— Você parece cansada. - Rosa me assusta e ri — E distraída, pelo visto.
— É, aconteceu um acidente a uma hora atrás. - ela afirma
— Eu soube, estava colocando uma intravenosa num paciente que deu entrada por overdose. - eu afirmo
— É, um carro capotou. - eu entrego a prancheta com o relatório do caso —Não houve sobrevivente. - me dói dizer isso
— Dios mio. - ela diz ao ler o prontuário — Que tragédia!
— Sim. - eu respiro fundo — Quatro mortos, incluindo um bebê de seis meses. - eu engulo em seco ao lembrar das nossas tentativas em vão — A menininha tinha batido a cabeça e foi a única a chegar aqui com vida mas... - eu respiro fundo — Você sabe.
— Sei. - ela me encara — Acho que você pode tirar seu tempo de descanso agora, que tal? José está aí e ele pode segurar as pontas por aqui.
— Acho que vou aceitar. - ela sorri e tento fazer o mesmo
— Não fique achando que não percebi que você está mais abalada do que o normal, Lídia. - eu levanto uma sobrancelha — Eu te conheço, chica.
— Podemos falar sobre isso depois? - ela afirma e me despeço indo até a sala de descanso
Meu primeiro plantão do ano e já é o pior em meses. Claro que eu já perdi pessoas antes, as vezes chegam aqui tão mal que não conseguimos reverter o caso, mas perder crianças mexe comigo.
— Lidi. - a doutora Andrews me cumprimenta assim que eu entro na sala — Precisando de um descanso depois do último caso também? - eu afirmo e me jogo no sofá ao seu lado
— Como você lida com isso, quer dizer, você faz mais do que eu. Você é emergencista e fica na frente do que acontece, eu só entro nos casos da minha área mas vocês...
— Você também trabalha em outras áreas, Lídia, você é tão capacitada do que eu porque fizemos o curso juntas. - sim, depois de Harvard fiz um preparatório emergencial e conheci Polly Andrews, ela veio trabalhar aqui um pouco depois que eu — É sempre difícil perder um paciente e você nunca acostuma mas fica mais fácil com o tempo. - eu não acho isso
— Código Resus! - a voz robótica no auto falante faz a Andrews dá um pulo e correr para a saída sem se despedir, mas isso é normal dentro do hospital
Eu deito no sofá e coloco o braço sobre meu rosto. O sono está grande, o cansaço nem se fala, mas a saudade... É ela que está me deixando desse jeito. A falta que o Noah está me fazendo é inacreditável e, honestamente, eu não sei como vivia antes dele. Irreal, certo?
— Doutora Woods, emergência no quarto andar. - eu me levanto, pego meu estetoscópio da mesa e me apresso para o andar
Como um homem de vinte e oito anos acha que um galho de árvore poderia aguentar seu peso? Ainda mais com essa neve toda lá fora. É cada um que me aparece que me dá vontade de dar uma injeção só de raiva.
Uma criança aparece com a perna quebrada. Uma idosa com uma torção no tornozelo por escorregar na neve. Uma mãe que luxou a mão ao segurar o filho para não cair. Tudo isso antes que eu consiga parar para almoçar.
— Você parece com fome. - José aparece ao meu lado e me abraça pelo pescoço
— E eu estou mesmo.
— Vem, vamos até a lanchonete. - eu afirmo antes dele me puxar e caminhamos pelo hospital — Tenho que admitir que estranhei você aceitar ir almoçar comigo. - eu dou de ombros — Seu noivo não vai brigar por você ter aceitado, não?
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Nosso Contrato
ChickLitLídia Woods está acostumada a cuidar dos outros e colocar suas vontades para depois. Ela fica adiando tanto viver que acaba vendo sua vida passar pelos seus olhos como se não a estivesse vivendo. Tudo piora quando ela reencontra o homem que ela juro...