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O desastre da sobremesa anterior me desanima, mas não o suficiente para não terminar e fazer a outra. Faço o brigadeiro com cacau e cubro as bases das duas tortas já devidamente assadas (pelo menos isso deu certo, obrigada deuses da culinária), depois coloco meu "creme" de limão em uma forma e a geleia de morango na outra. Tento por quase vinte minutos fazer uma flor com morangos, mas parece que hoje simplesmente não é meu dia. Desisto e coloco as duas tortas na geladeira do jeito que estão mesmo.

Não tenho tempo de respirar e as crianças chegam gritando na cozinha derrubando tudo que veem pela frente. Sim, eu amo crianças, não, eu não estou afim de cuidar delas agora. Mas parece que não importa o que eu quero.

Minhas irmãs sorriem para mim e vão embora. As duas vão na rua comprar presentes e eu vou ficar aqui com os filhos. E nem recebo por esse trabalho de babá. Elas dizem que vão me escrever uma boa recomendação para quando eu tentar ser Au Pair mas acho que recomendações de família não valem tanto e também é só algo que elas dizem para me fazer trabalhar.

A verdade é que nenhuma das duas iriam me apoiar nesse sonho. Não me deixaram nem sair da cidade para fazer faculdade, eu bem queria ir para a federal aqui de perto mas nããão, tinha que ficar em casa pra cuidar da mãe. Trabalhar pra pagar as contas. Então fiquei, faço faculdade a noite, trabalho em um turno e faço estágio no outro.

Minhas duas irmãs mais velhas são casadas, Julia e Jordanna. Julia tem três filhos, Lucas, Luana e Luiza. Jordanna tem gêmeos, Eduardo e Emma. Sim, nesta casa nós seguimos a regra de ter nomes combinando à risca.

Julia, Jordanna, João, Juliana e Joice.

Não sei como surgiu essa tradição, sendo que meu pai se chama Reginaldo e minha mãe Beatriz.

Bom, não vem ao caso agora. Deveria focar no fato de que as crianças estão jogando terra na cozinha que eu limpei essa manhã. Terra. Na cozinha. Onde comemos. Terra.

Tudo bem se fosse só Lucas, Luana, Luiza, Eduardo e Emma. Mas meus sobrinhos vieram junto, o que me deixa com o total de onze crianças entre 4 a 11 anos, loucas para brincar e sem nenhum brinquedo novo.

— Senhoras e Senhores! — falo alto para chamar a atenção deles e então faço uma reverência — quem gostaria de ouvir uma história incrível sobre uma princesa que tem que salvar seu país, mas não pode contar para seus pais o que está fazendo? — eles não parecem muito convencidos com minha performance, então reviro os olhos e sorrio — quem quer ver Frozen e cantar "lerigou"? — todos começam a gritar juntos e vão correndo para a sala da casa.

A sala não tem tamanho pra aguentar tanta gente, mas aguenta. É como coração de mãe, sempre cabe mais um. E já está cheia de colchões e almofadas, pois meus tios estavam dormindo aqui de manhã. Coloco todas as crianças sentadas e o filme pirateado na TV.

Aproveito que estão todas concentradas no filme que já viram no mínimo cinco vezes no último mês e ligo para Dudu, mas ele não me atende.

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