Capítulo 30 - Noah White

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Tudo estava escuro. Foi assim por muito tempo. Eu tentei procurar por alguma luz e, quando achava e ia de encontro a ela, algo me impedia. Algo não, alguém. Uma linda menininha de longos cabelos negros e olhos extremamente azuis.

A primeira vez que eu a vi, eu estava num corredor correndo o máximo que eu podia em direção a luz que vinha do final do corredor. Ela apareceu do nada na minha frente e quase a derrubei. Ela estava paradinha, pela claridade que vinha da aproximação da luz eu pudia ver seu vestidinho azul e o ursinho que ela segurava. No primeiro momento eu pensei que era a Snow e uma mistura de sentimentos me tomou mas quanto mais eu me aproximava dela mas eu via as diferenças entre essa menininha e a Snow.

Snow também tem cabelos longos e negros, mas a sua pele pálida e os olhos verdes são heranças de seus pais. Essa menininha não tinha a pele pálida da Crystal e nem os olhos do Antony, ela se parecia... comigo.

Ela me estendeu a mão assim que parei em sua frente, ela não tinha medo de estar ali no escuro, ela parecia estar me esperando. E, por mais louco que isso pode parecer, eu me senti aliviado de encontrá-la ali.

Das outras vezes que a luz se aproximou tanto de mim a mesma menina me puxava pela mão e me levava de volta para perto dela. Eu não fazia ideia de onde estávamos por um tempo até que a escuridão foi passando e tudo se tornando mais claro.

Eu não estava no que as pessoas acreditam ser o paraíso, não aquele onde se vai quando morre mas, para mim, isso era algo bem parecido. Era um extenso gramado verde claro com apenas uma árvore verde e robusta. Era nela que ficávamos sentados brincando com o urso da menininha.

Nesse lugar eu não sentia fome, sono, ou qualquer coisa assim, eu só me sentia incompleto. Parecia que algo me faltava, um pedaço de mim. Era por isso que sempre quando essa tal luz aparecia eu corria na direção dela procurando aquilo que me faltava mas... a menina nunca me deixava ir.

Ela era como o verão, o sol claro brilhava lá no céu mas não era quente, eu me sentia confortável usando meu terno. E eu nem sabia o porquê de usar um terno.

Aos poucos as coisas iam aparecendo. Algumas flores na grama vinham acompanhada de vozes, principalmente a da minha mãe e do Tony. Eu as reconhecia e queria procurar por eles mas o máximo que conseguia era novas flores no jardim. Eu estava começando a me sentir frustrado porque nada me fazia completo, nem mesmo as vozes e as flores, nada. Ainda estava me faltando algo. Até que eu ouvi a voz dela.

Eu não conseguia lembrar de quem era essa voz mas... eu simplesmente amava quando ouvia a voz. Me acalmava, eu me deitava na grama e aproveitava a voz. Mas ela sempre vinha pouco, era pequenos pedaços de felicidade que a voz me proporcionava. Não só a mim porque a menininha também parecia amar ouvir aquela voz.

Um dia, eu ouvi a voz chorar. Eu já tinha ouvido antes mas dessa vez mexeu comigo de uma forma diferente e, como se minha memórias tivessem dependendo disso, veio tudo à minha cabeça e eu me lembrei de tudo.

O julgamento, o tiroteio, o acidente... Tudo me veio a mente e aquilo me deixou inseguro, principalmente quando ouvi que a dona da voz tinha alguém fazendo por ela aquilo que eu não conseguia fazer. Eu queria gritar mas eu não tinha voz, queria correr de volta para minha vida mas a menina segurava minha camisa e não me deixava ir.

Então eu chorei. Pela primeira vez desde que tinha chegado naquele lugar eu chorei, porque não era mais suportável ficar longe de quem eu amo. Eu queria voltar, queria abraçar minha mãe, conversar com meu melhor amigo, brincar com a Ivy, trabalhar e olhar nos olhos da... minha tigresa.

Foi como um estalo, como um flash, e a voz ganhou forma, a forma da mulher mais linda do mundo inteiro, com olhos escuros, pele beijada pela sol, e cabelos longos que chegam a sua cintura. A dona da voz também é a dona do meu coração, dona desse cara todo errado que mudou, que a entregou seu coração. Ela. Lídia Woods, que em breve se chamará Lídia White porque eu, agora mais do que nunca, vou me casar com ela.

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