Capítulo 6

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Akira

- Okaeri, Akira! - Natsu me cumprimenta assim que chego e como sempre, com uma palavra tradicional japonesa, que significa bem vindo. Eu me mantenho de cabeça baixa e puxo a gola da blusa mais para cima, assim cobrindo o meu pescoço. Não posso deixar minha irmãzinha ver isso.

- Tadaima. - respondo também em japonês, que significa estou de volta. Passo por ela, tentando não chorar.

- Você tá bem? - pergunta com seu jeito doce e preocupado. Apenas desvio o olhar, pensando no que responder.

- Sim, Natsu. Hoje não vou fazer a janta, peça pra Carla comprar alguma coisa pra você. Mas nada muito gorduroso, faz mal.

- Okay… mas você tá bem mesmo?

- Já disse que sim. - corro para o quarto. Assim que tranco a porta e encosto as minhas costas na superfície de madeira, começo a chorar.

Por que eles me machucaram? O que eu fiz de errado?

Horas antes

[Chat CGF] DaniSol09: Na Sol Poente, na Cidade dos Sóis.

Não acredito! Ele é da minha cidade natal! E ainda estuda na minha escola dos sonhos, com o Bruno, meu melhor amigo. Deve ser o Bruno, já que só conheço um baixinho que irritaria o Danilo, o meu melhor amigo de todos.

Bruno e eu morávamos no mesmo bairro quando pequenos, por isso saímos brincar juntos sempre. Saíamos correndo pelo bairro todo com a bola na mão, era divertido, mesmo que às vezes acabássemos nos metendo em confusões. Perdi as contas de quantas vezes um de nós jogou a bola no vidro da casa da vizinha. Também lembro dos inúmeros castigos que tomávamos por isso.

Mas enfim…

Não posso comentar com o Danilo que eu cresci na Cidade dos Sóis, senão ele vai ficar curioso e vai procurar saber da minha vida. E se eu contar que conheço o Bruno, ele pode querer falar com ele e assim, meu segredinho vai acabar.

Então não. Não vou falar nada. Vou apenas comentar que conheço a escola e…

- Olha só, Akira, aqui está você. - um arrepio de medo percorre o meu corpo ao ouvir sua voz. Não, não, não. Agora não. Bloqueio a tela do celular antes que ele veja alguma coisa.

- O que você quer? - estou cercado pelo grupo do Alex. Não acredito que eu fui tão burro de vir sozinho pros fundos da escola. Eu devia ter vindo com o Cauã! Cadê esse garoto quando eu preciso dele?

- Brincar. - agarra a minha cabeça com uma mão. - Akira, nos somos como um ômega e um alfa. Um forte e outro tão fraco. Claro, você é o ômega fraco, eu sou o alfa.

- Agora somos personagens de Abo? Não seja idiota. - consigo ver sua veia da testa saltar. Abo significa Alfa, ômega e beta, que são categorias de uma universo criado por fãs onde homens engravidam de homem e mulher de mulheres.

Estranho? Sim. Eu leria? Talvez.

- Tá falante hoje, hein. - com a mão ainda na minha cabeça, lhe aperta com força. Sinto dor, entao solto um gemido. - Seus gemidos são fofos.

- Me solta! - seguro seu braço, tento empurra-lo mas claro que ele é mais forte do que eu. - Me deixa em paz, Alex!

- E perder de ver essa sua cabeça de repolho? Segurem ele, caras. - Solta meu corpo, mas logo dois garotos me pegam cada um de um lado. - Você é fofo, Akira. Por que não começa a chorar? - agarra meu pescoço, afundando os dedos na minha garganta. O ar me falta, me deixando desesperado.

- So.. corro. - tento me soltar, mas nada. Não consigo nem falar direito, isso me deixa ainda mais assustado. Quando estou quase perdendo a consciência por falta do ar, ele solta meu pescoço. - Obri… para! - vejo que ele vai me dar um soco. Não consigo impedir, ele me acerta uma vez, seguida de outra e outra.

Fico chorando enquanto luto para me soltar, mas não tenho chance contra esses garotos. Sou magro e fraco, nunca conseguiria fazer nada.

- Que porra é essa? - uma voz alterada diz. Reconheço a pessoa na hora, é o Cauã. Meus olhos se encontram com os dele, que estão arregalados. - Akira? O que diabos está acontecendo aqui?

- Olha outro garoto fofo. - Alex se afasta de mim, indo na direção do Cauã. - Você tem olhos de gato. Eles dilatam no escuro também?

- Cauã, foge! - grito. Estou com medo de machucaram o Cauã por minha culpa. Se isso acontecesse eu jamais iria me perdoar. - Sai daqui antes que eles te peguem! Por… - antes que eu termine a frase, os dois me soltam, apenas para me dar um chute. - Ai! - sou empurrado contra o chão e os chutes continuam.

- Parem agora! - seus olhos de gato estão nublados, de um jeito assustador.

- Agora que você que apareceu, junte-se a nós, vamos nos divertir. - sorri de um jeito malicioso. Ele não pode estar pensando em… Não. Ele não teria coragem de nos assediar. Alex é heterossexual pelo o que sei, ele não...

Ou sim?

- Prefiro ficar cego do que me divertir desse jeito com você. - revira os olhos. - Vocês sabem que estão fodidos, né?

- Por quê, gatinho? - estala os dedos.

- Ninguém me chama de gatinho sem ser o Igor. - sua voz está forte, mostrando sua irritação.

- Não? E o que você vai fazer então? Me bater?

- Eu não. Ele vai. - aponta para o lado, onde posso ver o Igor vindo até nós com mais alguns caras. Eles estão vindo cheios de pose, como se fossem super heróis.

- Então vocês tocaram no Akira e nosso querido levantador? Muita coragem, hein. - levantador é a posição onde o Cauã joga no time de vôlei. E quem falou isso foi o cara com as laterais raspadas que vi conversando com o Igor há alguns dias.

- São super corajosos, Miguel. Estavam pensando em machucar o meu gatinho. Ninguém toca no meu gatinho lindo.

- Cala a boca, Igor.

- Não seja agressivo, meu amor. Deixa isso para mim e para os meus coleginhas.

Agora

Fico chorando na cama, ainda assustado pelo o que aconteceu. Depois que eles me salvaram, deram uma surra nos caras e chamaram o diretor. Aí o Arthur, que acabei conhecendo naquele mesmo dia, que por acaso é da minha sala, deu a ideia de me colocar como assistente de time para ficar mais seguro. Ele também disse que me acompanharia até em casa, para que eu não corresse riscos. Foi legal da parte dele.

Claro, vai ser como ter uma babá, mas é mais seguro. Eu estou com muito medo de andar sozinho e acabar apanhando de novo. Não quero sentir dor, é horrível. O pior de tudo é que não tem motivo para eles me baterem. Ser japonês não é um motivo. Eu também nem implico com ninguém da escola. Ou seja, sem motivos para a surra que tomei.

Meu corpo está dolorido. Aqueles idiotas me machucaram de verdade. Acho que preciso por um gelo no estômago, tá doendo bastante.

A porta do meu quarto é aberto pela minha irmãzinha.

- Ei, mano.

- Eu quero ficar sozinho! - resmungo. Me escondo no cobertor.

- É que tem um amigo seu aqui. - tiro o cobertor da cabeça, podendo ver o loiro ao lado da minha irmã.

- Cauã? - ele entra no quarto e fecha a porta. - O que faz aqui? Você deveria estar na sua casa.

- O Igor disse que seria bom alguém dormir na sua casa pra te acalmar. Eu não queria vir porque não sou bom nessas coisas de sentimentos, mas você conhece aquele cara, ele é insistente. - seu olhar é de tédio, mas também percebo uma certa preocupação. Ele segura uma sacola de mercado enquanto se aproxima.

- Entendi. - me sento. - Espero que não se importe com meu rosto inchado.

- Lava a cara logo. - se joga na cama, tomando quase todo o espaço. Para um pequeno garoto, ele é espaçoso. - Tô com fome, Akira.

- A Natsu ia pedir lanche. Se quiser pego um pra você.

- Não precisa, trouxe salgadinho e sorvete. - tira as comidas da sacolinha. - Não tava afim de morrer de fome na sua casa.

- Chato. - pego a coberta e vou para o lado dele. Nos cobrimos, ficando bem perto um do outro. - Não acredito que o Igor te convenceu a vir até aqui.

- Ele deu o jeito dele. - juro ter visto um leve toque de vermelho nas bochechas dele.

- Cauã, fala sério, tá? Você e o Igor estão de rolo, né?

O loirinho desvia o olhar e suspira. Depois, coça a nuca, para então responder:

- Sim, estamos. - arregalo os olhos. Eu não esperava essa resposta tão na lata! - Ficamos algumas vezes.

- F-Ficar? Tipo… dar uns beijos?

- Mais que isso… - abaixa a cabeça. Agora nós dois estamos com vergonha.

- Você transou com o Igor?! - assente balançando a cabeça. - Você fez sexo com um homem?!

- Ué, qual o problema? No sexo hetero também rola sexo anal. - demoro alguns segundos para processar a informação.

Tá, agora eu estou assustado. Meu amigo deu o bumbum para o Igor. Que coisa mais doida. Será que doeu?

- Foi bom? - Cauã se encolhe, assustado com a minha pergunta. - D-desculpa a pergunta, é que… eu tô curioso. Você perdeu a sua virgindade! Isso é muito interessante, quero saber mais.

- Akira, para de ser curioso! Mas se quer saber: Foi uma delícia. Provavelmente eu nunca senti tanto prazer quanto naqueles minutos que o Igor… me fez dele.

Só eu que achei super fofo isso que ele falou?

- Você é tão fofo. Deve ser por isso que conquistou o Igor. Por falar nele, eu pensava que ele gostava de mulheres.

- Ele já pegou um monte de caras. Só que é escondido. Eu sou o único que ele deixa que saibam, sabe. E você devia ter descoberto sozinho sobre o nosso rolo.

- Como eu iria? - deito a cabeça para um lado, confuso.

- Então… O Igor tava de… quer dizer, ele estava excitado quando você foi em casa aquele dia, por isso me pois no colo. Aquele tarado, ficou se esfregando na minha bunda. - abro e fecho a boca várias vezes, sem saber o que falar. Estou com muita vergonha.

- Eu não precisava saber disso. - choramingo.

- Você tem que se acostumar com esses assuntos.

- Não consigo! E você fala de uma maneira tão natural...

- Eu só não gosto de enrolação numa conversa. Tipo, eu descubro as coisas na hora então detesto que sejam lerdo comigo. Por isso percebi que você é gay.

- Que?! - vou para me levantar, mas escorrego e caio no chão. Ai, minha testa. Fico sentado no chão, ainda abismado com o que ele disse. - Eu? Gay? Não!

- Eu acho que é.

- Não sou! Você que é gay!

- Eu só gosto de um cara.

- Ora, ora. Parece que alguém está apaixonado. - como resposta, ele pega os seus fones e os coloca. Cauã sempre faz isso nas raras vezes que fica com vergonha extrema. - Não me deixe falando sozinho! Eu nem falei algo tão constrangedor!

- Vai dormir, Akira.

- Mas eu nem tomei banho!

- Eca. Que nojo. Vai logo!



Cauã

O Akira vai emburrado para o banheiro, já que ele não gosta muito de banhos. E eu preciso dizer um dia que o cheiro dele às vezes denuncia isso.

Bem, essa é a minha chance de por meu plano em prática. Pego o celular do Akira sem pensar duas vezes. A senha, como imaginei, é JapaDoce, como eu suspeitava. Em seguida entro no chat do joguinho besta. Começo a digitar uma mensagem.

[Chat CGF] JapaDoce: Ei, Dani.

O chamo assim porque não sei seu nome certo. Tudo que sei é o nome nos jogos, que vi no Free Fire aquele dia.

O idiota não demora responder como um cachorrinho animado.

[Chat CGF] DaniSol09: Oii.

Nossa, dois i's. Que amor todo é esse?

[Chat CGF] JapaDoce: Aqui é o Cauã.

Dessa vez ele demora. Fica apagando e digitando várias vezes.

[Chat CGF] DaniSol09: Namorado da Japa?

Burro. Não sabe nem o nome do Akira pelo jeito.

[Chat CGF] JapaDoce: Não. A Japa não faz o meu tipo. Somos bons amigos.

[Chat CGF] DaniSol09: Entendi. Mas o que quer comigo?

[Chat CGF] JapaDoce: Assim, a Japa anda deprimida porque hoje bateram nela na escola. Então quero te pedir um favor.

Outra vez, Dani enrola pra responder. Enquanto isso olho o meu celular. Tem uma mensagem que ainda não vi.

[Whatsapp privado] Igor: Gatinho, comprei o seu presente de um mês de namoro!

Não consigo ficar sem dar um tapa na minha testa. Que homem burro.

[Whatsapp privado] Cauã: A gente nem assumiu o namoro, Igor.

[Whatsapp privado] Igor: Mas eu quero te dar um presente, tá? Amanhã depois da escola vou no seu apartamento. Depois que fizermos bem gostoso, eu te dou.

Fico vermelho. Esse tarado, só pensa em sexo. Resolvo ignorar ele quando o celular do Akira vibra.

[Chat CGF] DaniSol09: Como assim bateram na Japa? Ela está bem?

[Chat CGF] JapaDoce: Na medida do possível. Mas agora eu quero saber se posso contar com você numa coisa.

[Chat CGF] DaniSol09: Diga.

[Chat CGF] JapaDoce: Seja amigo da Japa. Ela é tão alegre que me dá nos nervos, então não consigo aguentar às vezes. Mas você suportou ela por dois dias, então vai conseguir virar amigo dela.

[Chat CGF] DaniSol09: É fácil fazer amizade com a Japa. Eu que não sei como ela quis conversar comigo.

[Chat CGF] JapaDoce: É que os dois são insuportáveis.

[Chat CGF] DaniSol09: Vá a merda.

[Chat CGF] JapaDoce: Bem, boa sorte. Vou apagar a conversa, então faz o favor de fingir que nunca falou comigo. Até.

Pronto, fiz a minha parte. Trato de apagar a nossa conversa e deixo o celular jogado na cama.

Agora o meu que começa a vibrar feito doido. Não me dou o trabalho de ler todas as cinquenta mensagens do Igor, apenas rolo a tela até embaixo.

[Whatsapp privado] Cauã: Que foi?

[Whatsapp privado] Igor: Você é um namorado muito mau. Merece ser castigado nessa sua bundinha linda ;)

[Whatsapp privado 15/03 8:44 PM] Cauã: Igor Lima, deixa a minha bunda em paz.

Dá última vez que eu fiz algo que o Igor não gostou, ele inventou de me dar um castigo. Nunca tomei tantas palmadas na bunda como aquele dia. Igor me colocou no colo na cama contra a minha vontade e começou a distribuir tapas estalados nas minhas nádegas. Eu mentiria se disse que foi completamente ruim. Sim, doeu, mas eu fiquei muito excitado. Assim o castigo acabou em sexo na minha cama. Um sexo muito gostoso e selvagem. No dia seguinte nem consegui andar direito, o que causou muitas piadas por parte dos meus colegas de time, principalmente do Miguel.

Teve uma vez também que fizemos… é… amor, dentro do banheiro da escola. Foi muito errado, mas não deixou de ser bom. Igor apenas me arrastou para o banheiro e me imprensou na parede, aí minhas roupas de baixo foram para o chão e fizemos um sexo maravilhoso. Cada vez que ele estocava em mim, era um gemido alto que eu soltava.

Queria entender o porquê de sexo ser tão bom. Eu sei a parte teórica, sobre a próstata que está dentro do meu lugar, o que me faz sentir prazer. Mas o que não entendo é o motivo desse lugarzinho sensível trazer as sensações mais gostosas que já senti. Cada vez que durmo com o Igor, eu quero outras vez. Já perdi a conta de quantas vezes fizemos, mas todas foram gostosas. Sexo é maravilhoso.

Volto para o Whatsapp com vergonha de lembrar das minhas safadezas com o Igor. Eu sou um depravado.

[Whatsapp privado] Igor: Não consigo, sua bundinha é muito linda. Fica mais linda ainda quando eu te coloco de quarto e…

Deixa no ar a frase.

Eu simplesmente clico nos três pontinhos na parte superior, aperto o mais e finalmente, bloqueio esse tarado.

Um segundo depois, chega uma notificação do mensager.

[Mensager] Igor: Tá bravo comigo?

Vou apenas ignorar pra não passar raiva.

Agora chega uma mensagem no Instagram.

[Instagram chat] Igor: Tá bravo, amor?

Calma, Cauã. Ele vai desistir, só ignorar.

E o maldito celular vibra de novo.

[Mensagem de texto] Igor: Me desbloqueia.

Uma veia salta na minha testa. Respira, Cauã. Esse idiota…

Tocando de novo.

Para de tocar droga de celular! Odeio o toque do meu telefone!

Não atendo, deixo tocando pra ele perder tempo.

O Akira sai do banheiro com uma toalha na cintura e outra para secar o cabelo. Se senta ao meu lado. Pega o celular, parece não desconfiar de nada.

- Cauã, o Igor mandou umas dez mensagens mandando você desbloquear ele.

- Ah, vai pro inferno!

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