Longe, Mas perto
Capítulo 11
Danilo
- Japa? - o japonês congela na minha frente.
Deixa eu ver se estou enxergando direito: Tem uma pessoa japonesa e pequena, cujo o apelido é Japa, na minha frente? Eu tô vendo direito ou é só a minha imaginação me pregando peças?
- Nem pense em matar ele! - Bruno surge por trás dele, se enfiando entre nós. - Se matá-lo eu conto pro Lucas que você anda usando a quadra de motel!
- Que? Eu não faço isso! - dá onde esse tampinha tirou essa história?
- Não é o que todo o time acha. - sorri sacana. Suspiro, me acalmando. Olho para o garoto pequeno, que é delicado e fofo.
- Japa… - murmuro. - Eu te conheço?
- Não! Nunca nos vimos! - pega o braço do líbero. - Vamos embora, por favor.
- Calma…
O que eu estou pensando? A Japa é garota! E é óbvio que é um cara que está aqui na minha frente.
Então posso matar. Vou assassinar essa pessoa.
- Escuta aqui seu merda. Você acha que vai jogar uma bola na minha cara e sair de fininho? - empurro o mais baixo. - Sabe o nível do erro que cometeu?
- Não sei, mas imagino. Sinto muito mesmo! Não foi por querer! - se curva. Que exagero. Bufo e dou um passo à frente, fazendo ele recuar. - Foi um acidente!
- Dani, não seja duro com o garoto. Quer dizer, nada contra você ficar duro com…
- Leonardo! - Caio faz o que eu iria fazer, dá um tapa no besta. O meu primo é praticamente um saco de pancadas do namorado.
- Voltando… - o ruivo treme de medo e vai se afastando ainda mais. - Vou enfiar essa bola no teu rabo.
- Bruno, socorro! - tenta fugir, mas o seguro pela gola da camiseta. - Foi sem querer! Foi sem querer, cara!
- Ninguém da uma bolada na minha cara e fica vivo! - dá um sorrisinho fofo e diz de um jeito manhoso:
- Danilo, por favor, pare. - seu tom de voz arrepia o meu corpo de um jeito assustador. Um arrepio especialmente forte atinge minha parte mais carnal. Sua voz me lembra muito a da Japa.
- A Japa?
- Sou...
- Você é a Japa?! - arregala os olhos e depois, balança a cabeça para os lados freneticamente.
- Eu sou homem! O Japa! Não A Japa! - grita. Ele me empurra. - Corre, Bruno!
- Falou! - Não tenho tempo de falar mais nada, os dois correm para longe. Para dois tampinhas, eles correm muito rápido. Um dia ainda viu quebrar as pernas do Bruno e vai ser muito satisfatório. Só vou ser morto pelos pais do time e pela minha mãe de verdade.
- Que doideira… - Caio comenta.
- Dani, arruma o número do japinha pra mim. - reviro os olhos, mas dou risada quando o namorado ciumento bate nele. Até o final do dia o Leonardo vai estar roxo de tanto apanhar, e isso é satisfatório de mais.
- Dá vontade de ser o seu namorado só pra te espancar.
- Nosso namoro não é só briga, Danilo. Somos carinhosos, mas gostamos de brigar. - diz Caio.
- Mas sabe, tem bastante porrada na próstata. - comenta Leonardo.
- O que?! - por favor, alguém enfia a minha cara num buraco e não me deixa sair de lá nunca mais. Que vergonha. Esses dois ainda vão me matar de tanta vergonha. - Queria ver o que a tia iria pensar se soubesse do que você faz. - já sentados novamente cada um no seu lugar, admiro o casal idiota.
- A mamãe não se importa. Eu estou feliz, isso que importa. - não continuo o assunto.
Volto a pensar no que aconteceu. Minha cara ainda está doendo, foi uma bolada muito forte. E também, eu sou um idiota. Confundi um garoto japonês com ela. Vê se pode?
Eu tenho que pensar menos na Japa. Só de ver uma pessoa japonesa já fiquei doido, pensando que poderia ser ela. É doideira. E acho que um pênis não seria muito atraente em uma garota.
- Danilo, você é hetero? - diz tão do nada, que quase caio do banco de susto. Fui pego desprevenido.
- Eu acho que é bi. - Ele levanta, sentando no colo do namorado em seguida. Fica virado na minha direção.
- Eu não sou bi. Só fiquei com garotas.
- Isso não significa nada, priminho. Você pode gostar da fruta sem nem mesmo experimentar. - fico pensativo. Eu acho que talvez eu tenha interesse em homens, mas é impossível de ter essa certeza. - Acabei de ter uma ideia! - medo. - Quer fazer um teste sobre sua sexualidade?
- Hum… contanto que nada entre em mim ou eu tenha que colocar, quero. - sorri de um jeito malicioso. Meu rosto esquenta quando o Leonardo praticamente enfia a língua na boca do Caio, de um jeito nada tímido.
O que mais me assusta, é que o beijo parece estar muito gostoso. Não consigo parar de olhar para as línguas dançando na boca um do outro. Isso é meio excitante. Não é assustador e nojento, como muito homofobicos dizem. Na verdade, é bem interessante ver isso assim, ao vivo. Não é como nos pornôs que eu vi… ai, eu não devia me lembrar disso. Teve uma vez que eu estava tão confuso cm a minha sexualidade, que acabei indo visitar meu querido X-Vídeos. Vi alguns vídeos pornôs e consegui ficar excitado só olhando, mas me recusei a me masturbar para dois homens transando. Ainda não acostumei com a ideia de que sinto atração por homens. Mas eu prefiro bem mais garotas fofas e delicadas, como a Japa.
- Chega. - afasta Leonardo, meio vermelho. Eu estava tão concentrado nos meus pensamentos, que esqueci do beijo erótico que acabei de presenciar - Seu tarado.
- Sei que você gostou também, meu amor. Mas, me diga uma coisa, priminho, você gostou do que viu?
É, eu gostei. Só foi meio estranho porque o Leonardo é estranho. Nada contra o Caio, mas o Leonardo é um gay chato.
- Não sei. É nojento ver vocês dois trocando saliva numa praça. - faço cara feia, mentindo o que sinto. Espero que nenhuma criança tenha visto essa demonstração de safadeza.
- Frescura.
- O que ele quer saber, Danilo, é se você ficou com vontade de beijar um garoto depois que nos viu. - coço a nuca, um pouco envergonhado. - Ficou?
- Sei lá. O Leonardo é feio, não é legal o ver beijando.
- Que maldade a sua. - suspira. - Se você quiser fazer um teste mais hard, só falar.
- Como assim?
- Nem pensar! - Caio cobre a boca do namorado. - O Danilo é uma criança, seu idiota. Ele não pode fazer os teste que você imagina.
- Ei, não sou criança! - bem, segundo a minha mãe, eu ainda sou apenas um bebê. Tenho quinze anos, sou jovem de mais mesmo para muitas coisas.
- Você ainda é um garotinho. Até hoje me lembro de você brincando de carrinho no chão da sala e quando quebrava o brinquedo, chorava tanto que eu queria doar você para um orfanato.
- Leonardo! - resmungo, irritado.
- Mas você era um bebê muito fofo. Não tão fofo quanto eu, claro.
- Você tá mais pra dragão.
- Boa resposta. - ri da cara feia do meu primo. - Mas você tá afim de uma garota, né, Danilo? - balanço a cabeça, afirmando. - Então pega ela.
- Eu fiquei com uma menina semana passada. Se ficar de novo, os caras do time vão me irritar até a formatura.
Acho que não devia ter beijado aquela menina. Não valeu a pena. Sem contar que a desgraçada saiu falando, coisa que me irrita muito, muito mesmo.
- Nossa, que pegador. Não sabia que você é assim. - Caio comenta sorrindo sacana. Abaixo a cabeça, com vergonha. - Pensei que só iria começar a beijar meninas por vontade própria depois de adulto.
- Acho que fiz bem em te obrigar a beijar aquela menina no fundamental. - mexe nos meus cabelos, que são idênticos aos seus. Somos bastante parecidos na aparência, a diferença é que ele é mais alto do que eu. - Daqui a pouco vai estar perdendo a virgindade.
Acho que a minha virgindade vai demorar um bom tempo para ser perdida. Ainda fico muito nervoso durante qualquer troca de afeto, então acho que corro o risco de broxar de nervosismo. E isso não seria legal, ainda mais se o Leonardo ficasse sabendo. Isso seria o fim do mundo.
- Cala a boca.
Meu celular vibra. Pra minha felicidade, é a Japa.
[Whatsapp privado] Japa: Nossa, que coincidência.
Antes que eu responda, vejo o casal dando mais um beijo. Que tarados, deviam ir pra um quarto de uma vez.
Eu não sabia que eles gostam tanto de se beijar, já que nas festa de família, os dois apenas andam de mãos dadas. Eles têm muito respeito pela nossa família, por isso não se expõem na frente deles. Mas na minha frente, falta só tirar a roupa e transar.
Agora, respondo a Japa:
[Whatsapp privado] Danilo: Verdade. Japa, me manda uma foto sua?
Ela tem que mandar. Eu preciso ver essa menina. Eu necessito de uma foto dela.
[Whatsapp privado] Japa: Ok. Só me dá vinte minutos.
Sorrio automaticamente ao ver a mensagem. Finalmente vou saber como ela é.
- Olha esse sorrisinho. Tá apaixonado. - Leonardo me zoa, enquanto recebe beijos no pescoço. - Tá muito apaixonado.
- Vá a merda. E vão pro quarto logo, namorar na praça não é muito legal, ainda mais porque vocês são...
- Não seja homofobico, Dani.
- Não é isso que quis dizer. Tanto faz se são homens, mas é constrangedor para as pessoas ficar vendo línguas se enroscando.
- Bem, é verdade isso… Leo, levanta essa bunda.
- Se você me ajudar... - seu tom é malicioso. O moreno não fala nada, só joga o idiota no chão. - Cruel!
- Danilo, nem parece que você e o Leo são primos. São muito diferentes de personalidade. Só são iguais no cabelo e olhos.
- Sim. Ele é idiota, eu não.
- E você é virgem! - morra. - Não sou idiota. Eu sou incrível.
- Incrivelmente idiota. E também é um medroso.
Quando eu tinha seis anos e o Leonardo oito, aconteceu que ele derrubou um vaso de flor da sua mãe com uma bola. Em vez de assumir a culpa, não, ele disse que foi o "o priminho" que quebrou. Fiquei de castigo num canto o dia todo. Também fiquei chorando, tentando convencer a tia de que não fora eu, mas ela não acreditava. Aí quando a minha mãe chegou e me viu triste num cantinho, obrigou o meu primo a contar a verdade. Resultado: fiquei rindo ao ver ele de castigo, como deveria ter sido desde o começo.
- Ainda magoado com aquilo? Nós éramos crianças.
- Ainda quero vingança, isso sim.
- Nossa, crueldade isso. A tia não ia gostar de saber disso.
- Quer saber? Vou embora. Cansei de te aturar.
- Como você é chato, priminho. Gostava mais quando você era pequeno e me pedia pra te ensinar vôlei. - levantamos.
- Você é tão ruim no vôlei que só me ensinou coisas erradas. Um merda.
- Dani, vai se ferra.
- Partiu pra ofensa?
- Ah, chega! - Caio fica entre nós. - Tô com medo de que o Danilo te bata, então vamos logo pra casa da sua avó.
- Mas, Caio… - segura a mão dele. De repente, olho brilho se insta no olhar dele. Não me diga que… - Ei, a casa tá vazia. Isso significa que…
- Leonardo, não ouse transar na casa da nossa avó!
- Tarde de mais. Tchau! - sai correndo levando junto o Caio praticamente arrastado.
Eu não acredito que esse tarado vai dar na casa da nossa avó! Acho que vou ligar para a tia e avisar ela. Não quero que a casa da vó seja infestada de gozo de dois tarados que só pensam em transar.
Estou sozinho agora. O que eu faço? Ainda não deu os vinte minutos que a Japa pediu.
Vou comprar mais um sorvete. Espero que não apareça mais um doido e derrube minha sobremesa gelada de novo. Se isso acontecer outra vez, eu juro que mato sem pensar duas vezes.
Compro um de doce de leite. Na praça, observo as pessoas passando. Duas garotas passam na minha frente, me encarando.
Odeio ser encarado, fico com vontade de bater na pessoa.
Quando já estão um pouco longe, param e se viram para mim. Uma delas caminha na minha direção.
- Oi. - sorri. Não respondo, continuo chupando o meu sorvete. É bem doce, gostoso. - Você pode me passar seu número?
Para essa menina eu não tenho celular e nunca vou ter.
Inventa uma desculpa logo, Danilo.
- Não.
É, melhor responder seco do que ficar de enrolação para dar o fora nela.
- Nossa. Por quê? Tem namorada?
- Acho que isso não te interessa. - levanto e saio andando. Não me importo em ser grosso, é só uma piriguete dando em cima de mim.
- Grosso!
Sim, sou bem grosso. Não gostou, vai pro inferno. Ou melhor, vai morar com o Leonardo, isso já pior que o inferno.
É incrível como nós dois não nos damos bem. Considerando que crescemos juntos, deveríamos ser amigos e apoiar um ao outro. Mas não sei, nunca gostei dele de verdade. E tudo piorou quando entramos na mesma escola e num time pequeno de vôlei. Leonardo descobria meus segredos e espalhava pela escola toda. Nisso, a menina de quem eu gostava ficou sabendo dos meus sentimentos, aí começou a me evitar. Para completar, uma semana depois ficou com o Leonardo. Uma vaca, eu diria. Também teve a vez que meu primo me pegou me masturbando e contou para a minha mãe. Levei uns tapas e fiquei de castigo por um século. Maldito primo.
O barulho de vibração do celular me desperta dos pensamentos.
É uma foto da Japa.
Calma, controla o coração. É só uma foto. Não é nada de mais.
Quem eu quero enganar? Tô doido pra ver essa foto.
[Whatsapp privado] Japa: Tá aí a foto. Se fazer algum comentário estranho te bloqueio por um mês.
Eu posso até pensar algo estranho, mas não seria idiota de dizer isso para ela.
Abro a imagem.
A Japa está de blusa preta com capuz. Com as mãos, esconde do nariz para baixo de um jeito fofo. Seus olhos são puxados e pretos, eles brilham na luz do sol. Seus poucos cílios fazem contraste no olhar. O cabelo aparece pouco, mas parece ser bem liso e preto.
Ela é linda. Uma boneca.
[Whatsapp privado] Japa: Fala alguma coisa, tô ficando nervosa.
Como eu coloco em palavras isso? É linda.
Vou mandar áudio.
- Japa, você é a garota mais linda que eu já conheci.
Envio.
Acho que depois dessa, eu quero muito dar um beijo nessa garota. Talvez eu realmente seja hetero, só estava confuso…
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A distância de um coração
Novela JuvenilDanilo é como qualquer outro garoto de sua idade, animado, se diverte com seu clube de vôlei, namora algumas pessoas... entretanto, de uns tempos para cá, se encontra com uma pulga atrás da orelha: qual seria sua sexualidade? Até que um dia ele con...