Capítulo 19 - Sara Sued

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Vejo os raios de sol pela janela,mais um dia... Me levanto com meu jeitinho de sempre e sento na cadeira de rodas,não consegui evitar um fraco sorriso ao ver meu irmão dormindo na poltrona perto da "minha cama"

Acho que ainda não me apresentei. Meu nome é Olivia,há um ano me enternei em um hospital psiquiátrico,meus pais não queriam me deixar mas com um tempo aceitaram.

Eu sofri um acidente que me deixou paraplégica,os médicos disseram que foi um milagre eu ter sobrevivido,mas eu não acho pois esse milagre destruiu minha vida,pode dizer que sou fraca,mas é verdade,eu me separei de tudo e todos,me afundei em remédios e me isolei do mundo exterior. Meu mundinho era apenas meu quarto e minha pessoa,a pessoa que sempre estava comigo,era meu irmão mais novo Rafael...

Saio do meu quarto e ando pelos corredores do hospital. Estou rodeadas por pessoas deprimidas iguais a mim,sentamos uma vez ou outra em círculo e desabafamos,é legal. Mas eu sinto que estou sozinha,o som das vozes das pessoas ao meu redor entram em um ouvido e saem no outro,não propositalmente é que eu me perco nos meus pensamentos e me afundo na solidão que insiste em ficar em mim. Não sei direito o que acontece,sempre que me olho no espelho vejo a solidão que há nos meus olhos cor de esmeralda. Apesar de tudo estou sozinha neste vasto universo...

Depois de alguns corredores avisto meus amigos. A baixinha de cabelos curtos e pretos,Alice,talvez ela seja a pessoa de quem eu mais me aproximei. No início foi dificil,ela sofre de transtorno bipolar,uma hora ela pode ser a Alice,outra a Mônica... Eu sou amiga de todas as suas personalidades,dei um nome diferente a cada uma,ao todo são 7...

Percorro os olhos pelo grande salão onde estamos,vejo um par de olhos novos sorrindo enquanto falava com um psiquiatra.

O garoto parecia ter minha idade,17 anos,tinha cabelos castanhos escuros,olhos amendoados,sorriso cativante,covinhas perfeitas.

O que eu estou dizendo?

O sorriso dele parecia o próprio verão,quente,confiante... Não consegui entender o que alguém tão bem,bonito,confiante e com covinhas perfeitas estaria fazendo em um hospital psiquiátrico.

O menino se senta do outro lado do círculo que fizemos e seu olhar se cruza com o meu.

— Olivia? Quer começar hoje? — Meu amado psiquiatra,Jonh,me pergunta.

— Não. Hoje vou ser uma ouvinte. — Eu falo olhando para ele, ninguém ficou surpreso,eu falo poucas vezes no círculo e principalmente com esse "novato das covinhas perfeitas" não vou falar,não me sinto a vontade para desabafar na frente de desconhecidos tenham eles covinhas ou não.

•••

Depois que todos ou quase todos desabafaram,fomos tomar café da manhã. Eu fiz algumas descobertas,o garoto das covinhas se chama Rhys Wallace e ele veio de outro hospital,tem ansiedade e já não sofre mais de depressão,ele está livre pra sair do hospital quando quiser mais ele gosta de ficar no hospital psiquiátrico e ajudar os outros.

Assim que me sento no jardim para tomar sol,fecho os olhos e poucos segundos depois sinto alguém sentar ao meu lado.

— Já nos conhecemos? — O garoto das co... Rhys me pergunta.

— Não sei,acho que me lembraria de você se nos conhecêssemos.

— Seus olhos me trazem uma sensação familiar... Eles são lindos — Ele fala exibindo aquelas covinhas perfeitas num sorriso.

— Obrigado.

— E então moça,não vai me dizer seu nome?

— Você não perguntou moço.

— Qual seu nome? — Ele fala exibindo novamente aquelas covinhas.

— Olivia.

A partir dali nasceu uma bela amizade que eu nunca imaginei que iria existir,Rhys não era só como o verão,era como o mar também. Rhys Wallace conseguia arrancar de mim os sorrisos mais genuínos que eu nem sabia que conseguia dar.

Mas como tudo e todos.

Ele foi embora.

Um dia antes de sua viagem para Manhattan com seus pais ele veio falar comigo,não tinha covinhas dessa vez,nem sorriso,nem olhos brilhantes de alegria. Era só ele,estava triste assim como eu.

— Olivia?

— Sim?

— Você já deve saber que eu vou viajar amanhã...

— É,eu sei.

Ele me tirou da cadeira de rodas e me colocou no chão sentada na grama e depois se sentou ao meu lado,eu queria me abrir com ele,queria contar a ele tudo que atormentava minha alma e pertubava minha mente,queria contar a ele que que me sentia sozinha e ele foi minha salvação,que messes três meses em que nos conhecemos eu me senti viva como a tempos não sentia mesmo que me entupisse de remédios.

— Eu te amo. — Ele falou olhando para a lua,eu achei que estava sonhando porém o que aconteceu depois conseguiu me fazer acreditar que era tudo real.

Ele me beijou.

Logo senti lágrimas escorrendo pelo seu rosto e logo comecei a chorar também.

— Não me deixe sozinha,por favor.

Logo desabei em seus braços e não consegui aguentar,soltei tudo o que reprimi desde o acidente. Ele sorriu para mim e me abraçou. Foi o melhor abraço do mundo.

— Eu tenho que ir... Mas não vou deixar você sozinha,você nunca estará sozinha. Olhe Olivia,sendo sincero,acho que você devia dar uma segunda chance a si mesma é forte,bonita,inteligente... Quando te vi me perguntei o que você estava fazendo aqui. Tem uma coisa que minha vó costumava me dizer "Tudo de ruim que acontece na vida,é pra melhorar" eu acho que você devia viver, começar de novo... Eu comecei de novo e se nunca tivesse me dadoGente uma segunda chance eu nunca teria te conhecido.

Ele passou a noite comigo no jardim conversando. Choramos rimos...

Eu parei pra pensar nas palavras que ele me disse. Talvez outras pessoas tenham me dito isso mas só agora eu parei pra refletir.

No dia seguinte ele se foi.

Uma semana depois eu estava decidida a começar de novo,queria me sentir viva,ouvir as vozes de outras pessoas,queria viajar e sorrir,terminar minha adolescência,viver todas as experiências que podia e talvez,quem sabe encontrar meu garoto de covinhas por ai. Eu com certeza nunca irei esquecer meu primeiro amor,ele me fez enxergar o mundo ao redor com mais clareza,foi pouco o tempo que tivemos,mas foi o suficiente para acabar com a solidão em mim...


Texto escrito por:

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Sara Sued

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