porém, estava aliviada. Livrou-se de um peso.

    Um silêncio foi instalado no local. Lawliet não conseguia mover-se. Via cada fragmento de suas estruturas e convicções sendo arremessadas para longe, ao ouvir tais palavras. Como aquela menina, tão prejudicada psicologicamente pela mulher que deveria amá-la, conseguia sorrir tão abertamente á sua frente? Como a pessoa que iluminava seus dias escondia tanta escuridão por dentro?
   Agora tudo fazia sentido. Toda a personalidade escondida dentro dela se dava por conta de pressão psicológica! Como não havia pensado naquela possibilidade!?
      Ryuzaki fitava o chão com uma expressão semelhante à de dor. Doía ouvir a pessoa que mais o fazia feliz dizer aquilo, e não poder fazer nada. Não poderia nem ao menos dizer seu verdadeiro nome a ela.
   L, pela primeira vez, sentiu-se incapaz.

    - Sei lá... as vezes eu só penso em desistir. Parar de lamentar todos os dias, e me entregar à minha mãe de uma vez. Ela ficaria feliz estragando minha vida. Conseguiria o que quer. - Resmunga a garota, já não se importando mais com o que dizia à Ryuzaki. Parecia estar falando consigo mesma. - Ela conseguiu estragar até um momento como esse!

    Lawliet sentiu seus ouvidos sangrarem e coração apertar ao ouvir aquilo. Sentiu como se recebesse a mais súbita flechada no peito.
    Como ela podia dizer isso? O que seria dele se ela desistisse? Quem tomaria o lugar dela? Quem iluminaria seus dias e seria a pessoa maravilhosa que o mundo tanto precisava? Se a mesma estava ali com ele tinha algum motivo, não tinha? Ali, corrigiu-se: não só estava apaixonado por ela. Ele a amava. Amava ao ponto de desejar ter o poder divino de apagar todo aquele passado terrível e vê-la sorrir. Sabia que se pudesse, ao estalar dos dedos, passaria toda sua mágoa para ele mesmo.
   
     Ryuzaki não era bom em conselhos. Nunca foi. Porém, o destino preparou as palavras perfeitas para aquela situação e as colocou na mente do detetive, que não tardou em falar:

Love Line { Concluída } Onde histórias criam vida. Descubra agora