Os dias que seguiram depois que acordei do coma foram longos. Exaustivos. Demorados. Mas tão satisfatórios que compensava toda a dor que eu sentia.
Comecei com a fisioterapia ainda no hospital, tive que ficar mais alguns dias por conta da fraqueza dos meus músculos, e, tendo uma noiva médica, tive que seguir todos os procedimentos o mais rigorosamente possível. Mas estou feliz que segui os conselhos da Lídia já que estou bem melhor agora.
Na verdade minha noiva foi uma pequena ditadora comigo. Tão linda e rigorosa que quase pedi para voltar ao hospital nos primeiros dias que estávamos em casa. Mas eu sabia que ela fazia tudo aquilo por me amar muito e querer o meu melhor.
Ela tomou a frente de tudo, contratou o melhor fisioterapeuta do estado e um enfermeiro particular para me ajudar no começo. Montou um quarto para nós dois no primeiro andar do apartamento já que eu estava na cadeira de rodas ainda e comprou tudo que eu iria precisar. Lídia se tornou uma dona de casa não porque eu pedi mas porque era necessário.
Entendo que amor é isso, pensar no outro antes mesmo de si. Não algo destrutivo ou abusivo mas apenas por querer ver a outra pessoa feliz e saber que aquilo é o melhor para as duas pessoas.
Ela não me contou mas eu sei que ela foi suspensa do hospital por me operar mesmo que ela não sabia no início isso vai contra a ética do hospital. Ela não me contou ou se lamentou ou pediu a minha ajuda para qualquer coisa, apenas aceitou o seu novo trabalho e seguiu em frente.
Lídia não sabe mas ela é a mulher mais forte do mundo, ela suportou muitas coisas para chegar onde ela chegou e me machuca saber que ela teve que parar de fazer o que ela ama por minha culpa. Mas confesso que gosto de tê-la ao meu lado em todos os momentos.
Tem sido uma loucura, ela acorda enjoada e passa as primeiras horas da manhã tentando não vomitar demais. Eu a faço companhia mesmo que ela não queira muito. Ela fica deitada com a cabeça em minhas pernas até que se sinta melhor e levanta com o sorriso lindo e amplo para nos preparar o café da manhã. E, já que ela demitiu a Norma, ela o faz todos os dias.
No único achei loucura ela demitir a empregada mas é a casa dela, ela faz o que ela bem entender. E, se ela achou melhor assim, eu não sou louco de contradizê-la. Não quando os hormônios a deixam ainda mais feroz. Mas gosto de vê-la tão caseira como ela fica andando pela casa. Casa, aliás, que ela reformou em apenas uma semana, diga-se de passagem. Não é mais uma casa pura e fria, agora tem vida pelos cômodos, tanto pela nova decoração quanto pelas coisas espalhadas que ela deixa pela casa.
Eu gosto disso, de ver algo bagunçado, pode parecer loucura mas me dá a sensação de que não estou mais sozinho e literalmente não estou. Nunca mais fiquei sozinho nem por um minuto depois que cheguei em casa. Lídia ficou tão temerosa que me segue por todos os cômodos, até mesmo quando estou trabalhando no escritório ela vem e se deita no sofá para ficar lendo um livro sobre maternidade. E eu amo essa nossa nova rotina.
Depois de longas semanas de fisioterapia pesada, hoje não preciso mais da cadeira de rodas, uso apenas a moleta para me locomover pela casa. Meu fisioterapeuta, o doutor Dinny, disse que é bom andar, trabalhar meu sistema locomotor mas minha noiva morre de medo que eu caia e fica me rastreando por todos os cantos.
Ela está ainda mais linda, a barriga enorme a fez brilhar. Ela diz que o cansaço, o estresse e a bexiga pequena vale a pena ao saber que nossa menininha cresce saudável dentro dela. E eu fico apenas bobo a olhando. Grato e tão feliz que as vezes penso que ainda estou em como e isso tudo é apenas um sonho.
Quando a Lídia completou trinta e duas semanas decidimos que ela estava muito perto do parto e que não tinha necessidade dela fazer tudo sozinha e ela contratou uma ajudante. Uma de meia idade, muito bem casada e que era vigiada de perto por ela porque, segundo ela, ela não queria ninguém de olho no noivo dela debaixo do seu próprio teto. É novo e tão bom esse sentimento de normalidade e rotina familiar que fico emocionado.
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Nosso Contrato
Literatura KobiecaLídia Woods está acostumada a cuidar dos outros e colocar suas vontades para depois. Ela fica adiando tanto viver que acaba vendo sua vida passar pelos seus olhos como se não a estivesse vivendo. Tudo piora quando ela reencontra o homem que ela juro...