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— Ju... o que a gente faz agora? — Dudu olha para mim desesperado, na luz fraca ele parece muito mais vermelho do que provavelmente está. Tento respirar fundo e pensar racionalmente.

— Pega suas roupas e vai pro banheiro.

— Que?

— Vai logo.

— Juliana! O que você tá fazendo aqui sozinha? — é a voz de minha mãe. Não é a pior pessoa que poderia me encontrar aqui, essas seriam minhas irmãs, mas é muito perto disso.

Deixo o vestido da minha tia no chão e abro meu guarda roupa rapidamente, encontro o vestido que usei no casamento de Julia e começo a o tirar do cabide rapidamente. Quão mais rápido ela tenta abrir a porta e grita comigo sobre a ter trancado, mais rápido eu coloco o outro vestido.

Quando ela finalmente aparece no corredor estou metade vestida e provavelmente muito descabelada, mas sorrio e respiro devagar, tentando controlar meu coração.

— O que você tá fazendo aqui menina? Tá doida? — consigo ouvir a raiva e o desespero na voz dele, claro que ela não iria me acusar abertamente - até porque não conversamos sobre sexo nessa casa.

— To trocando de roupa. O vestido longo tava desconfortável.

— Trocando de roupa? Cadê o Eduardo? — ela já tinha percorrido a casa inteira com seu olhar mortal procurando o garoto para lançar seu raio da morte. 

— Tá cagando.

— Essa foi a educação que eu te dei?

— Tá no banheiro, mãe. Ele não queria ir lá na casa da vó, eu trouxe ele aqui e aproveitei pra tirar uma roupa que estava me incomodando. Tem problema?

— Não... — ela parece extremamente confusa, mas não pode negar que todas as evidencias apontam que eu estou falando a verdade. Vestido antigo no chão, vestido novo no corpo, Eduardo em nenhum lugar para ser visto, e a cama desarrumada não é nada muito diferente de qualquer outro dia. 

— Acho que misturar as duas ceias não deu certo pra ele não.

— Não te vi pegando carne.

— A Julia trouxe um pouco pra mesa e a gente comeu, cê sabe que eu não gosto de fila.

— É... pode ir lá agora que ainda tem coisa.

Eduardo sai do banheiro parecendo um pimentão e sorri envergonhado.

— Água, amor? — perguntou, parecendo preocupada e ele apenas diz com a cabeça que sim. Minha mãe se aproxima e começa a perguntar se ele estava se sentindo bem e se queria algum remédio. Acabo bebendo a água que seria para ele e me acalmo.

Ando de mãos dadas com Dudu por todo o caminho de volta para a festa, minha mão atrás de nós como um cão guarda observando e tentando notar qualquer sinal de fraqueza para me acusar de transar com ele. O que infelizmente não aconteceu. Quase posso ouvir o coração dele batendo na garganta, ainda ansioso com toda a situação.

Okay, pode não ter sido minha melhor ideia, mas não se pode culpar a garota por querer transar, não é mesmo? E ainda mais que seria nossa primeira vez, no Natal, juntos, seria tão romântico... Quem sabe e algum momento da madrugada ainda consigo realizar esses planos. A noite de Natal é longa e aqui em casa dura praticamente uma semana.

Subimos as escadas rapidamente e minha mãe fica no terceiro andar e tenta convencer as crianças a subirem, já são quase meia noite e logo iremos rezar e comer a ceia. Nem a perspectiva de comida tira os olhos delas da televisão e respondem agressivamente que estão vendo o especial de Natal do Lucas Neto e não vão subir agora.

Então é NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora