16. LORDE DOS IDIOTAS

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É assustador admitir, mas eu havia me acostumado com a ideia de Elisabeth como alguém próximo a mim

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É assustador admitir, mas eu havia me acostumado com a ideia de Elisabeth como alguém próximo a mim. Pegava-me todos os dias querendo compartilhar coisas bobas com ela e encontrá-la (o que não vinha acontecendo com frequência, por causa de nossos horários), sentia falta de beijá-la (a ideia de que se repetisse o beijo pararia de pensar nisso se provou completamente errônea) e, definitivamente, estava começando a me confundir sobre o que era real e o que não era entre nós.

É claro que, no início, eu deixara claro que não procurava um relacionamento, mas, mesmo havendo um acordo entre nós, começava a me perguntar até que ponto o que eu fazia com ela era apenas em prol do namoro falso.

Tudo isso passava pela minha mente em um redemoinho de pensamentos todos os dias... até que foi abruptamente substituído pelo assunto de uma ligação feita a mim por Lucas.

Hoje de manhã, o meu irmão mais novo me disse que os nossos pais tiveram uma briga feia (nada de novo sob a coroa de Emmaline, acredite), em que Sara chegou a mencionar divórcio e nosso pai não pareceu nada abalado por isso. De acordo com Lucas, George apenas fez as malas e disse para ele que viajaria à Londres para cumprir com negócios pessoais, afirmando que não tinha paciência para lidar com os dramas da nossa mãe. Lucas então ligou por achar que mamãe ouviu o que ele disse. Queria me pedir para conversar com ela e tentar consolá-la.

Mesmo sabendo que não era um caso isolado de discussão recente (Sara pode ter negado, mas minha intuição me guiava a crer nisso), hesitei sobre falar com minha mãe. A verdade é que, desde que cresci o suficiente para perceber que a família Durkheim não é nenhum exemplo de comercial de geleia de morango, meter-me nas intrigas dos meus pais se tornou desgastante. E, no fundo, eu sabia o que Sara diria.

Mesmo assim, liguei.

E ouvi o mesmo discurso de que não precisava me preocupar, que Lucas havia aumentado a história, que o divórcio não era uma opção, que o meu pai era bom para nós... ouvi-la falar me fez sentir estúpido por me preocupar e indignado por nada fazer Sara tomar qualquer atitude que a beneficie.

De repente, a confusão de sentimentos que havia me tomado por causa de Elisabeth havia sido abruptamente substituída por toda a raiva acumulada dentro de mim acerca desse assunto.

Eu provavelmente não deveria pensar dessa maneira, mas odeio o meu pai. Provavelmente, se declarasse algo assim publicamente, haveria distorção da realidade e o vilão ingrato da situação seria eu, o filho rebelde e de reputação duvidável. Assim, mantinha tudo isso para mim mesmo. E lidar com esse acúmulo de raiva não é nada fácil, porque a raiva me leva ao medo.

A linha entre ter pensamentos do quanto odeio George e do quanto temo, no fundo, ser como ele é tênue. Eu repudio o quanto ele acaba com a minha autoestima toda vez que deixa claro o seu desgosto sobre mim e repudio ainda mais o que ele faz com a minha mãe, tratando-a bem em raros momentos e como uma ninguém na maioria. Talvez um dia ele tenha mesmo a amado, mas hoje, inegavelmente, Sara é apenas um brinquedo que ele quer manter à sua disposição; um papel que ela aceita passivamente.

SOBRE UMA PRINCESA E A SUA MENTIRA PERFEITA [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora