Capítulo 3

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Danilo

Termino de ler a mensagem da JapaDoce. Leio mais uma vez, tentando achar sentindo nisso. Não tem sentido, vou ler mais e mais…

- Danilo, tá morrendo aí, é? - ignoro o comentário de um dos meus colegas de time. Eu deveria estar correndo um pouco, ou levantando bolas, não sei, qualquer coisa. Eu só não deveria estar no celular. Mas aquela vibração do aparelho me deixou curioso. Leio novamente por pura curiosidade, ainda tentando entender o que deu na garota.

O que essa mensagem quer dizer? Ela tá pedindo para que eu tome a cidade de gatinhos dela? Garota estranha.

Essa Japa é confusa. Primeiro destrói a minha cidade - tá, eu que comecei isso, mas releva - depois, praticamente me desafia para lutar pela cidade. Mais tarde, recebo uma solicitação de amizade sabe de onde? Do Free Fire, jogo que eu gosto de jogar quando quero matar alguém e não posso. Mas o do último foi bom, porque depois que vi a skin dela, percebi que estava conversando com uma garota.

Sabe, parece que ela quer me perseguir. Isso chega a me dar um calafrio. Odeio stalkers.

- Danilo! - É o Lucas quem me chama, me tirando de meus pensamentos sobre a garota. - Você tá muito distraído hoje.

- Realmente. - Agora é o Samuel vem até mim, colocando uma mão no meu ombro. - Está com algum problema?

- Tentaram tomar a sua cidade de gatinhos de novo? - lanço um olhar assassino para o maldito Thiago.

Esse maldito adora encher o meu saco. E depois que ele descobriu por acaso, que eu comecei a jogar um jogo de criança e para meninas, não me deixou mais em paz. É um saco. Qualquer dia vou quebrar a cara dele de tanta raiva. Parece que tudo para ele é motivo para me zoar.

- Ou será que tá pensando numa menina? - Bruno supõem. Reviro os olhos. - Nem vem de mentiras! Eu te vi sentado ao lado de uma garota do primeiro ano.

- Bruno, ela só sentou do meu lado. O que tem de mais nisso?

- Maldito Danilo! É um íman de garotas. - Lorenzo faz um dos seus comentários típicos, o que me irrita como sempre.

- Sou, claro que sou. - digo ironicamente.

Esses caras são os idiotas do meu time de vôlei no colégio Sol Poente. Agem como uma família às vezes. Eu mentiria se dissesse que não gosto disso, já que na verdade, isso é o que deixa os meus dias menos chatos. Mas sabe, tenho a sensação que na minha vida falta um pouco de emoção. Só jogar vôlei e estudar está me deixando entediado.

- Você atrai muitas meninas, maldito! Garanto que tá namorando! - Lorenzo puxa a minha orelha. Seus olhos cor de mel me encaram com um toque de malícia. - Seu safadão!

- Que saco! Me solta! - grito e automaticamente ele para. - Eu não tenho namorada, tá? Que merda.

- Ainda não achou a sua rainha perfeita? - aperto os punhos. Esse maldito Thiago vai tomar um soco se alguém não me impedir, vou deixar esse rostinho pálido roxo em poucos segundos. - Ou está à procura de um rei? - ri.

- Thiago… - dou um passo na direção dele, com os punhos fechados. Ele sorri com aqueles lábios finos e brancos, que parecem de uma pessoa doente. Me aproximo ainda mais irritado com sua despreocupação.

- Calma aí, Danilo! - Yago entra na frente. - Desculpe o Thiago, ele não fez por mal.

Tem dias que o Yago me irrita mais que o próprio cara pálida. Yago parece um cachorrinho que está doido para pegar o melhor amigo.

- Cala a boca, Yago. - esbraveja. Thiago não tem educação, trata mal até a pessoa que baba ovo nele.

- Já chega! - o capitão do time, Lucas, corta a conversa. - Todo mundo treinando cortadas. Formem uma fila na frente dos nossos levantadores.

Com isso nosso treino continua.

Faço os meus levantamentos, todos perfeitos e impecáveis, como sempre. Quando terminamos, damos uma pausa de dez minutos para recuperar o fôlego. Luna vem trazer uma garrafa de água para mim.

- Valeu.

- Disponha, Dani. - sorri.

Essa garotinha fofa é a Luna Monteiro. Nos damos até bem. Ela não se mete na minha vida e eu não me meto na dela, assim viramos amigos. Eu até deixo ela me chamar pelo apelido, coisa que não é muito comum eu deixar.

Eu desconfio que o Yago tenha uma quedinha por ela - por ela e pelo Thiago.

O treinador avisa que o tempo acabou e voltamos a treinar duro como sempre. Ele é um homem de uns quarenta anos, cabelos com a raiz branca e bem sério. Raras vezes o vejo rindo.

Finalmente o treino acaba e vamos todos para o vestiário tomar um banho.

- Nossa, Adrian, você é gigante em tudo mesmo. - escuto o Bruno dizer. Nem me viro para olhar, já imaginando ao o quê se refere. O Bruno adora fazer comentários maliciosos. Um dia ainda vai levar um murro do Thiago, que é o que mais odeia o tampinha.

- Bruno, não faça esse tipo de comentário! - a voz autoritária do Lucas faz todos ficarem quietos.

Tomo meu banho, depois vou de toalha até um dos bancos do vestiário e pego o celular.

Mando uma mensagem para a JapaDoce.

"Se você deixar eu tomo tudo mesmo. Mas me fala, o que foi?"

Não custa ser pelo menos um pouco atencioso com ela. É uma garota triste, não posso ser mau como sou com todos.

- Danilo e seus joguinhos. - O meu veterano se senta ao meu lado. - Isso tira seu estresse?

- Não sou estressado. - travo os dentes. Samuel ri, dando de ombros. Samuel tem um olhar carinhoso sempre, e seus olhos cor de chocolate remetem tranquilidade e responsabilidade. O que o deixa charme são as belas ondas negras que cobrem sua cabeça.

- Se você gosta, aproveite. Só cuidado com desconhecidos, okay?

Na nossa família do grupo de vôlei, é meio óbvio que o Samuel se tornou a nossa mãe. Uma vez eu levei uma bolada na cara e por isso meu nariz sangrou, então Samuel me ajudou a limpar o sangue e ainda ficou do meu lado até que eu dissesse que já estava bem. É como uma mãe mesmo.

- Escute o Samu, Danilo. Ele sabe o que diz. - dessa vez é o nosso "pai" que fala, se referindo ao melhor amigo pelo apelido carinhoso que só os do segundo e terceiro que podem usar. É como se fosse uma regra silenciosa.

Lucas é uma pessoa legal, mas muito bravo. Gosta das coisas certas. Se desobedecer ele, se prepare porque vai sofrer.

Também acho que esses dois dão um casal legal. Mas se são um casal, automaticamente já deram um amasso, então... credo, que nojo. Não dá pra imaginar dois dos meus veteranos dando um amasso, por exemplo, nesse vestiário. Só a imagem criada na minha cabeça me dá calafrios.

São um casal que ainda não são um casal.

Resolvo me vestir. É meio estranho ficar pelado com o Bruno fazendo comentários pervertidos sobre os nossos corpos. Uma vez ele teve a cara de pau de falar que eu tenho uma bunda linda. Nunca fiquei com tanta vergonha. Teve outras vezes que ele foi um tarado, como: o dia que comentou que com certeza o Lucas é o dominante na suposta relação com o Samuel. Também a vez que disse que o Thiago é pequeno no principal embora seja alto - esse dia eu ri como nunca em toda a minha vida, até assustei meus colegas.

- Dani. - e lá vem o Bruno, com a intimidade que não lhe dei. - Se você não arrumar uma namorada antes do final do ano, posso te apresentar o meu amigo. O que acha?

- "Amigo"? Não sou gay, Bruno.

- Cara, não se iluda! Todo mundo do time de vôlei gosta de rola. - fico vermelho.

- Eu não sou gay! - vários do time gritam.

- Um dia vão se assumir. - reviro os olhos e saio do vestiário sem dar ouvidos para o possível encontro que o baixinho quer marcar entre mim e um cara.

A Luna e a Aline estão sentadas nos esperando, já que elas são encarregadas de ver se está tudo organizado para que possamos ir embora.

Aline foi a primeira assistente do time. Essa eu tenho que admitir que é gostosa. Eu pegaria, mas dá muito trabalho flertar para no fim, correr o risco de tomar um fora. Já tomei tantos foras quando mais jovem que peguei trauma.

Vou para a minha casa. Minha mãe está na sala lendo um livro.

- Cheguei, mãe. - a tiro de foco do livro.

- Finalmente, Dani! - sorri. - Como foi a aula? - minha mãe é idêntica à mim. Somos ambos branquelos, cabelos castanhos claro e olhos azuis. A diferença é que ela é bem calma a maioria do tempo, diferente de mim.

- Normal. - deixo a mochila no chão, deito no sofá com a cabeça no colo dela. É bom ficar tão próximo assim da minha mãe.

Gosto da mãe. É como se fosse a minha melhor amiga, que sempre está comigo não importa o que aconteça. Mas claro, eu não conto tudo para ela, só o básico. Porque se eu contasse que quero quebrar a cara de algumas pessoas, ficaria de castigo por um mês.

- Sem problemas no time de vôlei? - adoro como ela se interessa sobre a minha vida.

- Tava tranquilo.

- E as meninas? - acaricia meu cabelo, fecho os olhos apreciando o toque dos seus dedos macios.

- O que tem?

- Namorando alguma? - me sento assustado. - O que foi, Dani?

- É que é estranho esse tipo de pergunta. Mas respondendo: eu não estou namorando.

- Entendi. Vou fazer a janta, qualquer coisa me chama. - vai para a cozinha sem me esperar dizer qualquer coisa.

Quando estou distraído, sinto meu celular vibrar. Chegou uma mensagem no meu celular da JapaDoce:

"É só umas pessoas que insistem em tornar a minha vida um inferno."

Coitada.

Subo para o meu quarto. Quero tomar um banho de verdade antes de responder ela. Aquela chuveirada no vestiário não me deixou completamente limpo. Entro no meu banheiro já me livrando das roupas. Preciso de uma água gelada nas costas para relaxar.

Enquanto tomo banho, fico com vários pensamentos na cabeça, como: o time de vôlei e namoro.

O time de vôlei está ótimo. Todos jogamos super bem, estamos sincronizados e logo vamos participar de amistosos. Isso é uma coisa que me deixa feliz.

E sobre namoro… é complicado. Eu já tentei namorar uma vez, mas era estranho. Eu não me sentia bem com a menina e o mais estranho, era que eu... Não conseguia ficar excitado não importava o quanto tocasse. Estranho, não? Acho que não curto mulheres. Eu até acho algumas gostosas, como a Aline, mas se a gente… ficasse, eu talvez não conseguiria ficar excitado.

Agora dou razão para o Bruno. Acredito que o nosso time seja todo do arco-íris.

Levanto a minha cabeça e deixo a água lavar meu rosto. Depois de um suspiro longo, saio do banheiro pelado mesmo. É bom ficar sem roupa.

Apanho o celular. Tem uma outra notificação do jogo:

"Você deseja abrir um chat de conversa com JapaDoce?"

Aperto que sim.

[Chat CGF] DaniSol09: Pessoas são um lixo mesmo. Mas não se importe, siga sua vida.

Aparece que ela está digitando.

[Chat CGF] JapaDoce: Difícil quando jogam um copo de suco de laranja na minha cabeça.

Arregalo os olhos. Coitada. Ninguém merece isso, é ruim de mais.

[Chat CGF] DaniSol09: Pessoa ruim essa. Dá um murro na cara dele.

[Chat CGF] JapaDoce: E depois ter eles atrás de mim? Valeu. Prefiro ficar quieto.

[Chat CGF] DaniSol09: Caras covardes. Como eles têm coragem de machucar uma garota?

[Chat CGF] JapaDoce: "Garota"?

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