Capítulo 20

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Capítulo 20

Akira

Meu corpo está congelado enquanto cubro a boca da Natsu. Eu não acredito que essa baixinha abriu a boca, ainda mais para o Danilo. Estou arrependido amargamente por não deixar a porta do quarto trancada. Mas o pior que deixar a porta aberta, é o Danilo entrar no meu quarto, que logo foi invadido pela minha adorável irmã.  O pior de tudo é ela entrar no meu quarto quando, por um  motivo que não sei, o Danilo esta aqui - e que por acaso é a pessoa por quem estou apaixonado.

- Danilo? - pergunto para mim mesmo. É claro que é ele. Onde mais existe um homem tão maravilhoso como esse?

- Oi, Akira. - me cumprimenta calmo. Calmo de mais... tem alguma coisa errada aí. - Gostei do colar. - quando ele mostra a correntinha com o pingente de vôlei, sinto como se a minha alma estivesse escapado do meu corpo. Eu falei que tinha algo de errado!

Socorro, isso só pode ser um pesadelo.

- Natsu, vai brincar. - Preciso me livrar dela, não quero que ela veja seu irmão ser esmagado pelas mãos enormes e sexys de Danilo. Empurro a ruivinha para fora do quarto, para que eu possa morrer sem que ela veja.

- Eu quero conversar com esse homem bonito! - grita tentando voltar para o quarto.

- Agora não, Natsu. - Bato a porta e a travo. Que menina insistente. Olho para o Danilo. Acho que eu preciso falar algo. - Então... - fico encarando meus pés, sem coragem de trocar sequer um olhar com ele. Estou morrendo de vergonha. Minha mentira sobre ser uma garota já era. Eu devia ter guardado aquela correntinha em um lugar mais discreto. Como sou burro!

- Então você é a Natsu Kobayashi? - fala sem cerimônias, me deixando sem saber o que falar, então apenas confirmo. - Você usou o nome da sua irmã para se fazer de menina?

- Sim… - respondo encarando ainda os pés. Parece que se eu não olha-lo nos olhos, as coisas ficam mais simples.

- Então eu estava gostando de um garoto na verdade? - se aproxima de mim em passos lentos. - Você fingiu ser uma garota. - a voz dele está forte e ríspida, o que me deixa um pouco assustado. Com pouco, digo, muito. Ele não teria coragem de me matar aqui, né? - Eu vou te matar. - quando ele diz isso, fico muito nervoso e grito de volta:

- Eu posso explicar! - a face do moreno está ficando vermelha, provavelmente de raiva. De vergonha que não pode ser. - Foi tudo ideia de Cauã! - inicia uma caminhada lenta na minha direção, em passos pesados, o que me deixa assustado. - Eu… Eu... - cada passo que ele dá, fico com ainda mais medo. - Eu precisava de um amigo! E.. - Não consigo dizer mais nada, Danilo me abraça apertado, afundando o rosto nos meus cabelos. - Que?!

No começo, fico assustado por estar com os braços acolhedores de Danilo me envolvendo. Mas logo fecho os olhos e fico apenas sentindo seu calor. O abraço do Danilo é tão gostoso, queria ficar assim com ele pelo resto da minha vida.

- Akira... - Escuto alguns fungares de nariz. Não acredito… Danilo Gomes está chorando. - Por que você brincou comigo?

- Como? - pergunto confuso.

- Por que você me fez me apaixonar? É um hobby seu se fingir de menina pra magoar meninos? Sabe o quanto doeu a desilusão?

- Eu imagino... - respondo simples assim. Eu não sei o que devo dizer nessa situação, estou nervoso e com medo.

- Não, você não imagina! - se afasta de mim gritando. Eu me encolho, com medo, mas ao mesmo tempo, tento segurar o choro, mas sinto cada vez mais vontade de chorar. - Você não sabe quantas noites eu fui dormir chorando, pensando em você! Não sabe quantas lágrimas eu derrubei nos braços do Lucas ou do Samuel, às vezes até no colo da minha mãe. Foi destruidor essa desilusão, acabou com o meu coração.

- Eu sinto muito, Danilo. Eu realmente sinto muito… - aperto os punhos, sentindo as minhas unhas machucaram minha palma. Estou com raiva de mim mesmo.

- Sentir não vai apagar isso! Eu tive uma fase que até me cortar eu cortava! - puxa a manga do casaco, mostrando várias cicatrizes. Arregalo os olhos. - Por sua culpa até meu sangue caiu!

Não aguento controlar o choro, que começa de leve. Eu não acredito que fiz tão mau ao Danilo. Pra mim ele apenas tinha ficado triste.

- Desculpa…

- Você não poderia ter dito desde o começo que era homem?! Aí eu não daria em cima de você, então não me apaixonaria!

Estou em choque com as palavras. Estou me sentindo cada vez pior. Eu me sinto um… monstro.

- Danilo, me desculpa! - ele vira o rosto para o lado, limpando as lágrimas com a blusa uniforme da escola. - Eu não tive a intenção. Foi tudo porque eu precisava de um amigo e… e...

- E aí foi brincar de ser menina e partir corações alheios? Diga-me, com quantos caras você fez isso? - agarra meus ombros. - Eu fui só mais um na sua lista?

- Claro que não! Eu só...

- Por que beijou aquele cara na minha frente? - abaixo a cabeça. Esse assunto de novo não.

- Não quero contar, Danilo. Isso é…

- Fala, Akira!

Mesmo constrangido, digo:

- Porque ele ia contar que eu sou homem pra você! Eu não podia deixar você saber disso daquele jeito.

- Ah, muito melhor eu descobrir aqui na sua casa?! Eu quero te dar um murro, maldito!

- Pode dar. Eu mereço. - fecho os olhos, esperando o impacto. Mas ele não vem. Eu mereço esse soco, magoei uma pessoa inocente, que não merecia tal sofrimento. Ainda esperando o soco, a única coisa que acontece, é seus dedos tocando meu rosto. - Danilo? - abro os olhos lentamente, vendo um Danilo mais estressado, mas de um jeito mais sereno. É agradável vê-lo assim. - O que foi? O que está esperando? Eu já disse, pode me bater! Eu sou uma pessoa horrível que só pensei nos meus sentimentos. Anda, bate!

Silêncio. A sua mão continua tocando meu rosto, agora fazendo carinho na minha bochecha. Seus olhos estão cheios de lágrimas.

- Danilo... - antes que eu continue, responde:

- Eu quero muito te bater, muito mesmo. - consigo ver um leve sorriso no rosto dele.

- Então, por que não faz? - pergunto deixando sua mão me acariciando. É tão bom, os dedos do Danilo são quentinhos.

- Não posso fazer isso. Você é aquela garota por quem eu me apaixonei, então eu nunca poderia te machucar. - arregalo os olhos.

- Danilo. - seguro seu rosto entre as mãos. - Por favor, aceite minhas desculpas. Eu faço qualquer coisa.

- Eu só queria que você fosse a Japa, não… - seus olhos percorrem pelo meu corpo, me deixando vermelho. - Você tem pau, isso é estranho.

- Ei! - dá um leve sorriso, que logo some. - Você realmente se preocupa com isso? Eu ainda sou aquela pessoa, só que homem.

- Sinceramente? Acho que não. Mas ainda quero ouvir suas desculpas.

  - Eu já pedi desculpas.

- Peça mais vezes. Você fez algo grave, japinha. - abaixa o rosto e me dá um beijo na testa, o local fica quente, querendo mais de seu carinho.

- Desculpa, Danilo. - lhe dou um beijo na bochecha.

  - Isso não foi suficiente, se desculpe mais.

- O que acha de demonstrar? - arqueia a sobrancelha. Em um movimento rápido, jogo o Danilo na cama. Ele me olha assustado, ficando ainda mais quando eu subo no seu colo.

- Você tá doido?

- Não. Ei, você acha que eu não sei sobre os seus pensamentos impuros sobre mim? - toco seus lábios com o dedo indicador, o impedindo de falar. - Você é um safado, que se pudesse, tinha transado comigo por celular.

- É, eu teria. - suas ambas mãos tocam minha coxa. Outro lugar que esquenta. - Na minha mente você era a menina mais gostosa do mundo.

- Sinto muito te decepcionar. Mas me diz, ainda quer transar comigo mesmo sabendo a verdade? - um sorriso malicioso estampa sua face. As mãos habilidosas dele encontram a minha bunda, dando uma apertada tão gostosa, que quase me faz gemer.

- Acho que transar com você pode até ser gostoso. - fico vermelho mais uma vez. - Pode ser o seu pedido de desculpas.

- Ei, aí tá radical de mais! - cubro o rosto com as mãos. Aperta novamente a minha bunda, dessa vez suspiro de prazer.

- Você não quer? Eu tô vendo que você tá ficando excitado.

- Não é isso. É que… você não se importa de fazer com um homem?

- Não importa o sexo, é você. Eu sempre quis te amar, então não posso ser idiota de desperdiçar essa chance só porque eu me achava hetero.

- "Achava"?

- Isso. Acho que sou bixessual mesmo, mas não estou nem aí. Eu vou ficar alegre de te ter, isso é o que me deixa feliz.

Meu sorriso aparece, bem largo e bonito. Eu também amo esse cara.

Quando tomo uma decisão, falo:

- Danilo, quando fizermos dezoito anos, podemos transar então? - arqueia a sobrancelha.

- Por que dezoito? Podemos fazer agora.

- Nem pensar! Ainda somos novos! Principalmente você. - aponto para seu rosto. - Você é mais novo do que eu, o que torna sexo ainda mais errado.

- Mas… chato. - faz bico. - Meus amigos já transaram.

- São meio irresponsáveis. Sem contar que ainda nem namoramos para transar, sabe… - mexo nas pontinhas dos dedos, ficando nervoso. - Eu cresci pensando que sexo é só com namorado, ou na melhor das hipóteses, com a esposa.

- Esposa? Somos homens.

- Até você aparecer eu sempre pensei que a minha primeira vez seria com um garota! - digo indignado. Esse garoto acabou com as minhas esperança de me casar e ter filhos.

- É, digo o mesmo sobre mim. Nunca pensei que me apaixonaria por um homem. Só que, você é bem feminino, então acho que não conta tanto.

- Danilo, eu tenho pênis, claro que conta. - dá um sorrisinho. - Safado.

- Eu quero transar, quero muito.

- Vai ficar querendo, amor. - jogo um beijinho no ar.

- Ei, Akira. - toca o meu rosto com as duas mãos. - Posso te dar um beijo? - arregalo os olhos e em seguida, me encolho, com vergonha.

- Essa sua boca já beijou muito, então você nem deve estar querendo tanto assim um beijo meu… - num movimento, me joga na cama e sobe em cima de mim. - Ei!

- Seu beijo é o único que me interessa agora. Então, eu posso? - Nem perco meu tempo pensando nisso, apenas respondo:

- Pode! - fecho os olhos e dou um sorriso. - Claro que pode! - mal termino a frase e os lábios dele tocam os meus, num breve selinho. Seus lábios começam se mexem sobre os meus, me beijando lentamente. Abro a boca um pouco e língua dele adentra.

Ficamos nisso por um bom tempo, apenas beijando e aproveitando o nosso primeiro amasso. É maravilhoso. Nunca pensei que beijar a pessoa que amo poderia ser tão bom.

- Eu te amo, DaniSol09. - digo com a voz macia, quando paramos o beijo.

- Eu também te amo, JapaDoce.

Uma semana depois

- Onii-chan, hora de… já levantando? - a pequena pergunta ao me ver pronto para a aula.

- Hoje é um dia especial, não posso me atrasar. - borrifo um pouco de perfume. A campainha toca. - É ele! - pego a mochila e corro para o primeiro andar. Quando chego lá, o meu pai já abriu a porta. - Oi! - pulo nos braços do meu namorado.

Isso mesmo, namorado.

Semana passada decidimos namorar, mas só iríamos assumir depois que o meu atestado médico acabasse. Ou seja, hoje vamos assumir!

- Oi, Akira. - dá um beijinho na minha testa. Seguro sua mão.

- Akira. - a voz do meu pai me chama. - Esse é o Danilo?

- Aham. Também é meu namorado, aquele que eu te contei. - ele sorri. Meu pai é bem liberal e isso é bom. Ele não foi contra o meu namoro com um garoto, pelo contrário, ficou feliz de me ver namorando alguém que amo.

- Espero que esse namoro deixe o meu filho feliz, ou acabo com você, rapaz. - mostra seu olhar assustador para o Danilo.

- Não vou fazê-lo chorar, f-fique tranquilo. - dou risada. Ele está morrendo de medo, que fofo! Quero apertar suas bochechas.

- Vamos! - puxo ele para fora. - Tchau!

No caminho, conversamos sobre coisas banais, nos divertindo. Quando chegamos na escola, entramos de mãos dadas. Seguimos para o ginásio, sem nos importar com os olhares de todos. Alguns são olhares de nojo, mas eu não me importo. Danilo parece não ligar também. Para que ligar para homofobicos? Eu estou feliz e o Danilo vai me proteger sempre.

Nossa, nesses momentos que eu percebo o quanto amo esse homem. Nem acredito que há quase cinco meses, eu apenas falava com ele por amizade, sem saber que nossa primeira conversa era apenas a ponta do iceberg.

Assim que entramos dentro do ginásio, os membros do time estão todos em fila, metade de um lado e metade do outro. Samuel está na ponta, de frente para nós.

Olho confuso para o Danilo.

- Só… entra na onda.

- Okay.

Aline coloca uma flor no meu cabelo e me entrega um ramo de flores. Fico confuso, então penso bastante. Só aí entendo.

- Não acredito. - meus olhos estão arregalados. - Você vai mesmo fazer isso?

- Vou. - Danilo pega minha mão. Damos passos entre as pessoas lentamente, enquanto eu estou surtando no meu interior. Os Danilo e o pessoal do time de vôlei amaram tudo isso? É incrível, um casamento de mentira, mas eu confesso que não estou preparado para isso, só que como é com o Danilo, eu faço qualquer coisa.

No caminho até a ponta, olho apaixonado para o Danilo. Eu finalmente estou com a pessoa que amo, sem me importar que ele é homem também.

O amor é uma coisa muito louca. Você não pode escolher quando ele vai vir, mas quando chega, seu coração fica maluco e você só consegue pensar na pessoa. Por isso eu digo, eu amo o Danilo. Eu amo muito, muito, muito mesmo! Ele é o amor da minha vida e isso nunca vai mudar.

Chegamos na ponta. Meu coração está a mil, então tenho me focar em segurar a mão da pessoa que amo. Samuel começa a falar:

- Estamos aqui reunidos para comemorar que a vida de solteiro de Danilo Gomes finalmente acabou. E a vida de identidade falsa de Akira Kobayashi teve fim. Agora nossos dois amados alunos vão poder finalmente ficar juntos. As alianças! - fico sem fôlego quando vejo a Natsu surgir da porta do ginásio com dois anéis numa almofada.

Isso é incrivelmente brega, mas ao mesmo tempo, incrivelmente fofo.

- Ai, Kami-sama. - me abano com a mão.

- Felicidades, onii-chan! - entrega a almofada para o Samuel.

Então eu percebo que junto dela, meus pais e os do Danilo, mais meus amigos de São Paulo e o primo do Danilo, mais o namorado, estão aqui.

- Querem trocar votos? - pergunta.

- Sim. - Danilo pega a aliança, a colocando no meu dedo de compromisso. - Akira, eu te amo desde que trocamos as nossas primeiras mensagens. Você é um doce de pessoa que me fez apaixonar sem nem mesmo saber a sua verdadeira identidade. Eu percebi assim, que não importa o seu sexo, eu apenas te amo e isso é fato. Por favor, seja meu para sempre.

- Você é um fofo. - pego a aliança dele. - Danilo, você virou minha vida de cabeça para baixo. Por sua causa, virei praticamente uma menina doida que não sabia o que fazer para se livrar de você. - todos riem, mas ficam em silencio quando Lucas mostra um olhar que faz todos se calarem. - Mas você não desistiu de mim apesar da centenas de foras que te dei. Ao contrário, me amou. Fez um garoto com as pernas machucadas se apaixonar por você. Eu te amo. - coloco a aliança no dedo dele.

- Eu também te amo. - damos as mãos. E então: beijo. Todos batem palmas enquanto nos beijamos. Quando nos separamos, andamos juntos pelo meio das pessoas que jogam pétalas de rosa branca nas nossas cabeças.

E esse é o meu final feliz.

Fim!

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