Akira
[Chat CGF] DaniSol09: É, ué. Você não é garota?
Dou um grito histérico. Nã acredito, ele acha mesmo que sou uma garota! Eu preciso de ajuda, não sei como continuar essa conversa nesse estado!
Cauã! Preciso do Cauã!
Procuro rapidamente o número dele pelo Whatsapp e clico na chamada de vídeo. Vamos, Cauã, me atende. Certeza que deve estar jogando algo. Jogar é a vida daquele nerd jogador de vôlei.
Finalmente atende a chamada.
- Que foi, Akira? Estou estudando. - consigo ver que está na escrivaninha com o celular virado para si e ao seu lado, alguns livros da escola, mais um caderno aberto. Então ele estava estudando mesmo? Isso é novidade. Meu amigo geralmente vai bem nas matérias sem precisar estudar, então é raro vê-lo estudando.
- É que… O cara lá do jogo! Tá conversando comigo e acha que sou mulher!
- E o que eu posso fazer sobre isso, além de te ver surtar? - apoia o rosto na mão. No fundo vejo o Igor andando pelo quarto de cueca. - Igor, já mandei se vestir!
- Mas a noite ainda nem começou! - morde uma fatia do pão que segura. Esse moreno tem um vício por comer, quase sempre que nos encontramos lá está ele, com comida na mão. Não sei como que no engorda.
Mas espera, o que diabos ele está fazendo de cueca na casa do Cauã? Não me diga que… Isso é uma cena pós sexo?!
- N-Não queria atrapalhar vocês dois… - digo envergonhado. Tento procurar com os olhos marcas que denunciam o ato, mas nada. Ele está limpo.
- Não estamos fazendo nada. Esse tarado aí que gosta de ficar sem roupa na minha casa. Sorte que moro sozinho. - suspira.
- Ah, sei.
O loirinho é muito sortudo. Além de ser bonito e inteligente, ainda é rico. Seus pais lhe deram um apartamento esse ano como presente. Disseram que ele precisava aprender a se cuidar sozinho. Resultado disso? O Cauã só come comida pré preparada, como miojo e lasanhas congeladas. Só quando o Igor resolve preparar algo que seja comida de verdade, que o mais novo se alimenta direito. Igor sabe cozinhar muito bem, o que era de se esperar, já que como dito anteriormente, ele adora comer.
- Então, o que você quer que eu faça? - muda de posição, agora cruza os dedos na frente do rosto.
- Não sei. Só me ajuda! Eu concordo que sou menina? Não... acho melhor falar a verdade.
- Para de ser besta, Akira. Fala com o cara, vai ser bom. Você precisa de mais amigos.
- Preciso, mas de reais. - suspiro. Não consigo controlar meus suspiros, fico soltando eles toda hora. É tipo um vício que não tem mais cura. Nossa, acabei de lembrar de uma música... foco no assunto principal, Akira!
- O Levi me disse que vai virar seu amigo. Ele não quer te deixar sozinho.
- Agora eu ganhei uma babá?! - pergunto indignado. - Eu tenho quinze anos, não cinco! Não preciso de babá!
- Pense que ele será como um guarda costas. O Levi pode ser um idiota completo, mas é grande e assusta as pessoas.
- Ele é desastrado também! - Igor se aproxima do celular, jogando um braço nos ombros do loiro. - Derrubou o meu gatinho esses dias. - esfrega o nariz no cabelo do outro.
- Ah, fala sério! Vocês namoram! - não aguento mais sem falar isso. Cauã revira os olhos, enquanto o outro lhe dá um beijinho na cabeça.
- Eu quero namora-lo, mas o Cauã só diz não. - tenta dar um selinho no loiro, falhando várias vezes. - Vem cá, bebê.
- S-Sai! - fico vermelho assim como o meu melhor amigo, quando o atual capitão do time de vôlei consegue encostar a boca na dele. - Igor!
- Desculpa por ter tirado seu bv. - sorri de lado, com aquele pontada de deboche que irrita o seu futuro namorado.
Enquanto os dois conversam, me sinto uma vela.
- Você sabe que eu já beijei! - retruca irritado. Eu desconfiava disso, por causa da nossa conversa mais cedo. Queria saber quem foi o louco que deu um beijo no Cauã mesmo sabendo que o Igor o mataria sendo ele, ou ela. O ciúmes do nosso estudante do terceiro ano é bem exagerado.
- Ah, eu lembro do seu primeiro beijo. Foi naquele jogo da garrafa, né? Você beijou o nariz do cara. - dá risada. Eu apenas dou risada junto dele. - Foi bonitinho de mais ver você sair correndo do quarto morrendo de vergonha.
- Cala a boca! E você broxou na sua primeira vez porque a menina tava usando sutiã beje! Seu ridículo! Quem broxa por causa da cor da vestimenta de uma mulher? Broxa!
- Mas é broxante mesmo…
- Gay.
- Bissexual!
Apenas escuto a conversa, dando risadinhas dos dois. Eles agem como namorados de verdade. Mas enfim, chega de apenas observar.
- Gente, não vão me ajudar? - olham para mim, tirando o foco da briga. - Eu tenho que decidir se falo que sou garota ou garoto.
- Fala que é garota.
- Concordo com o Cauã. Se faz de garota. Vai que aí o cara te manda diamantes no Free Fire.
- Então tá... até mais. Bom namoro.
- Akira!
Encerro a chamada.
Bem, só há uma coisa a ser feita.
[Chat CGF] JapaDoce: sim, sou garota.
Nada dele responder, então ocupo minha cabeça com a lição de casa. Respondo primeiro as questões de matemática. Quem inventou de por letras nessa matéria? Se tem letra é qualquer coisa, menos matemática.
Meu celular vibra. Wow, é uma mensagem do cara lá.
[Chat CGF] DaniSol09: Por um momento pensei que era homem, risos.
Você não sabe da maior, Sol.
[Chat CGF] JapaDoce: Qual seu nome?
Resolvo perguntar. É meio óbvio que estou falando com um homem, mas é bom ter a certeza.
[Chat CGF] DaniSol09: Danilo Gomes. E o seu?
[Chat CGF] JapaDoce: Me chame apenas de Japa ;)
Bloqueio a tela e jogo o celular na cama. Vou para a cozinha, já que estou sentindo fome.
- Akira, finalmente apareceu. - minha madrasta vem até mim, me dando um beijo na testa.
- Eu fiquei aqui a tarde toda. - me controlo para não virar os olhos.
Odeio essa falsa preocupação dela. Todos nessa casa sabem que ela não tá nem aí pra mim ou para Natsu. É uma ocidental aproveitadeira, que adora tirar o dinheiro do meu pai rico.
- Jura? Não percebi. - me afasto dela. Sério que ela não percebeu? Devia estar gastando dinheiro em algum lugar, como sempre faz. Abro o armário e tiro de lá uma lasanha de micro-ondas. - Não vai querer lanche? Eu ia pedir…
- Não. Eu me viro. - coloco minha comida congelada no micro-ondas. - Natsu! - a chamo. Logo a minha irmãzinha desce as escadas com cara de sono. - Preguiçosa. Coma e depois faça sua lição de casa. - afago seus cabelos. Começo a preparar o arroz, já que comer arroz gelado e velho não é muito bom.
- Você é chato, Akira. - boceja. - Nunca vai arrumar namorada assim.
- Natsu! - choramingo. - É maldade isso.
- Brincadeira! - ri. Coloco a água para ferver o arroz. - Você vai se casar com um homem rico e poderoso e será uma dona de casa perfeita! - arqueio a sobrancelha.
- Eu sou homem.
- Mas é delicado como uma garotinha! - pisca um olho.
- Ah, é? Vem aqui, praga! - corro atrás da garotinha.
- Ah! - vai para a sala. Sobe em cima do sofá, enquanto segura uma almofada. - Para, Akira!
- É aniki pra você! - gosto de quando ela me chama de irmão em japonês, é um costume nosso.
- Não! É onii-chan! - a pego no colo. Gosto ainda mais desse jeito de se referir a minha, que é como se significasse "irmãozinho" - Solta!
