Me sento na escada ao lado de minha mãe e coloco a garrafa de café perto de nós junto com algumas xícaras. Duas irmãs de meu pai andam em nossa direção e enchem suas xícaras de café e saem falando mal de alguém, provavelmente um primo ou sobrinho. Não é nenhuma surpresa que gastrite corre no nosso sangue.
Joyce me olha feio de longe fazendo biquinho, provavelmente ainda chateada por eu ter puxado sua orelha e falado que se ela contasse pra minha mãe que dormi com Dudu eu iria contar que ela estava no grupinho ontem bebendo resto de cerveja do copo alheio. Posso dizer que ela não ficou nada feliz, mas apagou a foto do celular na minha frente.
Não sei de quem foi a ideia de dar um celular pra essa criança, mas eu deveria ter discutido mais na época. Nem eu tenho um celular que presta, e ela com um celular novinho que só usa pra fazer merda e ver desenho.
Eu poderia ter argumentado que na idade dela meus amiguinhos na escola usavam o celular pra assistir hentai, mas daí viria a discussão de como eu sei disso e eu prefiro me abster de comparecer nesses debates, à lá Salnorabo.
— Bom dia dona Bia — Eduardo se senta ao meu lado e mostra um prato coberto com guardanapos para mim, sorrindo como se estivesse me entregando o resultado da mega sena acumulada.
— Bom dia meu filho, conseguiu descansar alguma coisa essa noite?
— Um cadin.
— Esse pessoal não é louco assim sempre não tá, é no Natal que eles bebem demais e passam dos limites.
— E no Ano Novo, no carnaval, nas viagens de família, dia dos namorados, festa junina, halloween, Independência do Brasil, qualquer aniversário, qualquer festa, qualquer churrasco...
— Chega Juliana.
— Que-que-é isso aí? — aponto para o prato na mão dele, interessada.
— Ontem você queria tanto comer os doces, mas sempre que chegava perto da mesa acontecia alguma coisa, pensei que você gostaria de comer no café da manhã... — ele tira o guardanapo de cima do prato e revela o meu paraíso de Natal, várias rabanadas e alguns outros doces tradicionais da família.
— Quando você pegou isso?
— Quando você tava levando um soco na cara.
— Bom uso do tempo. Dividir e conquistar, tá certo — eu o abraço enquanto ele coloca o prato no chão, ao meu lado, e fico tempo demais encostada nele, pois logo minha mãe bate em minha coxa para chamar minha atenção.
— Lupita falou que vai se divorciar do seu tio, que não aguenta mais, ele tá tentando falar com ela com aquele papo merda de "o que a igreja vai pensar?'.
— Mãe!
— Que foi? Só você que pode xingar agora?
— Não, só achei estranho.
— E daí o que a igreja vai pensar, eles vão é pensar que ele tem um...
— Não quero saber! — a interrompi rapidamente com medo do que virá em seguida.
— Não viu o vídeo?
— Eu não mãe, e a senhora, viu porque? — levanto a sobrancelha e Eduardo transforma sua risada em tosse atrás de mim.
— Eu tô velha, mas não to morta né.
— E tá casada.
— Você com esse pensamento mais velho que eu — fico chocada com as falas dela, não que seja um comportamento completamente novo, mas ela está muito moderninha — enfim, Lupita mandou o vídeo no grupo da igreja, tá um escândalo.
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Então é Natal
RomanceO Natal é o feriado preferido de Juliana desde que se entende por gente, é completamente apaixonada pela decoração, músicas, a ideia de um velhinho bondoso que presenteia crianças, e, principalmente, rabanadas. Ju sempre sonhou em ser a anfitriã de...