Capítulo Nove — Filha de Deus
Ponto de Vista de Sophia Hummel
Katherine, com sua conhecida experiência, demonstra total domínio do caminho a seguir. Ela será nossa guia até a mítica Cidade das Almas, onde, ao que tudo indica, se encontra a primeira dos enigmáticos Olhos de Prim. Contudo, apesar de sua expertise, não posso evitar o peso da dúvida. Como seria possível que eu, uma simples mortal, soubesse localizar precisamente uma pedra tão pequena em meio a uma vasta cidade, um mar de habitantes e construções? A ideia me parece improvável, senão impossível. Contudo, sei que a esperança é a última que morre, e a fé, muitas vezes, pode mover montanhas invisíveis. Ainda assim, a incerteza persiste em minha mente, como uma nuvem cinza pairando sobre mim.
Desvio meu olhar de meus pensamentos inquietos para Nicholas, que conversa animadamente com Katherine. Seu sorriso fácil, aquele tipo de riso nasalado que parece indicar uma leveza de espírito em meio ao peso da missão, começa a incomodar-me. Algo em meu íntimo se revolta sem explicação lógica, e logo reconheço o que é: ciúmes. Um sentimento complexo, multifacetado, que me toma sem aviso. A tensão interna cresce, mas tento afastar esse sentimento, ciente de que a jornada que estamos prestes a enfrentar é muito maior do que questões pessoais e sentimentais. No entanto, não posso negar que a presença deles, conversando tão próximos, cria uma pressão silenciosa sobre mim, um desconforto que parece aumentar a cada risada compartilhada.
Subitamente, minha mente é arrancada dessas considerações por um movimento estranho nas folhagens que surgem atrás de nós. Um estalo nos galhos secos, seguido de um leve ruído na vegetação, chama minha atenção. Franzo o cenho, e minha postura muda instantaneamente. Um instinto primal, ancestral, desperta em mim, fazendo-me parar abruptamente. Meus olhos se fixam nas sombras das árvores, tentando perceber qualquer movimento suspeito.
E, então, surge uma visão que me faz gelar o sangue: enormes criaturas, assemelhando-se a grotescas minhocas de rosca, com espessuras e comprimentos que desafiam a lógica, avançam ameaçadoramente em nossa direção. A visão é quase surreal, mas a necessidade de sobrevivência traz a realidade de volta com uma força imensurável. Nossos revólveres são instantaneamente direcionados para as criaturas, e, em um ato de pura defesa, puxamos o gatilho com precisão. No entanto, antes que as balas possam atingir seus alvos, as criaturas, com uma agilidade surpreendente, se enrolam como pesados pneus de ferro, ganhando velocidade e nos desafiando a acompanhá-las.
A tensão atinge o auge quando percebemos que a única saída seria descer pela ladeira erosiva da mata, um declive íngreme que ameaça nos levar ao fundo, enquanto o som ensurdecedor das criaturas se aproxima cada vez mais. Em nossos corações, uma prece silenciosa é lançada ao vento, implorando pela intervenção divina, tentando atrasar a progressão das monstruosidades. Contudo, as criaturas parecem intocadas, ilesas, como se nada pudesse impedi-las. Elas rolavam incansáveis, um medo crescente tomando conta de nossas almas. O perigo imediato, o risco iminente, nos faz correr com toda a velocidade possível, mas sabemos que, a cada passo, o terror parece nos alcançar mais perto.
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Asas Mortais
HorrorSinopse: Depois que cada partícula de seus corpos e almas foram transportados para a mais sombria e perigosa dimensão, Nicholas e Sophia passarão por diversas situações insanas e macabras para retirar as Pedras de Prim do domínio da Coroa Negra, res...