Capítulo 13

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Akira

  Meu celular vibra antes do fim da aula, quando vejo o nome Danilo na tela, suspiro. Não consigo bloquear ele, me falta coragem, então meu último recurso é apenas ignora-lo.

[Whatsapp privado] Danilo: Japa, para com isso. Você tem que me responder.

Danilo…

Não quero falar com ele, pelo menos por enquanto. Eu acho que eu preciso de um tempo dessa amizade maluca, Danilo está confundindo de mais as coisas e eu não quero que isso acabe com alguém magoado por minha culpa.

Saio da sala quando o sinal toca e vejo meu mais novo carrapato me perseguindo por todo lugar que eu vou.

Só de saber que o Danilo pode ter se masturbado olhando a minha foto, fico me sentindo estranho. É um estranho bom, sabe? Ele me deseja e isso deixa a minha auto estima no ápice, mas ao mesmo tempo fico constrangido e com raiva. Alguns homens são nojentos.

- Akira. - ignoro a pessoa que me chama. - Vamos conversar, por favor. - Eu preciso dar um jeito de me livrar do Arthur, ele é um porre quando quer.

- Não temos nada pra conversar. - alguém me diz quando é que ele vai me deixar em paz.

  - Por favor. Só cinco minutos. - suspiro.

- Tá bom, Arthur. - Vamos para atrás do ginásio, para que ninguém nos escute. Não quero que alguém como o Alex descubra que estou mesmo parecendo um gay, já que perdi meu BV com um garoto. Mas eu não gostei nem um pouco daquele beijo. Se fosse o do Danilo… que?! Por favor, Akira, me diz que você não pensou nisso! - Pode falar. - tento manter a face neutra na frente do Arthur, mas é bem difícil quando você fica imaginando um beijo do seu amigo virtual.

- Primeiro, me perdoa por ter te beijado do nada. - Faz uma reverência. Ele tá querendo bancar o asiático educado pra cima de mim, mas eu não sou bobo. Só fiquei bobo quando vi aqueles olhos azuis do Danilo e… Vá a merda, pensamentos idiotas! - Eu agi sem pensar. - e eu estou tentando não pensar.

- Eu te desculpo. Só que…

- Akira, me dá mais um beijo? - diz animado, o que me assusta e me faz arregalar os olhos.

- Eu não saio distribuindo beijos aí! - se aproxima de mim. - Ei, não vem. - dou passos para trás, até que bato as costas na parede.

- Japa… - quem ele pensa que é ora ir me chamando de japa?! Só o Danilo pode me chamar assim! - vou te dar um beijo de verdade, para que você tenha uma boa lembrança. - ei, ei, ei! Pensamento, não é hora de pensar no Danilo, é hora de fugir daqui antes que eu me ferre.

- Não quero! - bate as mãos ao lado da minha cabeça, o que me faz tremer. Estou com medo, não quero ser beijado por ele, não quero, jamais. Pego o celular do bolso e entro nos contatos, ligando pro Igor, minha única salvação. Quando ele atende, coloco no viva voz. - Igor-senpai, o Inouka tá tentando me beijar, socorro!

- Que? Tô indo pra aí! Onde vocês estão? - responde a chamada na hora. Sua voz é firme e séria.

- Akira, não! - Arthur tenta me impedir de falar, mas eu lhe empurro a tempo de dizer:

- Atrás do ginásio! - ele me olha sem reação. Que foi? Pensou que eu ia mesmo te deixar me beijar assim tão fácil? Estou caidinho por um homem, que não é ele.

- Tô indo pra aí! - Igor grita. Fico quieto no meu canto enquanto espero o Igor chegar. Quando o vejo, lhe dou um abraço. Ele acaricia meus cabelos e diz:

- Arthur, vaza. - o garoto sorri triste e segue seu caminho. - Francamente, você é um imã de problemas.

- Desculpa, Igor-senpai. - suspiro. Ele me dá um tapinha na cabeça.

- Você deveria dar uma chance ao Arthur. - diz tão do nada que eu fico com a boca travada.

- C-Chance? T-tipo, beijar um pouco?

- Sim. Akira, você é jovem. Tem que aproveitar pra namorar. - se encosta na parede. - Na sua idade eu já tinha beijado pelo menos dez pessoas.

Ele não disse "dez meninas" então isso confirma mesmo que Igor Lima é bi. Não que eu tivesse alguma dúvida sobre isso, mas sempre é bom confirmar.

- Eu não gosto de sair beijando todo mundo. - coloco as mãos nos bolsos. - Até estava guardando o meu primeiro beijo para alguém especial.

- Não tem essa de ser especial. Você acha que o meu primeiro beijo com o Cauã foi maravilhoso? - arqueio a sobrancelha, confuso. - O Cauã é bem tímido, mesmo que não pareça. Ele se trancou no banheiro depois que eu praticamente enfiei a língua na boca dele.

- Igor-senpai, para de me contar essas coisas… - choramingo.

- O que eu quero dizer. - mexe no meu cabelo de novo. - É que se você está afim de alguém, ou com vontade de experimentar algo, vai fundo. Ninguém irá te julgar.

Sorrio para ele.

- Obrigado pelo conselho. Mas ainda não sei se vou dar uma chance pro Arthur.

- Faça o que achar melhor. Eu e o Cauã sempre vamos te apoiar.

- Mas eu acho que estou afim de outra pessoa... - meu veterano ri.

- É, eu sei.

- Ah, eu lembrei de uma coisa que queria dizer faz tempo. - o olho sério. - Se você magoar o meu amigo, eu vou te esmagar. - parece surpreso, mas sorri em seguida.

- Eu demorei muito tempo pra pegar o Cauã, nunca faria uma merda pra nós separar.

Acena e segue seu caminho assim que o sinal toca. O que será que ele achou? Eu consegui intimidar ele pelo menos um pouco? Por favor, que sim.

Me sento no chão e relaxo um pouco as costas. Eu estou todo tenso, isso é o que acontece quando um doido que tomar o seu segundo beijo. Espero que depois dessa eu não precise mais dar foras no Arthur, é meio triste ser rejeitado. Eu mesmo já fui uma vez, quando ainda estava no fundamental. A garota me disse "Não estou interessada em você, tchau". Pode se dizer que isso foi bem traumatizante.

Chega uma mensagem no meu celular, me tirando de meus devaneios.

[Whatsapp privado] Danilo: Ei, pelo menos explica o motivo de você não querer mais falar comigo.

Ai, Danilo. Não tem como eu explicar isso. Porque a Japa não existe, então, tecnicamente a Japa nunca encontrou com os amigos dele. Que bela confusão eu fui me meter. Agora estou aqui, pensando de mais no Danilo enquanto ele deve estar fazendo o mesmo.

Eu tenho que confessar que estou com saudade de conversar com ele. Era divertido trocar mensagens. Talvez depois eu tente resolver esse problema. Talvez…

Ah, quer saber? Vou responder agora.

[Whatsapp privado] Akira: Mais tarde conversamos sobre isso.

- E aí, cabeça de repolho? - quase derrubo o celular ao ouvir essa voz. E me assusto ainda mais quando vejo a pessoa dona da voz.

- O q-que você quer? - eu me encolho.

- Dessa vez você não escapa, Akira Kobayashi.



  Igor Lima

- Igor, para. - Cauã se contorce no meu colo, tentando fugir.

- Eu sei que você gosta. - aperto seu corpo contra o meu. Dou um beijinho no seu nariz. - Meu namorado lindo.

- Se alguém entrar aqui e nos ver desse jeito, vou te matar.

- Oh, você não quer que vejam você no meu colo, quase transando?

- Seu tarado. - segura meu rosto, me dando um beijo. Enquanto a gente se pega, faço questão de aperta uma das nádegas gostosas dele.

- Você é uma delícia, Cauã.

Nos perdemos por um tempo durante mais um dos vários beijos que trocamos nessa sessão de amassos escondidos. Queria saber o que o treinador iria fazer com a gente se nos visse assim, se pegando no chão do ginásio.

- Igor... ei, tá ouvindo um choro? - dou beijos no seu pescoço.

- Para de tentar se livrar de mim, justo quando estamos sozinhos no ginásio.

- Eu não tô tentando fugir. Tô mesmo ouvindo um choro. - ele me afasta. - Parece que vem do vestiário.

- Cauã, não vai. - levanta. O loirinho segue para o vestiário e eu, derrotado, vou atrás. Vejo um garoto encolhido ao lado de uns armários. Reconheço rapidamente quem é. - Akira?

- Quem…? - se encolhe ainda mais.

- Akira, o que foi? - Cauã se agacha ao lado dele. - Você tá tremendo.

- Socorro, Cauã. - pula nos braços do loiro.

