É no aeroporto que descubro sobre Elisabeth ter anunciado o nosso término de namoro, enquanto aguardo o meu voo de volta para Dominique após três dias perdidos na casa dos meus pais. A verdade é que, apesar de o país todo se desfazer em teorias sobre o casamento de Sara e George, os dois apenas fingiram tranquilamente entre as paredes da residência Durkheim que nada aconteceu. Mesmo quando David se juntou à nós e tentou persuadir Sara a mudar de ideia sobre o divórcio, acabou sendo em vão e meu irmão mais velho voltou para a base militar com o mesmo sentimento de frustração com que eu voltaria para Dominique e Lucas ruminaria ao permanecer sob o mesmo teto que os dois.
Na hora de se despedir de mim, não foi surpresa George não ter aparecido, mas Sara também não deu as caras. Acabou que apenas Lucas e Jia Ding me acompanharam até o limite oeste de Emmaline, onde fica o aeroporto da capital.
"Manda mensagem quando chegar lá no apartamento", essa é a forma discreta do meu caçula (ou ex-caçula, já que ganhei um outro irmão mais novo quando preferia muito mais ganhar dinheiro) demonstrar certa preocupação.
"Claro", assenti.
Assim como eu, Lucas usava de acessórios para esconder a identidade de possíveis mexeriqueiros e paparazzi de plantão. Dessa forma, passávamos despercebido por entre as pessoas que circulavam no saguão.
"Acho que é melhor você ir agora", para ser sincero, despedidas nunca foram o meu forte. Principalmente quando são dirigidas a um de meus familiares.
Foi a vez de Lucas assentir.
Eu queria falar mais, mas as palavras que surgiam na minha cabeça pareciam erradas, então me mantive em silêncio e me voltei para a figura de Jia Ding um pouco distante, para quem acenei.
"Até a próxima, Jovem-Mestre Tobias", ele anuiu em resposta, tocando em seu quepe de motorista.
"Adeus, Jia Ding", optei por uma despedida diferente. Se eu já detestava vir para a casa dos meus pais antes, agora esse sentimento havia triplicado de tamanho.
Foi quando me encaminhei para um dos assentos do saguão para esperar que resolvi me distrair no celular (um novo, substituto do perdido na Starry Night). Assim que desbloqueei a tela do aparelho, várias notificações piscaram e não perdi tempo em conferir se alguma delas era de Elisabeth, que finalmente havia lido a mensagem em que lhe expliquei que esse número era meu e que ela deveria me atender na próxima vez em que telefonasse. Mas não. As mensagens tinham a ver com a Elisabeth em maioria, mas eram capturas de tela ou links de terceiros sobre uma notícia recém-saída na The Royals de que ela e eu terminamos e outra de que ela está tendo um caso com ninguém menos que o príncipe Eric. Óbvio que a minha primeira reação ao ler esse absurdo foi rir e a segunda foi tentar falar com Elisabeth novamente, para esclarecer como diabos ela não me deu sequer uma chance antes acabar com tudo.
No entanto, não obtive resposta naquele momento. Foi Caellum quem, dois dias após minha chegada, me esclareceu que a princesa havia sugerido o nosso término como um meio de contornar o escândalo do meu pai e fazer com que as pessoas fossem o esquecendo aos poucos, o que funcionou. Em poucos dias, já não se falava mais da segunda família de George como nos primeiros momentos e pude voltar para a minha rotina de frequentar a Aureum College e de sair sem precisar temer ser perseguido. Porém, quem disse que consegui pensar em outra coisa senão na maldita princesa nesse meio tempo? A culpa de não ter falado com ela me corroía e me deixava aéreo sobre tudo o que não dissesse respeito a ela. Não tinha coragem de aparecer no palácio sabendo que fui cruel com ela na Starry Night e só me restava torcer para que Elisabeth me atendesse enfim, o que não aconteceu.
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SOBRE UMA PRINCESA E A SUA MENTIRA PERFEITA [COMPLETO]
Romantizm[Este é o terceiro livro da série sobre a realeza de Orion, mas pode ser lido individualmente] Elisabeth Greenhunter é a única mulher dentre os filhos do rei Timotheo IV, e tendo crescido em meio aos costumes patriarcais de um país ainda dominado po...