Capítulo 2

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Capítulo 2

- Akira, levanta! - escondo a cara no travesseiro, pensando que seria legal me esconder assim pra sempre. - Você tem que levantar, maninho.

- Não quero, Natsu. Vou faltar. - digo ainda escondido.

Não quero ir pra lá. É triste para um adolescente não ter nenhum amigo na sua sala para ficar conversando. Apenas no intervalo que tenho com quem ficar, o Cauã. Como eu queria ser da sala dele, seria legal. Mas para o meu azar, o loirinho é um ano mais velho. Preciso urgentemente fazer amigos, mas infelizmente isso não é nada fácil para mim.

- O papai vai ficar bravo se você perder aula.

- Mas eu não quero ir! - bato as pernas várias vezes na cama, enquanto resmungo palavrões que a minha irmã não pode ouvir. Se ela ouvir um e repetir perto do meu pai, é o fim para mim.

- Papai, o Akira não quer ir pra escola de novo! - maldita pirralhinha. Eu, antes que o homem apareça, pulo da cama e corro por meu uniforme. - Bom. Muito bom. - sorri.

- Droga. Você é bem chatinha às vezes, Natsu.

- Obrigada! - sai do quarto. Para uma garota de apenas sete anos, Natsu é mais responsável do que eu na hora de acordar. Todo dia ela vem animada no meu quarto e me arranca da cama para que eu faça nosso café da manhã. É um saco isso.

Depois que me visto, corro para a cozinha. Como algumas fatias de bolo e um copo de leite. Não gosto muito de leite, mas é bom para crescer. Não posso arriscar ficar nesse tamanho para sempre. Aqui não tem "baixinho com orgulho" não! Eu quero ser alto!

- Tenha uma boa aula! - sorri a baixinha. Junta suas mãos em frente a comida e diz: - Itadakimasu. - é a forma japonesa de agradecer pela comida.

- Ittekimasu! - isso significa que estou saindo. Sorrio para ela e pego meu caminho. Com a minha bicicleta, faço o caminho de um jeito mais rápido.

Enquanto estou montado na bicicleta preta, lembro que ainda não respondi o Sol. Chamo ele apenas assim porque tenho preguiça de decorar o nome inteiro. Como era mesmo? Denis... Done... Danisol? Tinha um número também. Hum... qual seria?

Ah, deixa isso para lá.

Chegando na escola, deixo minha mochila muito bem presa para que ninguém roube. Já dentro do prédio da escola, vejo o Igor conversando com um cara com as laterais da cabeça raspadas, com topete loiro em cima. Bem peculiar, eu diria. Acho que ele também é do time de vôlei.

Meus dois amigos participam de um time de vôlei, que deve ser bem legal. Se eu pudesse entraria também, mas... bem... não tem como ficar onde ninguém se importa com a minha existência. Talvez quando eu estiver mais confiante entre. Ou quando as minhas pernas melhorarem.

Ponho um pé na sala de aula e já sinto os olhares sob mim. Queria saber o que eu tenho de errado. Seria por que eu sou japonês?

Abaixo a cabeça. Vou para o meu lugar, última cadeira na fileira encostada na janela. Deito na mesa, torcendo para a aula começar logo.

- Olha só o japinha de filme pornô. - finjo que não ouvi nada. Será que ele não tem nenhuma ofensa melhor? Sério mesmo que ele acha que eu me importo em ser chamado disso? Isso pelo menos significa que eu, hipoteticamente, transo e isso é bom. - Akira, ei.

- O que foi, Alex?

Alex é um cara que nasceu no Brasil, viveu no exterior e voltou dos Estados Unidos por causa de uma problemas pessoais. Agora ele estuda aqui, na mesma sala que eu. É um loiro arrogante, que mancha a nação dele. Odeio esse garoto mais que tudo, já que ele faz bullying comigo sempre que tem tempo.

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