Capítulo 17
Danilo
- Dani, vamos sair hoje? - Cíntia pergunta, animada como sempre, me atrapalhando de tomar a caixinha de leite. Essa menina não cansa de me perseguir não? Faz séculos que estou com essa carrapata indo atrás de mim por todos os lugares.
- Não. Vou treinar. - respondo seco. Treinar vôlei se tornou a coisa que eu mais faço. Está sendo um jeito de ocupar a minha mente com coisas idiotas, como meninas querendo ficar comigo mais de uma vez.
- Er? Mas não saímos nunca! Você parece que prefere vôlei do que eu. - dou um sorriso de lado e respondo:
- É, eu prefiro. - tomo um último gole do leite e jogo a caixinha no lixo. O leite que vendem na cantina é até gostoso, mas eu prefiro yogurt. Amanhã vou comprar yogurt, é bem mais gostoso e me faz sentir bem.
- Danilo, você é um idiota! - diz e sai correndo chorando. Já vai tarde, garota chata do caramba. E o que eu poderia fazer? Não estou mais com interesse de ficar com ela.
Incrível como as garotas são idiotas. Eu digo algumas frases bonitas, que já querem transar comigo. São fáceis de mais, por isso não tenho vontade de ficar com elas. Só tem uma pessoa por quem eu faria tudo, até largar o vôlei, mas não a vejo há meses. Acho que já faz quatro meses que perdi a minha razão de alegria. Sem aquele sorriso lindo e aqueles olhos puxados, meu mundo ficou sem chão. Não tenho mais vontade alguma de namorar outra pessoa que não seja a Japa, ou Natsu, que é o nome dela. Sinto falta das nossas conversas, de conversar por ligação, dar em cima dela. Tudo isso me faz muita falta. Apenas de que não tínhamos nada além de uma boa amizade, meu coração pertence a ela.
Aquela cena dela beijando outro cara, bem na minha frente, acabou com o meu coração. Ainda sinto como se meu coração tivesse sido arrancado de mim, quebrado em mim pedacinhos e depois colocado de volta no meu peito. Até hoje ele não cicatrizou por completo.
Sabe, não consigo aceitar que a Natsu terminou comigo daquele jeito, terminou tudo que nem chegamos a ter. Ela poderia apenas ter me dado o fora, fazer aquilo foi muita maldade. A Natsu nem se importou com os meus sentimentos. Pisou neles com força. E eu, um fraco apaixonado, não tive como aguentar o que aconteceu.
Eu também dei o meu pingente mais especial a ela. Só dei porque pensava que ela seria a minha namorada depois daquele dia, mas claro, me enganei muito. Se eu pudesse queria o pingente de volta, a Natsu não merece ele. Acredita que ela não me mandou mais nenhuma mensagem depois do que aconteceu na escola dela? Pois então, ela nao mandou. Nem ao menos uma mensagem perguntando se estava bem, eu não recebi. Foi muita mancada da parte da Natsu.
- Danilo, ei. Acorda. - desperto dos meus pensamentos e percebo que o Bruno está na minha frente. - Distraído.
- O que?
- Tem uma menina pendurada no telhado dizendo que se você não namorar com ela, vai se matar.
- Era só o que me faltava. - reviro os olhos. - Vai morrer mesmo. Tô nem aí.
- Nossa, você tá frio de mais. Tudo isso por causa da Japa?
- O que você acha? - franzo as sobrancelhas.
- Você tava mesmo gostando dela, sinto muito. Mas já fazem quatro meses, Danilo. Tá na hora de superar.
- Eu superei.
- Ah, tá. Eu já te peguei chorando escondido umas duas vezes, lembra? - fico vermelho de vergonha. Odeio lembrar das vezes que fui fraco na escola e deixei minhas lágrimas saírem. - Aquela idiota partiu seu coração de pedra.
- E se partiu, qual o problema? Vou ficar bem logo mesmo.
- Eu não gosto de te ver assim... até nós treinos seu desempenho caiu, tudo por causa de uma menina.
- O que posso fazer? A Japa foi a primeira menina de quem eu gostei. Primeira e última. Nunca mais vou gostar de alguém.
- Se você diz. - dá de ombros. - Mas vai mandar a menina não se matar, cara. Por favor.
- Que saco. - antes que eu vá, cedido pelo cansaço de ficar do lado do Bruno, Adrian se aproxima.
- Bruno, estava te procurando.
- Oi, amor. - O abraça. - Saudades?
Virei uma vela.
Adrian e Bruno começaram a namorar uma semana depois do que aconteceu entre mim e a Japa. Os dois parecem super felizes, mas um dia ou outro, o baixinho aparece mancando. Com o tamanho do Adrian, deve ser um sacrifício colocar dentro sem machucar.
Que nojo, eu imaginei. Agora vou ficar traumatizado por anos. Não consigo entender sexo entre homens, apesar de ser algo que tenho curiosidade.
- Acho que estou sobrando. Vou indo. - digo já enjoado de ver o amor do casal.
- Não, Danilo. Pode ficar. - O gigante diz. Como se eu fosse querer ver uma guerra de línguas.
- Tchau. - sigo meu caminho. Vejo um garota bonita, me olhando com cara de safada. Deve estar me querendo. Não vou chegar nela, já que eu nunca peço pra ficar com alguém. Se a pessoa quer, que venha pedir.
E como se ela ouvisse meus pensamentos, vem na minha direção.
- Danilo, né? - joga seus cabelos longos e pretos, fazendo um charme. Cabelos negros... Isso me lembra sabe quem? É, a Japa.
- Isso. - respondo sem dar tanta
- É solteiro? - se depender de mim vou estar solteiro por muito tempo, até superar a minha primeira desilusão amorosa.
- Sim. - não gosto de puxar conversa com alguém e também odeio quando a pessoa fica falando sem parar, sem perceber que eu estou estressado. Meu estresse está bem forte ultimamente, desde que perdi a minha Japa que estou assim.
- Quer ficar?
Realmente, eu sou um imã pra mulheres. Até sem fazer nada consigo uma. E foi assim que fiquei com mais de quinze nesses quatro meses.
- Por que não? - Vamos para um canto perto da entrada. Encosto na parede, abraço a cintura dela e começamos a nos beijar. Como sempre, não perco tempo e começo a crescer a mão até a bunda dela, apertando a carne macia. Mas também como sempre, não sinto nada com isso.
Fiquei com meninas na esperança de sentir tesão por elas, mas não funciona. Eu não acho graça. Não tem nada de interessante em apertar uma bunda ou peitos, sinto como se eu quisesse mais… uma outra coisa, talvez? Se eu não gosto de ficar com meninas, devo gostar de ficar com meninos, certo? Mas a Japa é a garota mais perfeita do universo, se eu estivesse com ela iria poder viver feliz, mas não, ela me rejeitou. Agora fico com meninas pelas quais não sinto atração alguma, estou quase começando a ficar com homens para ver se é isso que eu quero. Acho que minha mãe não se importaria do filho gostar de homens.
Enfim, é por isso estou sempre querendo mais e mais com as garotas. Coloquei na minha cabeça que se eu transar com uma, vou saber se gosto de mulheres. Só que tem um problema: eu me desespero quando vamos tirar a roupa e quero sair correndo. É muita pressão na hora do sexo. Eu quero tentar transar logo, mas aí bate aquele medo: mas e se eu não gostar?
Se eu não gostar, vai querer dizer que gosto do outro sexo. Não estou preparado se essa for a realidade. Em parte já estou aceitando isso, mas quando eu confirmar minha sexualidade, já era. Eu vou entrar em colapso nervoso.
- Danilo, o que foi? - a garota me chama e percebo que parei de beijar. - Algum problema?
- Não, nenhum. - a beijo de novo. Dessa vez pego nos seus peitos. São grandes, nada parecidos com os seios pequenos e delicados da Japa. Preferia muito mais estar beijando ela…
Não acredito que estou pensando nela. Danilo, idiota! Será que você poderia pensar em outras coisas? Já deu esse assunto da Japa, digo, Natsu.
Suspiro durante o beijo, não um suspiro de prazer e sim um suspiro de tristeza. Minha vida não faz mais sentido se a Natsu não está comigo. Eu… quero ela de volta.
Abro os olhos, procurando alguém por perto. Não gosto que me vejam pegando alguém, depois todos ficam me zoando que eu virei um galinha idiota. Encerro o beijo, querendo afastar a menina, mas antes que eu consiga, vejo uma pessoa pequena e de cabelos negros conversando com o Bruno no portão. Meu coração acelera tanto que sinto que irá sair pela boca.
- Chega. - Afasto ela.
- Não gostou? - pergunta manhosa.
- Não é isso. Só preciso fazer uma coisa. Tchau. - praticamente corro na direção da pessoa, sem me importar com a garota irritante. Quando chego perto, me escondo atrás de uma mureta. Escuto a conversa dos dois.
- Akira, que bom que você vai estudar aqui! Vai ser legal.
- Eu também acho! Mas sabe, ainda estou com medo por causa daquilo… - O... É um japonês? Ou uma japonesa? Ele me lembra a Japa.
- Não se preocupe. Se ele tentar te matar, eu te salvo.
Estou confuso. Não consigo entender do que eles estão falando. Resolvo sair dali, parando bem atrás do ruivo.
- Então...
- Danilo, da onde você surgiu?! - Bruno grita assim que me vê parado atrás do tampinha.
O tal Akira se vira meio assustado, mas logo fica sério.
- Só estou aqui.
- Danilo. - diz meu nome de um jeito que faz meu coração quase saltar pela boca. - Sou Akira Kobayashi, prazer. Espero que possamos nos dar bem.
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A distância de um coração
Genç KurguDanilo é como qualquer outro garoto de sua idade, animado, se diverte com seu clube de vôlei, namora algumas pessoas... entretanto, de uns tempos para cá, se encontra com uma pulga atrás da orelha: qual seria sua sexualidade? Até que um dia ele con...