- Fale que sou masculino como um homem de verdade! - viro a pequena de cabeça para baixo.
- Nunca! Ow, vai descer sangue pra minha cabeça.
- Sofra, Natsu Kobayashi! Vou te fazer cócegas!
- Papai! - grita desesperada.
- O papai só vai chegar amanhã de tarde, não adianta chamar! - jogo a baixinha no sofá. - Vou voltar para a cozinha. Mas se fizer alguma gracinha, te deixo sem janta. - infla as bochechas. Tão bonitinha.
- Chato.
Termino de preparar a janta. Minha madrasta, como sempre, sumiu. Deve ter aproveitado que eu estava brincando com a Natsu e fugiu. Odeio essa vaca.
Quando a Natsu tinha apenas três anos, nossa mãe morreu em um acidente. A caçula sentiu falta da mãe, mas eu até que não. Sempre fui mais independente. Isso apenas serviu para me deixar responsável pela casa.
Anos depois meu pai se casou com a Carla, uma bela mulher, com cabelos longos e cacheados, corpo formado e um péssimo jeito de agir. Ela até tenta fingir gostar da gente, mas sei muito bem que preferia que não existíssemos.
Então, voltando sobre a morte da minha mãe, por isso que eu tive que amadurecer mais cedo. Me considero como o pai e mãe da Natsu, já que o nosso pai quase nunca dá as caras aqui em casa. E aproveitando que ele nunca está aqui, a Carla chifra ele à vontade.
- Natsu, vem comer. - chamo a pequena que está na sala vendo um desenho. Jantamos juntos e quando terminamos, limpamos tudo. Em seguida dou um banho nela, o que não é tão difícil. Só preciso ficar observando para ter certeza que ela não vai brincar em vez de se limpar.
Agora a ajudo com a lição de casa. É bem fácil para ela, então só fico olhando. Por último, coloco Natsu para dormir e lhe dou um beijo na testa.
- Boa noite, onii-chan.
- Boa noite, chibi-chan. - isso significa "baixinha."
Quando volto para o meu quarto e pego o celular, vejo que tem mensagem nele.
[Chat CGF] DaniSol09: Quantos anos você tem?
[Chat CGF] DaniSol09: Japa?
[Chat CGF] DaniSol09: Em todos esses anos nessa indústria vital, essa é a primeira vez que isso me acontece.
Dou risada da clara referência ao desenho do pica-pau.
[Chat CGF] DaniSol09: Vou te ignorar também.
Isso tudo é desespero por resposta? Esse deve ser solitário, coitado.
O que eu tô falando? Eu sou dez vezes mais solitário que qualquer pessoa nessa terra.
[Chat CGF] JapaDoce: Calma, tô aqui. Fui fazer a janta e dar banho na minha irmã.
[Chat CGF] JapaDoce: E eu tenho quinze anos.
Dez minutos se passam e nada. Nossa, ele ficou irritado. Já percebi que esse Danilo fica irritado fácil.
[Chat CGF] DaniSol09: Por que você faz essas coisas? E os seus pais?
Como estou com vontade de conversar, respondo logo. Não é como se eu tivesse algo melhor pra fazer.
[Chat CGF] JapaDoce: Digamos que aqui em casa as coisas sejam diferentes. Eu que cuido de praticamente tudo.
[Chat CGF] DaniSol09: Entendi. Mas sobre aquele assunto de antes: por que jogaram suco em você?
[Chat CGF] JapaDoce: Não gostam muito de mim, sabe. Acho que é porque tenho cabelo liso escorrido e meio sem graça.
[Chat CGF] DaniSol09: Mas cabelo assim é bonito. Você deve ser tão bonita com esse tipo de cabelo.
- Que fofo. - sorrio. Ganhei meu dia com esse elogio. Mas espera, ele me elogiou minha versão mulher! Que raiva!
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A distância de um coração
Ficção AdolescenteDanilo é como qualquer outro garoto de sua idade, animado, se diverte com seu clube de vôlei, namora algumas pessoas... entretanto, de uns tempos para cá, se encontra com uma pulga atrás da orelha: qual seria sua sexualidade? Até que um dia ele con...