Capítulo 19

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Capítulo 19

Danilo

- Ai, pai! - Akira leva um puxão de orelha do pai. Eu não sei se acho isso engraçado, ou fico quieto, segurando a risada. O jeito que os olhos do Akira se fecham quando está com dor é uma gracinha. Ele é tão fofo.

- Akira, você sabe que não pode pular daquele jeito. Você se machucou todo. - Eu queria saber por que ainda estou aqui. Ah, lembrei. É porque eu desafiei uma pessoa que não pode pular para competir comigo. Chego a me perguntar o motivo das pernas dele serem assim.

Meus olhos caem pelo corpo dele. Akira é magro, com o cabelo curto e negro, seu rosto é bem branquinho - não duvido que seja possível ver a cor das suas veias - seus lábios são finos e rosados.

Ele é idêntico à Natsu. Parece uma cópia perfeita, só que masculina. Meu coração está palpitando só de estar perto dela. Droga, Danilo, você e essa mania idiota de ver a Natsu em tudo. Tenho que parar com isso, é urgente.

- Nem tá doendo tanto assim… - Akira comenta forçando um sorriso. O homem aperta a canela do ruivo. - Pai!

- Não dói, certeza? - faz um biquinho.

O Akira é tão parecido com a Natsu… sem contar que os sobrenomes são iguais. Kobayashi. Akira e Natsu Kobayashi. Eles parecem gêmeos, ou irmãos muito parecidos.

Sabe, tenho a sensação que estou perto da Natsu quando me aproximo do Akira. Isso me faz querer abraça-lo para sempre.

Que gay, Danilo. Mas bem, tenho que confirmar, eu sou muito gay perto do Akira. Deve ser a semelhança que me deixa atraído por ele.

- Senhor Kobayashi. - essa droga de sobrenome não está me ajudando em nada para esquecer a Natsu. Pelo contrário, agora estou pensando tanto nela que minha cabeça dói. - Seu filho está bem, só precisa ficar de molho por uma semana que logo está perfeito.

Não entendo o motivo, mas meu coração se acalma quando olho nos fundos olhos da Natsu… digo, Akira. Eu estou confundindo de mais!

É sacanagem com a minha cara isso. Primeiro me apaixono, depois tenho uma desilusão que acabou comigo, e para completar, aparece alguém idêntico a Natsu para ferrar com a minha mente. Pode se dizer que eu estou surtando, mas por dentro.

- Vou poder pular? - pergunta baixinho.

Esse garoto é um canguru ou coisa do tipo? Nunca vi alguém para gostar tanto de pular como essa criaturinha mais fofa.

De novo, Danilo?! Poxa, estou ficando com vergonha de mim mesmo.

- Você ainda não teve alta do seu médico, né? - fala a médica. - Então acho difícil, ainda mais tendo feito esforço mesmo não podendo.

- Ah… entendi. - olha com um pouco de raiva para mim. Esse olhar me assusta, mas ao mesmo tempo acho a coisa mais fofa de todo o universo. - Danilo, é culpa sua. Baka! - sussurra a última parte.

Ele me chamou como?

Só a Natsu que me chamava assim. Tá que os dois são japoneses, mas me chamar de idiota em japonês de maneira idêntica, é pedir para me deixar com a pulga atrás da orelha.

- Que?! Vai jogar a culpa toda em cima de mim? Você que encarnou um coelho e saiu pulando! - isso vai dar briga.

- Você me provocou! - isso é verdade.

- E você foi besta de fazer! Akira, idiota.

- Akira, chega. - O pai dele diz suspirando. - Vamos pra casa. Depois eu ligo pro seu professor.

- Okay. Tchau, seu idiota! - fico olhando o Akira sair da enfermagem mancando. Ele é lindo de mais.

- Tchau, cabelo de repolho! - não aguento sem dar uma última provocação.

- Isso foi um elogio! E você gosta de um japonês, sei muito bem disso.. - some no corredor.

Espera aí, como ele sabe que eu gosto de uma japonesa?

Será que ele... Não, ele não pode ser a Natsu, a Natsu é uma garota e o Akira um garoto magricelo super sem sal. Mas como ele saberia que eu…

Esquece. O Bruno deve ter comentado. Só pode ser isso.

Volto para o ginásio. Quase todos foram embora, menos o Samuel, que está trancando o local.