- O que aconteceu com você? - começa a chorar. - Akira, fala logo!

- Não deu tempo de fugir.

Só aí dou conta de como ele está.

Suas roupas estão amassadas, com alguns rasgos. O rosto marcado de tapa e com alguns roxos pelo corpo.

- Igor, ajuda aqui. - sem pensar duas vezes, pego o ruivo no colo. - Vamos levar ele pra enfermaria.

Depois que o deixamos na enfermaria, Cauã resolve ficar com ele. Eu tenho um compromisso hoje, então não posso ficar de olho nele. Quero muito descobrir o que aconteceu, afinal Akira é um bom amigo. Tenho uma leve desconfiança que tem dedo daquele maluco do Alex, que vive perseguindo o pequeno japonês. Mas no momento, tenho que ir para a cidade dos sóis, onde irá acontecer um encontro de capitães.

Acho que vai ser divertido, estou com saudades de atormentar o Thiago de todas as formas possíveis. Thiago é um amigo que fiz no amistoso que teve entre as nossas escolas. Se eu estivesse solteiro na época.. quer dizer, eu era solteiro, só que não queria me envolver com mais ninguém que não fosse o Cauã. Eu sou completamente apaixonado por aquele loirinho fofo, ele é meu bebê. Parece que foi ontem que eu ia na casa dele e o arrastava para fora do quarto para irmos jogar vôlei na praça perto de casa. Era divertido jogar vôlei com o Cauã, mas quando eu fui me descobrindo bixessual, percebi que meus sentimentos não eram mais de apenas amizade, ele haviam evoluído, para algo ainda mais forte: amor. Eu me apaixonei pelo meu melhor amigo, que é um fofo e perfeito. Cada detalhe nele o deixa ainda mais perfeito. Até quando está brigando comigo, eu não consigo parar de pensar em quanto o amo.

De tanto pensar, demoro a me dar conta de quando chego no ponto de encontro. Recebo uma mensagem:

[Whatsapp privado] Cauã: Você vai morrer se eu ficar sabendo de algo.

Gatinho bravo.

Cauã é muito ciumento. Parece um gato desconfiado, que está pronto para te arranhar se você fizer algo errado. Uma vez ele realmente me arranhou. Mas foi na cama, enquanto ele gritava e gemia de prazer. Têm uma ou duas marcas de unha na minha costa até agora.

- Bro! - volto para o mundo real quando escuto a voz animada do Breno.

- E aí, bro? - fazemos um toque que criamos. As mãos grandes e pesadas dele quase machucam a minha mão. Breno é forte até de mais.

- Cara, você não sabe! - se aproxima falando num tom baixo. - Pegaram o chato do Ulices, sabe, aquele capitão da escola vai forte no vôlei, dando um amasso com um cara do time dele.

- Sério?! Não brinca!  Eu sabia que ele era gay! Mas quem foi o azarado que experimentou a força do doido?

- Nem sei o nome. É um ruivo estranho. Mas parece que ele tava dentro do cara quando os pegaram.

- Wow! Você sempre tem as melhores informações, bro.

- Sei disso! E como tá o namoro?

- Mil maravilhas. O Cauã é perfeito.

- E as noites? Estão boas? - Breno me cutuca com o cotovelo.

- Noites, dias, tardes, madrugadas. Tudo está bom. - ele ri. - E o André? - pergunto em tom malicioso. Ainda não fiquei sabendo de nada sobre a relação deles, mas tenho uma leve desconfiança de que os dois se pegam.

- Ele…

- Oi. - nós dois gritamos de susto ao sermos surpreendidos pela o assunto da conversa. - Falando de mim?

- Cara, como você consegue aparecer assim, do nada? - dá de ombros para a minha pergunta. - Tipo, você brota em qualquer lugar que chamarem seu nome. Parece até aquele personagem de anime, o Kuroko de Kuroko no basket. - Eu assisti esse anime com o Cauã, que adora esses desenhos japoneses. Eu acho legal até, mas prefiro fazer outro tipo de coisa com meu Neko…

- Você tá viajando. Igor, Breno, quando é que aquele idiota vai vir nos buscar? - se refere ao Ulices, que ficou de nos levar de carro até lá, já que ele é maior de idade e tem seu próprio carro, só nos resta rachar na conta da gasolina.

- Era pra estar chegando. Ah lá! Ele ali! - aponto para o carro vindo na nossa direção.

Quando ele para, entramos.

- Ei, por que o André está aqui? - pergunto para o Breno. - Que eu saiba é um encontro de capitães.

- Só eu sei controlar esse louco. - aponta para o Breno, que olha pela janela. - Ele pode mudar de humor do nada e como vocês sabem, só eu consigo controlar esse idiota.

- Você devia ter trazido o Cauã junto. - Breno diz ignorando o namorado. - Ele é legal.

- Sim. - começamos a conversar animados sobre vôlei, o que é bem divertido.

- Se vocês não calarem a boca, vou jogá-los pela janela. - diz Ulices. Bufo irritado. Ele é um chato.

O resto do caminho vamos em silêncio. Leva tipo uma hora para chegar lá, então aproveito esse tempo para dormir.

Recebo uma mensagem do Cauã falando de como o Akira está. Fico com vontade de quebrar aquele idiota do Alex no meio. Ele é um maldito que não deixa o coitadinho do meu amigo japonês em paz.

Vou parar de pensar nisso por enquanto, preciso me concentrar no que os meus amigos de outra escola têm a dizer. Não sei se deu para entender pelo o que expliquei mais cedo, mas o Breno e o André são de outra escola, assim como o Ulices. Somos todos capitães de times de vôlei, tirando o André, claro. O André é só a babá do Breno.

Assim que chegamos na Sol Pente, seguimos para dentro do prédio. A primeira pessoa que vejo é um cara alto de cabelos castanho claro conversando com uma menina. Ele me lembra alguém… tenho certeza que o Akira me mostrou a foto desse cara, mas quem seria… ah! Já sei!

Danilo.

É ele.

O Akira tá querendo dar pra esse homem? Okay, eu entendo. Ele é bonito. Mas é meio estressadinho. Isso foi o que o Lucas comentou depois da nossa partida de treino.

- Hey, hey, hey! Quanto tempo! - grita quando vê o Thiago. Pula em cima do moreno alto, que tenta de todas as maneiras escapar do abraço.

- Sai! - dou risada. Meu olhar se encontra com o do Thiago. Ele fica levemente vermelho.

Acho que alguém se lembrou da minha tentativa falha de passar a mão na bunda dele.

- Igor, olá. - Lucas me cumprimenta animado.
Modéstia à parte, acho que sou mais atraente que esse capitão. Tirando que ele tem um bundão.

- Oi, Lucas.

Conversamos um pouco, até que eu vejo o Danilo sentado num canto, mexendo no celular com uma cara irritada. Antes de ir até ele, vejo mais uma mensagem do Cauã. Interessante.

Decido me aproximar dele, que nem percebe a minha presença.

- Você é o cara que quer pegar a Japa, né? - digo sem rodeios. Danilo arregala os olhos, meio assustado. - Responde.

- Eu quero. Mas o que você tem a ver com isso? - delicado como um coice de mula.

- Acho que ele… ela, já falou de mim pra você. Sou Igor, o namorado do Cauã.

- Ah, ela falou que vocês trepam. - maldito japonês. - O que quer comigo?

- Só avisar que ela quebrou o celular. - fiquei sabendo isso na mensagem que o Cauã mandou. - aquele idiota do Alex quebrou o celular dele.

- Como assim?! Quem bateu nela? Por que não defenderam a Japa?

- Porque eu não estava lá. Mas assim que eu descobrir quem foi o maldito, vou matá-lo. - digo isso, mas eu já tenho certeza de quem foi que feriu o Japa.

- Se você não fizer isso, eu faço. Odeio que machuquem ela. - arqueio a sobrancelha.

- Tudo isso é vontade de comer a Japa? - fica vermelho. - Olha que safado ele. Querendo comer a minha amiga. - ou amigo, melhor dizendo.

- Ela é legal, não iria querer só transar.

- Pra você namorar a Japa, primeiro teria que ser uma boa pessoa e que nunca trairia ela. Mas você tava conversando com uma menina, eu vi.

- Isso não significa nada. Só conversamos.

- Claro, sei. Mas vou te contar mais uma coisa: a Japa parou de falar com você porque ficou sabendo de uns boatos.

- Que? Quais boatos?

- Não sei, o Cauã não me contou. Agora se vira pra voltar a amizade com ela. Boa sorte, shounen. - uso uma palavra japonesa que aprendi com o Akira, ela sequer dizer "jovem" em japonês.

- Obrigado.

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