A maldita carta

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Estava tarde e o calor me matava. Já estava na varanda com a carta e meu coração pressentia o que talvez não devesse ser lido.

Sentia medo das consequências, já que não sabia o que estaria escrito ali. De uma coisa eu tinha quase certeza, sabia que minha mãe havia escrito aquilo e que eu só sabia, por causa das minhas possíveis visões ou talvez porque havia sonhado.

Tentei relembrar de quando tive a visão do navio, e o que minha mãe tinha dito ao meu pai. Ele o pediu suplicando que não abrisse a carta até eu e meu irmão estarmos prontos. Prontos para o que?

A resposta não veio, e curiosidade foi ficando cada vez maior. Tentei me conter,  mas...

A carta já estava aberta.

Havia sido minha mãe que tinha escrito, e isso só confirmou que os sonhos que eu tinha poderiam virar realidade ou revelar algo sobre o futuro.

... 15 de Maio de 1995.

Para: katnis, Johnas, Matias e especialmente Bruno.

Espero que essa leitura esclareça algumas das dúvidas que reinam sobre a família. Gostaria de estar pessoalmente revelando tais segredos, mas não foi possível, pois meu...

A porta da varanda abriu e Cristina apareceu de camisola bem a minha frente. Tentei esconder a carta, mas era tarde demais.

- o que faz aqui Bruno? Já está tarde, não está?

- Não estava passando bem e decidi sair para tomar um ar...

- Entendi. Vejo que segura algo na mão? O que é?

Não sabia o que responder.

Talvez eu poderia ter dito que havia entrado escondido em seu quarto para pegar a tal carta que me atormentava, e ser morto. Ou poderia mentir e dizer que era um papel de ofertas de alguma loja da cidade.

Ao contrário disso...

- Aaaa, ehhh...

- Me de isso. Deixe eu ver...

- Me devolva isso Cristina.

- Hahaha só depois que eu ler exatamente tudo isso.

Eu tinha quase certeza de que havia uma maldição naquela carta, ou que deveria ter esperado mais para le la.

Nas duas vezes que peguei nela, me dei mal.

- Maldita carta...

- Aaaa, então é uma carta? (Disse cristina).

- Ops me ferrei. Cristina por favor, não abra.  Se meu pai pegar essa maldita...

Ela sorriu. Com a carta ja aberta, começou a soletrar as frases e quando ouvi o término da frase (não é seu filho) tremi.

Minhas mãos formigaram e a curiosidade se libertou de mim.  Cristina estava pálida e em um instante ficou boquiaberta e calada.

Aproveitei o momento e roubei de suas mãos o velho papel. Mas no momento que colei meu olho na primeira linha da carta...

- O que está acontecendo aqui? (Disse meu pai).

Cristina não respondeu e eu sabia que sobraria pra mim...

- An pai. Me desculpe mas...

Ele olhou em minha mão e logo caiu sentado. Não sabia porque ele tinha tal reação com aquele papel. Talvez seja porque prometeu a minha mãe que não deixaria ninguém ler antes da hora.

- Bruno, o quanto conseguiu ler da carta?

- Pai, na verdade não consegui, pois a Cristina pegou-a de minha mão. Mas acho que ela já leu o bastante.

Cristina ainda estava ali parada sem se mover. O que será que ela havia lido? Por quê estava tão apreensiva?

- Cristinaaaaa. (Meu pai gritou tão alto que minutos depois meu irmão apareceu na porta também).

- O que estão fazendo todos aqui fora uma hora dessas?

Ninguém respondeu.

Meu pai agitava Cristina com preocupação, mas não obtinha nenhum resultado.

Eu pensava apenas no que estaria escrito na carta. O que seria (não é seu filho) que deixara Cristina em choque; e meu irmão ainda tentava entender a tudo.

Cristina foi ficando corada e sentia que depois de alguns minutos ela já estaria bem e iria fofocar o que havia lido na carta.

- Amor, precisamos conversar... (Disse Cristina ao meu pai).

- Sim, precisamos! Mas antes me dê a carta.

- Tem certeza de que quer a carta?

- Você é surda? Passa logo a carta.

Meu pai pegou o velho papel e saiu da varanda rápido como um leopardo. Cristina o seguiu, e meu irmão ficou ali parado esperando a resposta da única pergunta que ele havia feito e ninguém havia respondido.

Ao invés de eu responde lo, pensava apenas na maldita...

- Maldita ...

- O que foi que você disse?

- Maldita...

Meu pai e Cristina discutiam. Podia ouvir os gritos da onde eu estava e a situação me preocupava.

- Mas juro que não li de propósito...

- Mentirosa! Tenho certeza que você leu de propósito...

- Matias, não! Não li...

- Me conte a verdade Cristina... Você leu a carta... Me conte até onde leu esta...

- Amor acredite em mim...

- Affs Merda. Desenrola logo que não quero algo mais trágico neste quarto.

Sentia que meu pai estava realmente fora de si. Mas porque? O que o deixava tão estressado?

Escutei um último grito no quarto e corri.

- Oh meu Deus. Pai o que você...

- Bruno não é seu filho... (disse ela ao meu pai).

- O que você disse?

- Bruno não é seu filho...

Sua voz ficou rouca e...  Ela se foi...

Meu pai havia jogado Cristina na parede e ela sangrava demais. Estava estudada no chão e agora nem se mexia.

Gostaria de saber o porque ele tinha feito isso, mas não deu tempo.

- Minha bombinha... estou ser ar...

Mais uma vez... Maldita...

Ela só havia provocado confusão até agora... no entanto era necessária...

Sabia que revelaria alguns segredos e desvendaria lendas sobre minha família, lendas que nem eu mesmo sabia que existia.

MAlDITA SEJA ESSA CARTA...

O amor contra o destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora