Capítulo 3

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"Ah, meu bem, estou enfrentando chamas só para chegar até você."


Treze horas haviam se passado desde que aterrissei na Alemanha, e lá estava eu, desfrutando de um delicioso café da manhã vegano típico alemão. O relógio marcava pouco mais de seis da manhã no horário local, mas o restaurante do hotel já estava bastante movimentado, uma agitação incomum para aquele horário.

Enquanto saboreava o café, me preparei para o dia agitado que tínhamos pela frente. Com o tablet na mão, organizei a agenda de entrevistas e compromissos da Billie, repassando mentalmente cada detalhe.

— Você tem uma entrevista às nove, outra às dez, e a última ao meio-dia. Depois, temos o almoço e a passagem de som às três da tarde, horário local — informei.

Billie me lançou um sorriso meigo, que carregava um pedido de alívio em meio à rotina intensa.

— E tempo para respirar? — perguntou, divertida.

Ri baixinho e respondi:

— Posso tentar arrumar um intervalo depois do show. Seu show termina por volta das nove e meia, então podemos adiar a viagem para Hamburgo para meia-noite. São só três horas e meia de ônibus. Está bom para você?

Desviei meus olhos do tablet e os levantei em direção ao seu rosto. Ela me observava com uma certa admiração, e, de forma curiosa, com fome — o que era estranho, já que acabara de devorar uma enorme taça de salada de frutas.

— Não saia mais da minha vida, Eva — disse Billie, com uma sinceridade que me pegou de surpresa.

A risada de Finneas ecoou pela sala, nos arrancando daquele breve momento de intimidade e nos trazendo de volta à agitação da mesa. Todos conversavam animadamente, mas eu só conseguia repetir em minha mente as palavras que Billie acabara de dizer.

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Durante a passagem de som, sentei-me na plataforma à frente do palco, revisando alguns detalhes de eventos futuros enquanto observava Billie cantar. Eu já a havia ouvido cantar diversas vezes, mas naquele momento, ela parecia ainda mais incrível. Cada nota, cada verso, transmitia uma emoção poderosa, e eu me permiti sentir tudo o que a música dizia.

Billie e Finneas riam e brincavam durante a passagem, mas a verdade é que, mesmo com o clima descontraído, o profissionalismo deles era notável. Após um tempo no palco com eles, decidi ir ao camarim preparar algo para Billie comer e separar algumas opções de roupas e acessórios.

Enquanto mexia nas roupas, Maggie, a mãe de Billie, apareceu com sua câmera em mãos.

— Vamos, Eva, para o meu arquivo pessoal. Me conta como está sendo seu primeiro dia? — disse, posicionando a câmera no meu rosto tímido.

Sorrindo, tentei responder de forma leve:

— Está sendo legal. Todos são muito divertidos, e a Billie não é uma chefe ruim.

— Eu sou péssima nisso, ficou bom? — acrescentei, rindo.

— Ficou ótimo, obrigada — respondeu Maggie, satisfeita.

Alguns minutos depois, decidi me afastar um pouco do agito. Fui até uma das escadas de emergência do local e me sentei ali por alguns minutos, observando o céu. Era por volta de sete da manhã em Los Angeles, uma boa hora para ligar para casa.

— Já disse que estou bem, mãe — repeti, pela quinta vez.

— Mas você não está mentindo para mim, né? — a voz de Marla, minha mãe, soava preocupada do outro lado da linha. — Se você não está gostando, pode voltar para casa, tá bom?

Suspirei, tentando não transparecer a mistura de emoções que me invadia.

— Mãe, eu estou amando, de verdade. — Houve um breve silêncio. — Posso falar com o papai agora?

Meu pai estava animado. Peter me perguntou sobre o avião, sobre a Alemanha, e eu me sentia feliz. Mas, assim que desliguei o telefone, a saudade de casa me atingiu com força. Não pude evitar os soluços que escaparam da minha garganta. Eu poderia dizer que aquele foi um momento triste, mas não foi, porque, logo em seguida, braços quentes me envolveram.

— Tudo bem? — a voz de Billie soou suave em meu ouvido.

Balancei a cabeça afirmativamente, já mais calma.

— Sim, é só que nunca fiquei tão longe de casa antes — confessei, ainda sentindo o conforto de seu abraço. Seu cheiro doce e familiar era reconfortante.

— Eu sei como é. Também sinto falta de casa, mas tenho a sorte de ter minha família comigo. Juro que sem eles eu não teria suportado — disse ela, ainda me segurando.

— Li que você passou por um período difícil no começo — comentei, querendo mostrar meu apoio.

Coloquei minha mão em seu joelho, como um gesto de conforto, mas o calor e a suavidade de sua pele me surpreenderam. Pelo modo como sua respiração ofegou, percebi que ela também havia sentido o toque.

— Sim, foi difícil... — Billie respondeu, mas seus olhos estavam focados na minha mão, e não no que dizia.

— Billie... eu... — comecei a falar, mas ela me interrompeu, levantando-se rapidamente.

— Tenho que me arrumar para o show. Mas se precisar de uma amiga, estarei aqui, a qualquer hora, ok? — disse, já se afastando.

Fiquei ali por mais alguns minutos, tentando entender o que tudo aquilo significava. Será que Billie achava que eu estava interessada nela? Eu estava? Eu não sabia a resposta.

                    Confissões de Natal

Era manhã de Natal. Eu tinha 13 anos e precisava contar algo à minha mãe. Estávamos sozinhas na cozinha, e o nervosismo tomava conta de mim.

— Mãe, posso falar com você? — perguntei, com a voz baixa, hesitante.

Marla olhou para mim e sorriu, oferecendo uma faca.

— Sente-se aqui e me ajuda a cortar as maçãs para a torta.

Sentei-me ao seu lado, tentando encontrar as palavras. Sabia que precisaria de coragem para dizer o que estava prestes a confessar.

— Mãe, eu gosto de garotas — soltei de uma vez, sem rodeios.

Ela parou de cortar as maçãs por um instante, processando o que eu havia dito, e respondeu com a maior naturalidade:

— Claro, querida, temos que gostar de todos.

Balancei a cabeça, frustrada por não ter sido clara o suficiente.

— Não, mãe... Eu gosto de garotas, tipo... atração sexual — expliquei, tentando ser mais específica. Sempre fui madura para a minha idade, e em casa, não tínhamos segredos.

Minha mãe me olhou com carinho, tentando entender.

— Mas e os meninos? Você não gosta deles? Pensei que gostasse do David da sua escola — ela perguntou com calma.

— Eu gosto, mãe, mas também gosto de meninas. A senhora está zangada? — perguntei, temendo sua reação.

Marla sorriu e segurou minhas mãos.

— Claro que não, Eva. Eu amo você, e sua orientação sexual não muda quem você é. — Ela apertou

Amor de perdição ( EM REVISÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora