Namoro de Mentirinha [COMPLETO]

Capítulo 66: Possuído

Estamos tomando café no restaurante, por sorte temos comida de verdade no térreo do hospital, lá em cima eles esquecem do sal de propósito.

Clarice permanece checando seus e-mails no tablet e fazendo algumas ligações enquanto bebe o chá distraidamente, seu filho está sentado sozinho em um banco nos fundos, queríamos fazer companhia mas ele nos daria um pontapé se insistíssemos muito. Eu estou com pena dele, quem diria... Faz dois dias que ele não abre a boca, seja para comer, seja para falar, me pergunto se ele faz o mesmo quando entra no quarto da Alice, mas é claro que não!

Sua mãe até tentou falar com ele, só que ele se trancou sabe-se lá onde, se fechou para o mundo externo, assim como Alice, às vezes me pergunto se eles não estão conversando por telepatia, o que é absurdo claro. Não me levem a mal, mas ultimamente estou sem muita opção para pensar...

Eu amo visitá-la, principalmente porque o médico dela é um tesudo, eu contei para ela baixinho, e pedi segredo, o Carlos não pode saber, ainda mais depois do que aconteceu entre a gente. Carlos está sendo um fofo comigo, todos os dias me pega para deixar e buscar na escola, e quando não volto para casa com meus pais ele mesmo faz isso, e foi em uma dessas idas e vindas rotineira que aconteceu... Onde minhas dúvidas foram sepultadas.

Hoje como é sábado não vou precisar ir para o colégio, é um saco assistir aula quando eu deveria estar aqui fazendo algumas anotações, eu sempre faço uma geral, anoto o nome de cada médico e acompanhante que passa por aqui, destacando suas qualidades e o que me chamara atenção em cada um deles, até ganhei um sorriso um dia desses, eu retribui, mas apenas isso, até porque, meu coração já tem dono. Desculpa, fica para próxima.

Fico imaginando como Alice reviraria os olhos se ouvisse meu relatório diário, é apenas para entretê-la, sei que ela acharia uma idiotice e que não perderia seu tempo, mas estou aproveitando cada segundo que ela não pode responder e lhe obrigando a escutar-me.

(...)

A noite chegou tão rápido, nem parece que estou trancafiada em um hospital, apesar de ter ficado um pouco triste pelo Carlos, ele não conseguiu uma brecha na empresa para o horário de visitas, quem achou bom foi o irmão dele, sempre quando alguém não vem ele fica com mais tempo, nem acredito que ele conseguiu tirar de mim os vinte minutos, eu era quem deveria ter ficado com mais tempo, afinal, sou a melhor amiga da paciente, mas ele e a mãe dela são imbatíveis, não tem como ser páreo para eles.

Fico com um friozinho na barriga quando chega uma mensagem do Carlos. Com certeza está na frente do hospital me esperando...

Neguinha, mil desculpas, vou falhar com você mais uma noite, as coisas aqui estão fora de controle, um verdadeiro caos, é épico para todos os meus funcionários me verem tão perdido, nunca fui de atrasar meu trabalho, e preciso ficar até tarde para tentar adiantar um pouco do serviço acumulado, amanhã serei todo seu no café da manhã. Boa noite minha neguinha!