- Danilo, como está o Akira? - pergunta assim que se dá conta que eu estou lá. Se vira para mim, coloca as chaves do ginásio no bolso.

- Bem. Só precisa ficar de molho. - suspiro. - Espero que ele melhore logo.

- Vai melhorar. Danilo, desculpa por entrar nesse assunto... - lá vem. - Eu vi você chorando hoje mais cedo no fundo do ginásio. - abaixo a cabeça, morrendo de vergonha. Não era pra ninguém ter visto isso. É humilhante chorar onde pessoas podem me ver, eu não gosto. - Eu acho que sei o motivo: ver uma pessoa igual a sua paixão doeu, né?

- Claro que não. - minto descaradamente, mas a minha cara de triste entrega. - Bem…

- Quer um abraço? - Não respondo nada, mas ele me abraça mesmo assim. - Pode chorar se quiser.

- Eu… - as lágrimas começam a sair. - Samuel… - como se eu fosse uma criança, desabo nos braços da nossa mãe do time.

- Isso, coloca pra fora. - afaga minhas costas. - Você se fechou muito depois que parou de falar com ela, mais que o normal.

- É que… é que… - tento engolir o choro para falar, mas não consigo. - Eu gosto tanto dela, cara.

- O que aconteceu pra vocês brigarem? - nos afastamos. Resolvo contar tudo que aconteceu naquele dia, com todos os detalhes.

- Depois no mesmo dia, o Oikawa me disse para me divertir com outras meninas, mas não consigo esquecer a Natsu. Ela é a garota mais linda e incrível de todo o mundo.

- Sinto muito… ela foi muito filha da mãe de fazer isso. Quebrou seu coração. - quebrou? Ela jogou no chão e partiu em centenas de pedaços.

- O que mais me dói é que eu dei pra ela um pingente que significa muito pra mim. Só que ele está com o meu primeiro amor, então quero que ele fique bem. E também... que ela pense em mim quando ver aquela bola de vôlei dourada.

- Danilo… - volta a me abraçar. - Tudo vai ficar bem, só dê um tempo.

- Mais tempo do que já dei? Fazem quatro meses, Samuel. - O outro suspira, me dando un olhar de pena.-  Eu vou indo, muito obrigado por me escutar. - sorri. O sorriso do Samuel é tão lindo, da para entender Lucas, que é apaixonado por ele.

No caminho para a cara, continuo pensando no Akira e na Natsu. Eu sinto que tem algo sobre eles que eu preciso saber, mas o que seria? Talvez eles sejam parentes? Ou a mesma pessoa… não, isso é impossível. A Natsu não mentiria para mim, eu acho.

Quando já estou longe da escola, uma garota para na minha frente, me atrapalhando de continuar o meu trajeto. - Quem é você? - pergunto para a morena de olhos azuis.

- Lisa.

- Tá. O que quer?

- Você.

No outro dia

- Danilo. - o professor me chama assim que todos os alunos já saíram. Vou para perto dele, com medo de ser mais uma bronca. Eu me aproximo e fico esperando-o dizer algo.. - Você pode levar essas atividades para o Akira? São as da semana. Ele não pode ficar sem fazer.

Tá de sacanagem com a minha cara? Eu tentando evitar esse japonês e o mundo conspirando para me ferrar.

- Eu não sei onde ele mora. - dou a primeira desculpa que penso. Acho que agora ele vai desistir…

Como um passe de mágica, o Bruno aparece na porta da sala. O que ele está fazendo aqui? Volte pra sua sala do segundo ano, idiota! Garanto que ele vai me ferrar agora.

- Estão falando do Akira? - o professor assente. - Ele mora num bairro japonês, é um pouquinho longe, mas dá para chegar de a pé.

- Obrigado, Bruno. Chegou numa boa hora. - sorri. - Sabe como ele está?

- Tá quase morrendo pra fazer comida pra irmã e quase não aguenta cuidar dela, mas tá bem.

Que? Ele faz isso? É igualzinho a Japa… essa história está deixando minha cabeça ainda mais confusa.

- Então, Danilo, pode ir levar para ele? - não, eu não posso?

- Sou obrigado, não é? - faço uma pergunta mais para mim mesmo, mas o professor responde:

- Sim. Afinal foi por culpa sua que o Akira se machucou. - diz Bruno, se achando o mais certinho do mundo.

- Cala a boca, Bruno. - minha voz sai num rosnado. Ele tinha que atrapalhar tudo?! Eu quero ir para casa e ficar a tarde toda dormindo, é pedir de mais?

- Bem, ele tem razão.

- Mas… - suspiro quando vejo que não tenho opção. - Dá logo isso. - pego os papéis. - Eu vou levar.

- Boa, Dani! - O baixinho acerta um tapa nas minhas costas. Que mão pesada para quem é tão pequeno e magro.

- Me chame de Danilo, idiota. - bufo. - Deixa eu ir de uma vez. - passo por ele e faço questão de esbarrar nele, o que o deixa desequilibrado e quase cai. - Vai se ferrar. - sussuro para que o meu professor não escute.

- Você devia me agradecer. - caminhamos juntos pela escola, seguindo para a saída.

- Pelo o quê? Por atrapalhar a minha vida? - ele revira os olhos.

- Você vai entender daqui um tempo. Por enquanto, fique focado no Akira.

- Por que eu ficaria atrás de um homem?

- Porque você é bixessual, ué. - sinto meu rosto esquentar com o seu comentário. - Nem adianta mentir! Você tava quase babando pelo o Akira.

- Mas foi porque ele me lembrou a Japa! - digo irritado. Bruno ri, me deixando com ainda mais raiva. - Eu devia te esmagar de uma vez.

- Você só vai ter que prestar contas com o Adrian depois. Você que sabe. - dá de ombros. Controlo minha vontade de bater nesse idiota. O Bruno sabe tirar a minha paciência como ninguém. - Vou te mandar o endereço do Akira. Mas por favor, não ataque o meu amigo logo de cara, ou você vai levar um soco.

- Como se eu fosse fazer isso

- Sabe, ele é bem tímido. Até o primeiro beijo dele ficou estático. O cara que roubou o primeiro beijo dele é um safadão.

- Como?

- É, o Akira perdeu o BV, foi com um cara da antiga escola dele, um tal de Arthur…

- Arthur?! - arregalo os olhos. Não, não pode ser. Tem que ser brincadeira. Respira direito, Danilo! Isso só pode ser um engano.

- Acho que falei de mais. - chegamos no portão. - Eu vou indo, boa sorte com o seu japinha fofo.

- Vai se ferrar!

Minha cabeça está dando voltas e mais voltas. Eu não posso acreditar, o Akira e a Natsu estão conectados, ou simplesmente podem ser a mesma pessoa. Nao consigo acreditar nisso, tem que ser mentira. Todo esse tempo eu estava apaixonado por um garoto? Não, não pode ser verdade. Tem que ser uma pegadinha.

No caminho para a casa dele, pensando em coisas fúteis... quer dizer, na minha teoria da Natsu ser o Akira na verdade.

Fazem quase cinco meses que eu conheci a Natsu e desde isso, não consigo parar de pensar nela. Eu sou apaixonado por ela ainda e seria estranho saber que estou apaixonado por homem.

O mais difícil difícil é que estou muito apaixonada por ela, seja homem ou mulher. Meu irmão não é algo leve, é forte de mais. É meu primeiro amor, que está bem marcado no meu coração e não vai desaparecer dependendo da sexo da pessoa.

Isso foi algo que aprendi vendo meus colegas de time. Não importa o sexo, se você ama, tem o direito de mostrar seu amor ao mundo, sem se preocupar com o que os outros pensam. Claro, eu estar falando é bem mais fácil do que na prática. Mas eu sinto que se a Natsu for realmente um homem, acho que poderia ama-lo.

Quando dou por mim, já estou na frente da casa dos Kobayashi's. Caramba, que casona. O Akira deve ser dos bem ricos.

Encaro o botão da campainha por longos segundos, sem saber se eu realmente estou disposto a fazer isso. Respiro fundo, acalmando meu coração. É, eu vou fazer isso. E depois tirar a limpo toda essa confusão.

Aperto a campainha e fico esperando ser atendido e obviamente, com o coração na mão. Por favor, Danilo, cuidado com o que vai falar quando a ver, você tem que ser calmo para saber da verdade.

Pena que calma não é o meu segundo nome.

A porta é aberta por uma mulher linda e alta. Já sei que não é a mãe do Akira, já que ele claramente não é mestiço.

- Sim? - ela pergunta de forma doce.

- Eu vim entregar umas coisas para o Akira da minha sala. - mostro os papéis, falando mais rápido que o normal.

- Ah, entendi. Entre. Ele ainda não chegou, foi ao médico. Quer esperar no quarto dele?

O quarto do Akira?! Por que me sinto tão nervoso só com isso?

- Pode ser. - respondo calmo, apesar de estar surtando por dentro.

E assim, cá estou eu. No chão do quarto do Akira. Aqui tem o mesmo cheiro que a Natsu, um cheiro doce e gostoso, que me faz querer sentir por todo momento.

Começo a reparar no quarto.

A decoração é simples, nada extravagante como a casa é. Só uma cama grande, mesa do computador, estante com mangás, guarda roupa, uma bola de vôlei.

Ando até onde a bola está e a pego.

Uau. Essa bola é oficial. Deve ser ótimo jogar com ela. Está bem nova ainda, sem um gasto sequer. Que linda, queria uma. Mas duvido que a minha mãe me dê.

Segundo a minha mãe, eu não estou merecendo presentes. Minhas notas caíram, não muito, mas o suficiente para que ela reclame. Eu também fujo de casa para jogar vôlei. Sem contar, que semana passada, ela me pegou com uma menina no quarto.

Esse dia foi terrível. Uma menina me convenceu a trazê-la em minha casa, pra gente… é, transar. Eu pensei que não teria problema já que a mãe não chegaria cedo no dia, mas para o meu azar, ela chegou bem antes. Entrou no meu quarto e meio que viu a garota em cima de mim.

A senhora Gomes surtou depois disso e arrancou a menina do quarto e quase me matou com o chinelo. Disse que se eu fizer isso de novo, vou ser expulso de casa.

Meio dramática, mas não duvido que faria isso. Ela tirou até o meu celular de mim, mas o peguei de volta escondido. Sim, eu estou abusado da sorte. Até o final do ano eu morro desse jeito.

Continuo a observar o resto do quarto, querendo esquecer as chineladas bem merecidas que levei.

- O que é isso? - falo sozinho quando meus olhos se encontram com uma correntinha colocada em cima de uma caixa, no criado mudo, ela é dourada e…

Com uma bola de vôlei como pingente.

Isso não pode ser real. Tem uma corrente igual a que eu dei a Natsu. Não poder ser, será essa a prova que eu tanto procurava?

Pego o pingente e olho atrás dele.

"DeJ"

Isso que está escrito.

Na minha antiga corrente só tinha o D, de Danilo. Mas agora, tem um J, que eu mandei gravar junto com a minha inicial antes de dar a Japa.

Então esse garoto, o Akira, é a minha Natsu?

Sinto meu corpo amolecer, então me sento na cama. Encaro a corrente ainda sem reação. É a mesma corrente, não tem como ser… sim, tem sim. Akira e a Japa são idênticos, ele pode muito bem ser a garota com quem eu conversava por mensagens.

E agora? O que eu faço? Eu estou apaixonado por um homem. Não me sinto estranho por isso, já que fax tempo que já me aceitei como bixessual, mas mesmo assim, é estranho para mim me apaixonar por uma garota e no final descobrir que ela é homem.

- Onii-chan! - a porta do quarto e aberta, revelando uma garotinha de cabelos negros e lisos até o meio das costas. Ela falou em japonês? Eu não entendi nada do que ela disse.- Quem é você?

- Danillo. Vim trazer a lição para o Akira. - respondo a pequena me observa, curiosa. Mas o mais curioso aqui sou eu. Essa menina é idêntica ao Akira. Se eu tiver problemas com o Akira, que pode ser a Natsu, vou só esperar essa pequena crescer.

- Meu irmão gosta de um cara com o seu nome. - informação faz meu coração acelerar. Não pode ser, cada vez as coisas se encaixam mais.

Antes que eu responda, Akira entra correndo no quarto e cobre a boca da provável irmã.

- Natsu, com quem você tá falando do meu crush… - deixa a frase morrer.

- Eu fiquei curiosa, a Carla disse que um cara bonito tinha subido. Ele é bonito. - aponta para mim. Concordo com ela. - Você gosta desse menino desde que estávamos morando em São Paulo?

Pronto. A prova que faltava para eu ter a certeza de quem é ele.

Akira Kobayashi é a Japa, a Natsu, minha primeira e atual paixão de adolescente.

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