02:30

150 35 23
                                    

— Não faz sentido Dudu, isso foi anos atrás, a gente era criancinha, se beijou pra treinar beijar outras pessoas, nunca mais rolou nem o assunto, seguimos nossas vidas, a gente mal se fala... — estava falando sem parar um segundo a minutos, me embolando nas lágrimas e no catarro, parada na rua na porta da festa, sentido o olhar de algumas pessoas em nós, mas se me importar muito.

— Ju, ele deve ter falado isso só pra te provocar — Dudu, que fez o maravilhoso papel de me tirar do meu choque, pedir pra minha irmã para me levar para tomar uma agua, falar quem eu tinha tirado como amigo oculto com um discurso fofo, mesmo não conhecendo a pessoa, e depois vido a minha procura, escutado meu choro com reclamações e literalmente limpado meu catarro.

— Mas agora todo mundo vai cair matando em mim.

— Não é você que tá errada.

— Não importa Dudu, se eu beijei eu to errada, se ele beijou é o campeão da família.

— Sinto muito que as coisas sejam assim, meu bem, o que eu posso fazer pra te ajudar? Quer voltar pra lá? Ficar aqui? Ir para minha casa? Quer gritar com ele? Quer que eu dou um soco na cara dele? — ele diz enquanto tenta me abraçar e eu tento me soltar para não sujar mais ainda sua camisa. Sorrio para ele e aceito seu abraço.

— Vamos só ficar aqui um pouquinho, ok? — digo, enquanto me sento no meio fio e ele me segue.

— Claro, amor.

Ficamos sentados um tempo, com ele fazendo carinho no meu braço e eu ainda chorando e reclamando de tempos em tempos, até eu estar quase bem e a vontade de comer rabanada ser maior que a vergonha de voltar para a festa quando ouço alguém vomitar. Instintivamente me levanto e começo a andar em direção ao som, Eduardo atrás de mim, sem dizer nada.

— Que isso gente? Vou chamar a mãe dele... — digo quando encontro meu primo de treze anos ajoelhado no chão vomitando tudo que comeu hoje e ontem.

— Não tia — as crianças começam a gritar e vir em minha direção.

— Tia chama não.

— Tia por favor.

— Você tá vomitando, tem que ver o que é isso, se precisar te levar no hospital... — chego perto do garoto para colocar minha mão em sua testa, mesmo sabendo que não é uma maneira eficiente de medir febre.

— Tia ele tá bêbado — alguém atrás de mim fala e eu não consigo esboçar nenhuma reação, apenas ouço Dudu tossir e respiro fundo.

— Ele ta muito doido — a garotinha do meu lado fala comigo, preocupada.

— O que?

— Ele bebeu demais.

— Onde vocês pegaram bebida? Ninguém viu? — começo a perguntar, percebendo o enorme número de copos de plástico no chão.

— Tia não conta pra ninguém.

— Por favor.

— A gente tava bebendo o que o pessoal deixou no copo quando tava todo mundo fazendo outras coisas.

— Aí ele bebeu demais.

— Entendi... — olho para Eduardo que continua tentando disfarçar o riso e se vira para o outro lado da rua — o que você tá sentindo?

— Só muita vontade de vomitar e tonto.

— Ele caiu aqui na rua.

— Tá, vamo lá pra casa? Não tem ninguém lá — ele faz que sim e Dudu aparece atrás de mim pegando a criança no colo. Não é uma criança tão leve, então a cena me deixa curiosa e com outros sentimentos inapropriados para a situação.

Então é NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora