SOBRE UMA PRINCESA E A SUA MENTIRA PERFEITA [COMPLETO]

02. LORDE EM APUROS

Não consigo fazer com que o meu coração pare de bater de forma arrítmica, levando-me a crer que acabarei mortinho antes de chegar onde quero e que a culpa é toda de vossa alteza real, princesa Elisabeth Vários Sobrenomes Greenhunter.

O que diabos ela veio fazer aparecendo de surpresa na minha casa, quando eu estava com uma visita? Eu esperaria isso de qualquer outro filho do rei de Orion, menos de Elisabeth, e o fato de esperar de todos menos dela é o que torna a coisa toda pior, pois não sei o que ela pode fazer a respeito do que viu. Não sou próximo dela o suficiente para sequer ousar pensar em possibilidades.

"Puta que pariu. Porra. Caralho. Inferno de vida", descarrego minha frustração em palavrões enquanto fico, mais uma vez, preso no trânsito da capital.

Deve fazer apenas meia hora desde que Philip e eu nos beijamos na porta da minha casa e a princesa apareceu de repente com a fofoqueira da Antonella a tiracolo (o que me faz crer ainda mais na minha desgraça iminente). Depois disso, eu posso ou não ter surtado com o Philip (pobre coitado) sobre ter acabado de ficar com os meus dias contados e então entrado em parafuso sobre o que fazer, até enfim me decidir sobre conversar com Elisabeth. Por isso, agora estou preso no trânsito a caminho do palácio.

O modo como minhas mãos tremem mesmo estando presas ao volante com força me deixa ainda mais nervoso e inquieto. Estou com tanto medo do que pode acontecer, porque certamente confirmar que saio com homens iria deixar Amy Stone e sua laia da The Royals em polvorosa a ponto de o assunto render por meses, que disco o único contato de emergência disponível a me atender a todo momento.

"Tobias?", a voz dela é como uma harpa lírica aos meus ouvidos. Basta ouvi-la e me sinto um pouco mais calmo.

"Oi, mãe", soo como se estivesse tendo o meu peito pressionado por chapas metálicas, quase sem ar.

"Aconteceu alguma coisa, filho? Você parece estranho".

É só que acho que hoje todo mundo vai saber que sou bissexual e o papai vai surtar e me levar para um daqueles acampamentos extremistas bizarros que prometem a cura gay. Nada de mais.

"N-não aconteceu nada", o tremor na minha voz não concorda com a minha afirmação e tenho bastante consciência disso.

"Tem certeza, Tobby?", Sara Durkheim questiona.

Eu detesto quando ela usa esse apelido, que mais parece um nome de cachorro, mas não reclamo dessa vez. Se a merda for mesmo arremessada no ventilador, sei que vou precisar muito do apoio da minha mãe. Ela é a única que conseguirá impedir que o meu pai me mate ou me mande mesmo para o tal acampamento da cura gay.

"Tenho. Só liguei por estar com saudade", consigo fazer com que minha voz soe estável e isso por si só já é uma grande vitória, dada a situação em que me encontro. Felizmente, enquanto falo, o trânsito ao menos volta a seguir o seu fluxo.