— Ju? Ju você tá bem? — consigo ouvir alguém falando, mas minha cabeça está latejando e não me concentro o suficiente para entender de quem é a voz.
— Claudio, a minha filha podia ter caído da escada e morrido, olha as coisas que você faz — essa com certeza é minha mãe.
— Não queria acertar ela Bia, queria acertar a maldita da Lupita — quando acho que estou entendendo algo, não entendo mais nada. Minha cabeça ainda dói muito, mas tento abrir meus olhos.
— Maldita porque? Você que traiu ela.
— Eu não fiz isso!
— Não cresce pro meu lado não que eu te corto na raiz, todo mundo viu as fotos, ela mandou no grupo de Natal, eu mesma queria ter sido privada dessa safadeza, mas vocês insistem em fazer merda o tempo todo. Cada hora é um — minha mãe para de passar as mãos no meu cabelo e se levanta, indo em direção á meu tio. Tenho medo do que ela pode fazer, então começo a me levantar também.
— To bem. To bem — digo, mas logo minha irmã me puxa de volta para o chão e me olha com seu famoso olhar de reprovação.
— Ta bem ou ta falando que ta bem?
To tonta.
— To bem — respondo e começo a me levantar novamente.
— Aqui, bota esse gelo no seu nariz. Laura falou que não quebrou nada, só você descansar — minha irmã começa a me dar instruções e um pano gelado.
— Não foi exatamente isso que ela disse, descansa e se sentir qualquer dor na cabeça ou tontura vamos para o hospital, pois você pode ter uma contusão — Michael corre até nós para corrigir e minha irmã agradece muitas vezes.
— É, a mesma coisa que eu disse.
— Bia... — começo a chamar minha mãe, mas ela não me dá muita atenção.
— Vai, desce Juliana que vamos ter uma conversa de adultos aqui no terraço agora.
— Levar um soco na cara não me dá direito de ouvir essa conversa?
— Não. Vai pra casa dormir e leva seu irmão também, aquela coisa ta jogando vídeo game o dia todo, uma hora vai ficar cego de tanto forçar as vistas.
— Entendi, tô indo — me levanto e procuro Eduardo perto de mim, mas não o acho. Não consigo olhar muito longe, pois minha irmã começa a me empurrar escada abaixo, sorrindo, e depois volta para o terraço animada com o inferninho que vai acontecer ali.
Não entendi nada, ou entendi tudo, pelo pouco que ouvi parece que o pastor traiu a mulher dele no banheiro, durante a festa. E alguém filmou. E por algum motivo essa pessoa mandou isso no grupo da família.
Provavelmente deve ter sido algum dos meus tios, que não entendem o sentido de privacidade. Falar com a esposa dele, ok, até tirar uma foto para provar, porque Lupita é levemente cabeça dura e pode nem acreditar e achar que é zoação. Mas filmar, mandar no grupo da família? Isso vai ficar salvo no celular de todos para sempre. Pode ir parar em outros lugares. Pode ser divulgado pra além de nossa cidadezinha. Sinceramente, isso não se faz.
Com ninguém. Mesmo com o pastor que trai sua mulher na casa dela, no dia de Natal. Privacidade. Acho que isso é até fora da lei.
Mas não consigo parar de me perguntar com quem ele estava. São poucas minhas tias e primas que são solteiras. E da idade dele. Ou será que foi alguém da minha idade? Meu Deus, nem consigo imaginar algo do tipo.
Saio da minha espiral de pensamentos e entro na sala onde ainda estão jogando video games, olho para todos os cantos e nada de Dudu. Apenas Jão, gritando e cuspindo xingamentos do lado das crianças.
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Então é Natal
RomanceO Natal é o feriado preferido de Juliana desde que se entende por gente, é completamente apaixonada pela decoração, músicas, a ideia de um velhinho bondoso que presenteia crianças, e, principalmente, rabanadas. Ju sempre sonhou em ser a anfitriã de...