SOBRE UMA PRINCESA E A SUA MENTIRA PERFEITA [COMPLETO]

26. PRINCESA ESFORÇADA

Aos poucos os dias se tornam semelhantes e eu estabeleço uma rotina. É bem verdade que, no fundo da minha consciência, os rastros da passagem de Tobias na minha vida ainda existem e, de vez em quando, vêm à tona (principalmente nos meus pensamentos antes de dormir), mas até que me saio bem em me ocupar com outras coisas que agregam mais à minha vida e esquecê-lo um pouco a cada dia.

Desde a nossa conversa, o lorde não fez questão alguma de me procurar ou de sequer entrar em contato de outro modo, então só posso interpretar o seu silêncio como falta de interesse. Por mais difícil que seja lidar com seus rastros, não serei eu a procurá-lo. Prefiro sofrer todos os dias com a consciência limpa de quem tentou a me submeter a imitar os passos de Irene e correr atrás de um homem que não faria o mesmo por mim.

E falando na Irene...

A nossa relação esfriou ainda mais, se é que isso é possível. Por um lado, significa que a rainha já não procura mais conduzir os rumos da minha vida, apesar da sua óbvia insatisfação com as minhas escolhas. Por outro, também significa que é como se eu houvesse ficado órfã de repente. Se Irene já me cobrava muito mais do que aos meus irmãos e a nossa relação se resumia à suas exigências serem cumpridas ou não, agora é apenas o seu distanciamento e silêncio pairando como uma nuvem escura sobre mim.

Uma nuvem escura que me incomoda ainda mais quando temos de dividir a mesa durante as refeições, como agora.

"Então os seus avós paternos realmente irão para a inauguração do restaurante da sra. Tomlinson na semana que vem?", Kyle faz a pergunta do dia (que mal começou) para Cassiopeia, que acena em afirmação.

"Eles ficaram curiosos pelo convite e pelo interesse especial de vossa majestade com a presença deles", Cassie responde, mas é para meu pai que ela olha ao fazer isso e não para Kyle.

Nos últimos dias, além de me apoiar nas mudanças da minha vida, Timotheo IV resolveu que estava na hora de remediar os conflitos entre nós, os Greenhunter, e a família Feng, de uma maneira mais direta. Apesar do casamento da tia Katherine com o primogênito dos Feng ter diminuído as farpas que trocávamos, nossas famílias estão longe de terem perdoado os acontecimentos mútuos do passado e papai quer tentar. Se não por um apelo de amizade, por um apelo de parceria econômica. Os Feng são uma família para lá de rica em nosso reino e investimentos deles em projetos públicos e privados seriam de grande interesse para dar uma guinada na economia de Orion. Assim, ninguém melhor que a futura governanta do condado Morfeu, lady Cassiopeia, descendente dos Feng e também sobrinha da esposa do rei, para mediar toda a questão. Se papai vai conseguir o que quer com esse plano? Sinceramente, torço para que sim.

"Isso é bom", Timotheo IV murmura.

Cassiopeia não parece crer com a mesma convicção, mas opta pelo silêncio. É quando Niklaus decide mudar o assunto de nossa mesa de café-da-manhã: